segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Os primórdios de Macaé...


Os primeiros aventureiros que resolveram vir se instalar nesta região, por aqui chegaram na primeira metade do distante século XVI. A coroa portuguesa estava decidida a repartir as terras “dos povos indígenas”. Chamaram então de capitanias hereditárias os imensos latifúndios, que foram doados a pessoas próximas da Real Coroa, os apadrinhados do Rei, nobres e comerciantes poderosos dispostos a investir o que a coroa não pretendia gastar. Entre estas capitanias se encontrava a de São Tomé, onde hoje se encontra nosso município.


 Pero de Góis fora o beneficiado e recebedor da doação destas terras. Fundou uma povoação próxima ao rio Itabapoana, que a época era conhecido como Managé, construindo como era de costume, devido ao medo da morte, uma capela batizada com o nome de Santa Catarina, que teria sido uma homenagem a Rainha Dona Catarina, e não a nenhuma santa com este mesmo nome. Pura bajulação.
Pero de Góis não fez muita coisa por aqui. Trouxe de início mudas de cana de açúcar e algumas cabeças de gado, conseguindo viver inicialmente em paz com os habitantes que já se encontravam aqui antes de sua chegada, os que foram erroneamente chamados de “índios”. Pero, que chegara por volta de 1534, abandona a capitania em 1546, devido a conflitos com os indígenas “ferozes”, que na Europa chegaram a ter fama de infames, diziam alguns que estes índios caçavam até tubarões com lanças de madeira! As hostilidades dos indígenas se iniciaram devido a acordos não cumpridos pelos portugueses, já que palavra, para o indígena valia. Já para o homem branco...
Gil de Góis, filho de Pero, sucedeu o pai, mas renunciou em 1619, deixando a posse para a Coroa. A partir dai entram em cena aqueles que ficaram conhecidos como “sete capitães”, que teriam sido militares que empreenderam lutas contra franceses por volta da década de 1580, e que receberam estas terras como recompensa por serviços prestados. O nome dos sete capitães eram Miguel Aires Maldonado, Gonçalo Corrêia, Manoel Corrêia, Duarte Correia, Miguel da Silva Riscado, João de Castilho e Antonio Pinto Pereira. Estes vieram a região e a descreveram em um roteiro que ficou conhecido como o “Roteiro dos sete capitães”.  Estes não descreveram os indígenas como ferozes, pelo contrário, disseram que eram amistosos. Pouco tempo depois surgiria um conflito que não teria nada haver com os ânimos dos índios. O conflito se daria agora com os religiosos jesuítas, que solicitaram a Coroa portuguesa terras que se encontravam situadas ao sul das terras dos sete capitães, que ficavam entre o rio Macaé e o hoje Rio das Ostras. Os sete capitães já haviam instalados currais e outras construções, dando inicio a ocupação destas terras. As lavouras de cana foram posteriores a criação de gado na região. O então governador do Rio de Janeiro refaz a divisão destas terras levando em consideração o pedido dos religiosos, e nesta divisão surge um terceiro proprietário: ele próprio. As terras passam a ser divididas entre os Capitães, os padres e o próprio governador Salvador Correia de Sá e Benevides.
A ocupação desta região se efetiva dentro do período conhecido como “união ibérica”, em que estas terras estavam nas mãos da Coroa espanhola.  O rei da Espanha, temendo perder estas terras para ingleses, que pretendiam estabelecer povoações entre o Rio de Janeiro e o Espírito Santo, manda o governador geral Gaspar de Souza, que instalasse por volta de 200 indígenas em uma aldeia sobre o rio Macaé em frente à ilha de Santana, surgindo a partir daí um arraial que ficaria sob a jurisdição de Cabo Frio. Será instalado um Forte Militar com o nome de Santo Antônio do Monte Frio. As obras do referido forte se iniciam por volta de 1613.
Além do povoamento, iniciou-se também por aqui um trabalho que os europeus eram exímios em sua prática: a do assassinato de indígenas. Lá pelos idos de 1634, os jesuítas levantaram alguns currais, construindo núcleos de povoamento, que ficavam onde hoje é o bairro Aroeira, na época conhecido como fazenda Macaé, aos pés do morro de Santana, e o outro no bairro Imboassica, divisa com o município de Rio das Ostras.  Os padres tinham senzalas, paiol, lavouras, e um engenho nestas fazendas. Perderam-nas por volta de 1759, devido a sua expulsão arquitetada pelo conhecido Marquês de Pombal. Como podemos analisar, nossa História que se choca a todo o momento com a História geral do país, com suas idas e vindas, acordos e desacordos, conflitos, extermínios, genocídios indígenas aos montes, e elites locais manipulando, extorquindo riquezas, sempre visando o benefício próprio e de alguns outros apadrinhados sangue sungas (como diria nosso amado presidente). Enfim assim começamos, e em alguns pontos ainda permanecemos. Acho que sempre haverá mais continuidade do que rupturas...

domingo, 19 de agosto de 2012

Um encontro com "meu" passado...


Gosto de visitar lugares abandonados. Sempre podemos encontrar algo interessante nele. Já havia, quando garoto ido a este local muitas vezes. Há uma bela cachoeira perto. Íamos de bicicleta ou mesmo a pé. Muitas vezes fizemos isso. Eu e vários meninos e meninas de minha localidade. Perto eu sabia de um cemitério. Tinha certa curiosidade. Mas a cachoeira já ficava distante e diziam que o cemitério estava mais longe ainda. Ouvia falar do cemitério, mas minhas superstições de “menino” não deixavam que eu me aprofundasse na mata para encontrá-lo. Afinal, o que eu lá encontraria? Nada para um menino, provavelmente. Mas a ligação do nome dado ao cemitério (cemitério da fortuna) fazia despertar a imaginação:” e se algum túmulo estiver cheio de tesouros?” Fui até lá. Fui algumas vezes. Mas com outros olhos... Olhos de menino...


 
Alguns anos se passaram, e em determinado dia, já nos dias atuais, com meus "outros" olhos, novos olhos, retornei ao referido cemitério. O local conhecido como "fortuna" se chama oficialmente "carreira comprida". É O cemitério da carreira comprida. Terras que já pertenceram aos indígenas brasileiros, a Pero de Góis, aos sete capitães e a família Carneiro da Silva e hoje pertencem a Reserva Atalaia. Tirei junto de meu amigo e pesquisador Lairte Almeida, várias fotos, fizemos vídeos e tudo mais. Era apenas um local do passado... Locais que visitamos pelo mais puro prazer de estudar História.





Conversando com meu avô Pedro Grijó, perguntando a ele sobre o local, ele confirmou algumas questões e me surpreendeu com uma; Seu pai, Antônio Pereira Grijó, que chegara ao Brasil em 1861, vindo de Portugal, junto de seus pais e irmãos mais velhos, está enterrado neste cemitério. Meu bisavô chegara uma criança de colo com poucos meses de vida. A vinda desta família de imigrantes portugueses se dá num momento em que os grandes cafeicultores e escravocratas do Brasil se veem em um dilema: o que fazer agora que o tráfico de escravos com a África acabou? Trata-se de um momento em que vagarosamente começam a entrar no país a mão de obra branca e europeia. Esta imigração era tímida ainda quando meus antepassados aqui aportaram. No ano de 1870, por exemplo, chegaram ao Brasil oficialmente apenas 9.123 pessoas vindas da Europa. Esse número só tende a crescer a partir daí. Em 1887, véspera da abolição da escravatura chegam oficialmente 54.990 mil pessoas. Em 1888 já são 131.268 imigrantes desembarcados por aqui. Meus familiares vêm nos primórdios da imigração.



Ao chegar ao Rio de Janeiro se dirigem a Macaé, mais precisamente a Conceição de Macabu e por lá permanecem por muitos anos. Por volta da década de 1940, já com meu avô Pedro nascido, meu bisavô se muda para o atual distrito de Córrego do Ouro, onde viverá seus últimos anos e onde muitos descendentes vivem até hoje.



 Voltando ao cemitério, foi meu avô Pedro que explicou-me a localização que ele se lembrava do túmulo de seu pai. Retornando ao local, chegamos a esta lápide... Havia três iniciais: I.P.G.




 . Estas iniciais  possivelmente poderiam ser de Antonio Pereira Grijó, meu bisavô. Inicialmente achei que não, pois não identifiquei o A. Parecia se tratar de uma letra I. Verificamos que Era um metal quebrado, que desta forma ficou parecendo um I.




Olhando atentamente pode-se ver que se trata de uma letra A. A do Velho Antônio...  Consegui com minha tia Maria Cristina, uma cópia de uma foto do velho Antônio. No seu canto inferior direito havia o que faltava para confirmar minha suposição.



 Lá estavam três letras: A.P.G. Da mesma forma que colocado no túmulo. Era, dentre vários, o único que possibilitaria uma identificação. Há vários de seu lado. nenhum tem sequer uma letra. Foi um encontro com um “avô” que jamais conheci. Um encontro com uma parte das origens de minha família neste “mundo”. No “novo mundo” chamado Brasil.