quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Somos fruto daquilo que lemos e aprendemos na escola...

Pobre é quem não lê...

Se não me engano foi Fernando Gabeira que disse certa vez que “ler pode ser algo muito perigoso”. Concordo com ele. A leitura é algo que de fato transforma as pessoas, e para outras, como políticos e pastores, por exemplo, estas mesmas pessoas podem se tornar muito perigosas, pois, poderão passar a exercer algo que é de extremo valor para o progresso humano: a crítica fundamentada! O questionamento daquilo que nos é imposto. Poderia dizer que até certo ponto, a prática constante da leitura, da busca pelo saber, pode acabar nos proporcionando uma sensação de liberdade e ignorância ao mesmo tempo. Talvez isto seja algo complexo. Quanto mais aprendo, mais tenho ciência de minha insignificância. Mas “sei que nada sei”. Karl Sagan, em “O mundo assombrado pelos demônios”, (que de demônio não tem nada, o livro trata de ignorância, analfabetismo científico, desconstrução de mitologias infundadas e somente baseadas no obscurantismo medieval, e outras mais recentes) nos apresenta sua visão a respeito da leitura e de alguns casos interessantes. Ele, que era de família humilde, e se tornou um dos maiores gênios da ciência do século passado, conta que apesar da “pobreza aflitiva”, seus pais eram leitores apaixonados, e que isto teria começado com sua avó, que após um negócio entre seu bisavô e um professor itinerante, que trocaram cebolas por livros, deu a oportunidade a ela de aprender a ler e transmitir isto a seus futuros filhos e netos. Há uma passagem em seu livro em que o mesmo diz que, “se crescemos num lar em que há livros, em que nos lêem histórias, em que pais, irmãos, primos, tios e tias lêem por prazer, naturalmente aprenderemos a ler”. Em outra passagem Sagan descreve um relato em que um senhor descobre que seu escravo estava aprendendo a ler. Isto se passa nos Estados Unidos por volta de 1820, período em que era proibido o acesso dos negros escravos a educação. A passagem diz o seguinte: “um preto deve saber apenas obedecer ao seu senhor - deve cumprir ordens. O conhecimento estragaria o melhor preto do mundo. Se você ensinar esse preto a ler, não poderemos ficar com ele. Isso o inutilizaria para sempre como escravo”. É uma passagem tanto quanto reveladora. Infelizmente, a maioria de nosso povo não teve a sorte daquele escravo. Não encontraram alguém para ensiná-los a ler. Não sabem o que é ler, e não conseguem entender a diferença que isto poderia lhes proporcionar. No caso do escravo citado, seu nome era Frederick Bailey, que após aprender a ler e não parar mais, hoje figura entre os maiores oradores, escritores e líderes políticos da história da Nova Inglaterra (Estados Unidos). Os livros mudaram sua vida. O transformaram. O engrandeceram. Deram-lhe o poder da argumentação. Das idéias. O fizeram enxergar muito mais além. Dizem que somos fruto daquilo que lemos, daquilo que ouvimos da boca de grandes leitores, ou não. No caso do nosso país, a resposta é não. Somos mais fruto da conversa que se desenrola ao amanhecer quando chegamos ao trabalho, e discutimos o futebol nosso de cada dia, ou os assuntos e as noticias veiculadas pelos programas sensacionalistas que infestam a televisão aberta, e por último, a particular e alheia vida do outro. Por que se todo mundo fosse filho daquilo que lê, o Brasil seria uma terra de órfãos sem pai nem mãe, vagando de um lado para o outro sem saber para onde ir, e “e sem nem ter com quem contar”. Para encerrar deixo uma citação de um ex- escravo romano do século I d.C., Epicteto, que livre, se tornará filósofo. Dizia ele que “não devemos acreditar nos muitos que dizem que só as pessoas livres devem ser educadas, deveríamos antes acreditar nos filósofos que dizem que apenas as pessoas educadas são livres.” Grande abraço.

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