quinta-feira, 26 de maio de 2011

  Uma breve História da escravidão: África e Europa.

Se há uma coisa que se encontra interligada no pensamento da maioria das pessoas quando se fala em escravidão, é a associação desta com a África e o homem negro, como se este sistema de trabalho tivesse se iniciado e somente existido por conta daquele, e naquele continente. Trata-se de um grande erro, que é parte integrante do imaginário da maior parte das pessoas. O fato é que a escravidão existe desde tempos remotos, e foi muito difundida na antiguidade, tanto na Eurásia, quanto na África. Na Europa podemos citar a Grécia antiga e principalmente o Império Romano, como povos que tinham este regime vinculado as suas práticas cotidianas. Sobre esta utilização de mão de obra escrava, e não especificamente negra na Europa, e um fato marcante na história da humanidade que fora a crise do Império Romano, Maestri revela que,

não foram as invasões bárbaras que puseram fim ao império romano. A produção escravista romana entrou em crise devido á sua incapacidade de evoluir, de pequena produção rural mercantil, para grande produção mercantil. A produção escravista romana foi incapaz de organizar, no fim do império, nas grandes propriedades nascidas da concentração da terra nas mãos de alguns poucos proprietários, grandes latifúndios agrícolas escravistas que produzissem mercadorias para o mercado.[1]


Esta produção escravista Romana não era necessariamente constituída por mão de obra negra africana. Boa parte da escravaria de Roma era proveniente da Própria Europa; logo, escravos não africanos.
Para termos uma ideia de como o comércio de escravos pode ter seguido um caminho diferente daquele que conhecemos, que se dirigia da África para a Europa, a informação de Maestri de que no começo do século XVII, cerca de 250 mil europeus viviam como escravos na África do norte é extremamente reveladora.[2] Esta afirmativa demonstra que o fluxo de escravos em determinados momentos da história seguiu caminho inverso, indo da Europa para África. Os gregos que também já utilizavam a escravidão, e esta se via inserida em seu cotidiano sendo definida por leis, tinham nas obras de seus grandes pensadores como, por exemplo, Aristóteles (384-322 a.C.) sua afirmação ideológica. Este filósofo em uma de suas principais obras nos diz que há na “espécie humana indivíduos tão inferiores a outros como o corpo o é em relação á alma... Partindo dos nossos princípios, tais indivíduos são destinados, por natureza á escravidão; porque, para eles, nada é mais fácil do que obedecer”.[3] Em “A política”, Aristóteles não faz menção ao negro africano. Este filósofo ao descrever a escravidão e o escravo, em nenhuma página cita diretamente o negro. A escravidão no mundo antigo e neste período em que este autor escreve se insere em um momento em que as relações entre estes continentes - África e Europa- ainda não haviam se estreitado.[4]Logo, a difusão da relação entre a África e a escravidão, assim como o negro e o cativeiro são criações “modernas”, bem mais recentes, que devido à legitimação de um sistema, fez-se necessário povoar o imaginário social com a “certeza” da aptidão dos povos africanos para o trabalho escravo e de sua “inferioridade” como “raça”.
Quando falo de criações modernas, não quero dizer que a escravização de pessoas naquele continente seja posterior ao século XVI. A ocorrência da escravidão na África é anterior a chegada dos europeus. O que ocorre é que a partir da intensificação dos contatos com os mercadores da Europa, este sistema será ampliado em uma escala superior. A escravidão na África, assim como em várias outras regiões do mundo, existiu por muitos séculos e razões diferentes. Os motivos para levar uma pessoa ao cativeiro poderiam variar de época e lugar. Em África, Inimigos derrotados eram convertidos em escravos, bem como pessoas endividadas ou condenadas por crimes.[5] Neste continente, ao contrário da Europa, os cativos eram a única forma de propriedade privada lucrativa reconhecida pelas leis locais. Diferentemente na Europa era a posse de terras a principal forma de propriedade privada geradora de lucros, e por este motivo a escravidão ocupava uma posição inferior.[6] Esta mesma diferença que colocava o escravo como forma de produção de riquezas, foi um dos fatores que levaram a disseminação da escravidão na África. Podemos dizer que África e Europa possuíam sistemas diferentes sem que se possa dizer que o sistema social africano fosse inferior ou retrógrado ao europeu, mas somente legalmente divergente.[7]
Entre estes dois sistemas, a escravidão clássica e a moderna, encontraremos mais diferenças do que similaridades, mas o cerne do sistema que era a privação de liberdade será uma constante em ambos.[8]
 A partir de 1650 o comércio de escravos na África tende a ter um maior desenvolvimento por conta da intensificação dos contatos com os europeus, que passam a forçar os africanos a exceder sua capacidade de fornecimento de cativos, num momento em que as colônias da Europa na América passaram a necessitar cada vez mais de mão de obra para sua produção agrícola nas regiões caribenhas.[9] Este aumento na intensidade do tráfico provocou uma diminuição demográfica no continente já no fim do século XVIII. O inverso desta diminuição fora a presença maciça de africanos nas Américas, que passaram a ter uma influência importante no desenvolvimento do chamado novo mundo. 
Esta presença fica evidente quando analisamos a economia americana, que teve como base na maior parte de sua história a utilização da mão de obra negra africana escravizada, que por conseqüência trouxe influências culturais que ajudaram a moldar a religião, a filosofia, a culinária, a língua e a própria aparência a partir da grande miscigenação ocorrida entre europeus, indígenas e os próprios africanos. A atuação destes como força de trabalho foi crucial para delinear sua influência no mundo atlântico. [10] Com relação a estas influências na cultura americana, Thornton nos diz que os africanos tiveram-na em grau superior a dos nativos da América.[11]
1.2. Os povos africanos na América
Com a chegada deste grande número de pessoas para trabalhar nas diversas “empresas” coloniais, os conflitos próprios de um regime que tem por pressuposto a violência e a negação do outro como ser, começam a se disseminar.[12] Quando se fala em conflitos e revolta escrava, logo pensamos em turba, desordem, fuga para longínquas paragens, canaviais queimando, e nos famosos ajuntamentos chamados quilombos, que existiram nos quatro cantos das Américas. Entretanto, durante o período em que vigorou a escravidão moderna, houve momentos em que os cativos se utilizaram da violência, e esta foi levada ao extremo, e outros que conseguiram encontrar soluções criativas para a resolução de seus problemas. As condições a que eram submetidas estas pessoas as levava a tomar variadas decisões em busca da recuperação de sua liberdade e da própria dignidade. O Historiador norte americano Stuart Schwartz analisou o viver escravo, a vida nos engenhos, as formas de resistência e as famílias escravas no Brasil. Para ele os novos estudos “tem pecado ao deixar em segundo plano a análise da vida no cativeiro, que segundo o mesmo, servia de pano de fundo para todos os seus atos e restrições a suas vidas.” [13] Além disso,

A variedade de requisitos para o trabalho era o elemento principal que determinava a natureza da vida dos escravos, pois definia os níveis de expectativa do proprietário e organizava as prioridades dos escravos. Em resumo, quem trabalhava na pecuária e vivia em relativo isolamento tinha oportunidades diferentes daqueles que trabalhavam em grupos nas minas de ouro ou daqueles que trabalhavam na lavoura de cana de açúcar.[14]


Ademais Schwartz argumenta que em determinadas áreas e tipos de produção a vida dos escravos era muito mais dura, e isto pouco lhes proporcionava com relação a expectativas de melhora. Diferentemente de escravos que viviam nas cidades ou locais em que a produção não exigisse um trabalho tão desgastante como, por exemplo, em uma lavoura de algodão. Estas especificidades influenciavam nas medidas tomadas pelos escravizados com relação a suas vidas. Alguns poderiam obter determinados “privilégios” e por conta destes, acabarem se acomodando com sua situação. No entanto estes casos não eram os de maior proporção, e isto levava estas pessoas a se rebelar.
 A mais conhecida das formas de rebeldia, e que realmente se destacou fora de fato à fuga e a conseqüente formação dos quilombos. Isto ocorreu desde a chegada dos primeiros africanos ao Brasil.[15] Os quilombos alarmavam e preocupavam as autoridades desde meados do século XVI, tanto que propiciou no ano de 1699, a isenção de punição para aquele que matasse um escravo fugitivo no momento de sua captura. No ano de 1701 os famosos caçadores de negros fujões, conhecidos entre outros nomes, como capitães do mato, recebem concessão que será regulamentada em 1724, um prêmio de seis oitavas de ouro por cada cabeça de negro aquilombado morto em combate.[16] Apesar destas perseguições e da violência a que eram submetidos os negros recapturados, os quilombos não deixaram de se reproduzir.
De acordo com Lima, os negros apesar de buscarem lugares de difícil acesso para se esconderem, não procuravam se afastar tanto assim, por necessitarem do contato com povoações para a aquisição de gêneros que não pudessem produzir. Os mesmos se utilizavam tanto de roubos quanto de negociações para esta aquisição. Quando se faz alguma referência a quilombos, a primeira coisa que nos vem à cabeça é Palmares e seu conhecido líder Zumbi. Este foi o maior de todos, tanto no que diz respeito à duração quanto à extensão e número de habitantes. Ainda segundo Lima, o mesmo já existia por volta de 1602-1608 e sua queda só se dará em 1694.[17] Moura nos diz que, “Palmares foi à maior manifestação de rebeldia contra o escravismo na América Latina e durante seu período de duração desestabilizou regionalmente o sistema. [18] Diferentemente desta opinião, Lima relata que os quilombos não ameaçavam o sistema, mas ocasionavam certo desgaste ao seu funcionamento causando-lhe sérios prejuízos materiais; não tanto por suas investidas contra os povoados ou por recursos desviados, mas pelo grande número de negros que mantinham afastados do processo produtivo.[19]
  O que estas pessoas buscavam era de fato uma reordenação no sistema ao qual estavam inseridas de forma extremamente desfavorável. Por não se conformarem com sua situação, buscaram meios de mudanças no rumo de suas vidas. Sabe-se que a condução do destino de uma pessoa escravizada é anulada ou reduzida ao limite, mas mesmo assim, em muitos momentos os mesmos conseguiram obter mudanças significativas em suas relações, e ajudar, mesmo que lentamente, a desestruturação do sistema escravocrata. Thornton nos revela que em condições difíceis,

sempre há pessoas, quer exploradas, quer privilegiadas, que não vêem como mudar ou melhorar sua sorte seguindo as regras do sistema. Essas pessoas procuram ir além das circunstâncias que a escravidão lhes impõe e exigem mais do que seus donos ou governantes estão dispostos a dar lhes por livre vontade. Esses descontentes eram os resistentes, os rebeldes ou os fugitivos. Cada um a seu modo e de acordo com seus próprios meios, procurava alterar o sistema e suas regras.[20]


[1] MAESTRI, Mário. Op.cit.p.8.
[2] Idem.p.10.
[3] ARISTÓTELES. A política. São Paulo. Editora Escala.s/d, pp.19.
[4] THORNTON nos diz que as intensas navegações no início do século XV levaram a interação de quatro continentes quando antes havia pouca ou nenhuma comunicação. THORTON, John Kelly. A África e os africanos na formação do mundo Atlântico, 1400 – 1800/Rio de Janeiro: Elsevier, 2004.p.41.
[5] MAGNOLI, Demétrio. Uma gota de sangue: história do pensamento racial. São Paulo: Contexto, 2009.p.195-198.
[6] THORNTON, John Kelly. Op.cit, p.123 – 125.
[7] Idem. Op. cit.p.127.
[8] FLORENZANO, Maria Beatriz B. O mundo antigo: Economia e sociedade (Grécia e Roma) São Paulo, Ed. Brasiliense, 1986, p.68-71.
[9] THORNTON, John. Op.cit, p.174-175.
[10] Idem, p.190-191.
[11] Ibdem, p.191.
[12] Utilizo o termo empresa, não como o que conhecemos hoje no mundo capitalista, mas na forma mais ampla da palavra, que pode significar empreendimento ou o que se empreende. Ver: Minidicionário LUFT, Ed. Ática, São Paulo, 2001, p.267.
[13] SCHWARTZ, Stuart B. Escravos, roceiros e rebeldes. Bauru, EDUSC, 2001, p.89.
[14] Idem, pp. 90.
[15] LIMA, Lana Lage da Gama. Rebeldia negra e abolicionismo. -Rio de Janeiro: Achiamé, 1981, p.17.
[16] Idem, p.28 - 29.
[17] Ibdem, p.30.
[18] MOURA, Clóvis. Quilombos. Resistência ao escravismo colonial. São Paulo: Ática, 1993, pp.38.
[19] LIMA, Lana Lage da Gama. Op.cit.p.33-34.
[20] THORNTON, John Kelly. Op.cit.p.355.
SOU FERNÃO CAPELO GAIVOTA...

Introdução

A história do Cristianismo, como bem sabemos, é marcada por inúmeras controvérsias, inverdades, plágios de religiões, de heróis mais antigos, assassinatos, luxúria, pedofilia e muita, muita insanidade. Obviamente que houve outros fatos não apenas de oralidade duvidosa. Existiram pessoas de boa índole neste meio. É também óbvio que este número é inferior aos gananciosos e desinformados seguidores do cristo. Segundo Jacopo Fo,

Viram-se sacerdotes que construíram comunidades de índios e morreram com eles quando os conquistadores católicos decidiram que se agrupar em comunidades igualitárias e não pagar impostos constituía um crime contra Deus e a Coroa. Existiram sacerdotes que fundaram cooperativas e escolas para trabalhadores, que organizaram caixas de assistência mútua e ajudaram judeus e ciganos perseguidos a fugir... Mas essas pessoas, que por dois milênios contribuíram enormemente para melhorar a condição humana e civil dos mais fracos, raramente faziam parte dos vértices da Igreja.[1]


Na verdade, o comportamento da maior parte dos religiosos passa bem longe de qualquer idéia de caridade ou amor ao próximo. Se fizermos uma análise minuciosa da bíblia, veremos que de fato, talvez, a maioria não esteja errada. Com exceção de alguns casos condenáveis dentro dos textos, como a homossexualidade, boa parte dos crimes cometidos por cristãos diariamente seriam aceitos e incentivados por deus. Logicamente que encontraremos passagens dizendo que matar não é correto e não deve ser prática. Mas, como os textos sagrados são cheios de controvérsias, encontraremos outras passagens que dirão que isto pode ser feito em vários casos e com o aval celeste. Sexo com as filhas, escravidão, submissão das mulheres, sermos todos iguais perante a deus (a bíblia discrimina os deficientes, que incoerentemente são criados assim pelo próprio deus. Seria um erro de sua parte, a ponto de ficar envergonhado e não querer a  presença destas pessoas ?), tudo isto é descrito nos textos bíblicos sem ser condenado.
Há momentos em que alguns bem intencionados cristão buscaram desenvolver uma vida diferente daquilo que viam ser praticada pelos líderes da igreja, que viviam no luxo, cheios de posses, enquanto que muitos fiéis até fome passavam. Estes, que buscaram novos meios de comunhão, se viam na iminência de serem perseguidos pela igreja. Um dos problemas é que buscar outra forma de encontro com o cristo, poderia por em xeque a missão da igreja, e conseqüentemente trazer-lhes certos prejuízos materiais, sem os quais, muitos padres e bispos não teriam sido tocados pelo poder da fé divina do cristo e não teriam abraçado a doutrina da religião.

Jacopo Fo nos apresenta uma visão destas situações conflitantes ocorridas há alguns séculos atrás, mas que foram recorrentes tanto antes quanto depois deste período. O autor nos diz que

No século X, começam a nascer em toda a Europa grupos de fiéis que pregam e aplicam a comunidade do bem, a fraternidade, e recusam a autoridade eclesiástica. Combatendo esses movimentos, as hierarquias eclesiásticas e nobres (que muitas vezes são a mesma coisa) se organizam para exterminar os habitantes de regiões inteiras, condenando os sobreviventes ao suplício público. Isto tudo apenas por terem apoiado a tese de que Jesus e os apóstolos não possuíam riquezas ou bens materiais.[2]


Logo, podemos questionar se o que realmente nos sobrou nos dias de hoje se trata realmente da doutrina cristã, ou de alguma coisa próxima, mas com menos escrúpulos possíveis?
Aliás, em se falando de riquezas materiais, a igreja católica é o supra-sumo dos poderosos e possuidores de bens terrenos. Deve-se enfatizar que a igreja hoje é apenas uma sombra do que fora no passado. Suas possessões chegavam a incluir metade das casas de cidades inteiras em várias partes do mundo. Quase ninguém possuiu tantos escravos enquanto durou a escravidão moderna. Veja-se, por exemplo, o caso de suas propriedades na América espanhola, como a cidade do México nos séculos XVIII e XIX, só para citar um exemplo. Abordarei estas questões em capítulos posteriores.
Tentarei fazer uma abordagem bíblica, fazendo comparações e relacionando os fatos ali descritos sempre que possível, com acontecimentos mais modernos na história humana. Não haverá delimitações temporais e ou espaciais neste texto. Apresentarei algumas contradições descritas nos textos sagrados, e como passam despercebidos para a maioria dos seguidores da palavra (que provavelmente só a seguem, sem ler sequer uma página).
Escreverei sobre a idéia de deus, seus ensinamentos, suas controvérsias e o comportamento cristão, buscando explicitar dúvidas que provavelmente surgem a qualquer leitor cético e que utilize como base em seus estudos a racionalidade e se permita o ato de questionar aquilo que lhe é colocado como verdade.  
A idéia deste texto não é a de apresentar respostas para dúvidas que muitos possuem, mas sim apresentar outros pontos de vista para que sejamos levados a questionar nossas certezas, e quem sabe, a partir daí, já sem medo, possamos ter um pouco mais de liberdade de pensamento e entendimento de como as coisas de fato funcionam (bem, assim eu acho).

1ª Parte
           
Bem, vou Tentar explicar da maneira mais clara possível os motivos que fazem ou que fizeram eu hoje ser uma pessoa sem crenças mítico-religiosas seja em qual for à divindade. Para muitas pessoas próximas isto é algo chocante. Talvez por desconhecerem aquilo que conheço. Talvez não tenham tido acesso as informações que eu tive, e por isso não consigam entender minha falta de fé naquilo que muitos possuem como uma verdade infinita.
Não sou o tipo de pessoa que tenha a pretensão de possuir alguma verdade pronta e acabada. Não acredito em quase nada do que vejo. Acho muita pretensão achar que podemos conhecer os mistérios do infinito, do tempo, da infinita imensidão do espaço. Pobres de nós...Sócrates já dizia:”só sei que nada sei”.E eu aprendi um pouco na vida a medir o tamanho de minha humilde ignorância...
Durante a maior parte de minha vida, acreditei existir um ser poderoso, que hoje fico meio sem saber como definir se bom, mal, ou como uma criatura cheia de defeitos humanos, que podem ser encontrados em qualquer pessoa, e que estão descritos no comportamento do deus judaico/cristão dos textos bíblicos. Deixar de acreditar e negar a existência desse ser não foi uma escolha. Não, não escolhi desacreditar. Tratou-se de um processo longo e confuso, cheio de medos e questionamentos, dúvidas uma atrás da outra, e por fim algumas conclusões que, estão sempre se reformulando, sempre ganhando novas formas, e a cada dia mais convictas, mas não de alguma certeza a respeito do tudo que existe e do que não existe, mas sim de algumas farsas não tão bem elaboradas, mas muito bem difundidas.
Não sei precisar muito bem de onde poderiam ter surgido os primeiros questionamentos a respeito da fé. Não me lembro. Lembro de sentir muito medo só de pensar no que estava pensando. Afinal, o deus de amor poderia me mandar para o quinto dos infernos quando soubesse que eu estava tendo alguma dúvida. Mas, se tinha dúvida, por que não esclarecê-la? Por que tenho eu que ter medo até do pensar? E por que deus tem medo de meus pensamentos aponto de me condenar aos infernos? Acho que se eu fosse deus não teria motivo para tanto temer. E se eu possuo a faculdade de questionar, ela me foi dada por ele, ou não?
Estava lendo o livro “não tenho fé suficiente para ser ateu”. Em seu prefácio há uma frase interessante a respeito da confiabilidade da bíblia cristã. Vejamos:
 Existem muitas provas conclusivas que garantem a confiabilidade das Escrituras, a autoridade da Bíblia como Palavra de Deus inspirada e a perfeição do registro bíblico dos eventos históricos que retrata, incluindo a vida terrena de Jesus Cristo. Há provas incontestáveis e convincentes de que o cristianismo é a única religião verdadeira, que o Deus trino que se revela em suas páginas é o único Deus do Universo e que Cristo morreu pelos nossos pecados para que pudéssemos viver.[3]

Esta passagem do livro é extremamente interessante para alguns questionamentos. Primeiro fala de eventos históricos com perfeição. Perfeição? Acho que há sérios enganos ai...
Existem passagens na bíblia de momentos “históricos” retratando a tomada de certas cidades, e que teriam passado as mãos do povo de deus. Há documentos egipicios relatando tudo ao contrário. Os egípicios tinham o costume de anotar e documentar todos os seus dados, tanto vitórias quanto derrotas. E suas provas documentais batem com escavações arqueológicas importantissimas, como a dos doutores Israel Finkelstein da Universidade de Tel Aviv, e Neil Silberman do Centre Archeological da Bélgica. Estes dois pesquisadores lançaram o livro “ a bíblia não tinha razão”, em que apresentam vários achados arqueológicos de décadas de pesquisas,e que colocaram por terra vários eventos ditos “históricos” dos evangelhos.[4] De acordo com os mesmos, a maior parte do que está na bíblia não pode ser considerado fato histórico. O genese e o êxodo por exemplo, “são relatos fundamentalmente não históricos. Eles narram o nascimento do mundo, e com ele, a epopéia de um povo que constituiu seu próprio mito de fundação em um momento no qual a idéia de unidade histórica, cultural e religiosa era crucial para sua sobrevivência”.
               
Se pararmos para analisar a maior parte dos livros bíblicos, encontrarmos contradições gritantes. Atos dignos dos maiores genocidas da humanidade. Muitos religiosos dizem que não podemos analisar as práticas daquele momento com a visão de mundo de hoje. Em se tratando de perspectivas históricas e humanas, concordo plenamente, mas quando se diz que aquele livro serve para os dias atuais, e que suas palavras provém de um ser dito “perfeito”, que de tudo sabe, e tudo vê, fica dificil aceitar esta argumentação. Eu diria que nesse caso é inaceitável tal desculpa. Afinal, ele é deus, e deus de amor e de perfeição. Não acredito que a escravidão ou holocaustos de crianças possam ser coisas válidas para qualquer que fosse a época. Por que, mesmo nestes longinquos momentos, havia pessoas que não concordavam com muitas das atrocidades bíblicas, e mesmo assim não eram deuses perfeitos.
GENÊSIS
O primeiro livro da biblia conhecido como livro de genêsis é o livro responsável pela descrição do surgimento de quase tudo que existe, com exceção de deus, que já existia. Neste livro encontramos alguns fatos curiosos e controversos, que a maioria dos religiosos apesar de sentirem intrigados, dizem ser “mistérios de deus”, que nossa simples interpretação humana não consegue compreender(?!). Marcelo Gleiser, físico brasileiro de renome internacional faz uma análise interessante a respeito do surgimento do planeta explicando-o a partir de mitos de diversas culturas até chegar a luz da ciência.
 Na maior parte destes mitos deus cria o mundo a partir do nada. Mas e antes? Antes deste tudo (ou antes deste nada). Antes de deus. Quem o criou? Ele existe desde o sempre? Sempre? Quando foi que o nada existiu? E o nada não é alguma coisa? Quem estava presente para fazer qualquer afirmação?São perguntas muito intrigantes, e que nos levam a muitos questionamentos quando paramos para refletir. A questão do surgimento do tudo, da criação do mundo, do universo são provavelmente perguntas que morrerão sem respostas para aqueles que querem mais do que simplesmente “acreditar”. A quantidade de mitos da criação surgidas ao longo de muitos séculos nos dá uma idéia de como nossos antepassados tentaram responder a estas perguntas a partir daquilo que “acreditavam”.
Estes mitos explicativos foram narrados em muitas línguas, por vários povos, alguns que já não possuem mais relatos que tenham sobrevivido aos dias de hoje. Mas, muitos outros ainda o possuem, e em muitos deles podemos encontrar muitas semelhanças.
Na Mesopotâmia antiga, atual Iraque, a criação era descrita como “uma vitória da divindade criadora sobre o caos, sendo o caos representado por uma deidade rival, um assustador dragão aquático, um monstro das enchentes.[5]
Podemos encontrar neste fato, por exemplo, grande semelhança com o mito bíblico da criação, em que o deus judaico-cristão cria a humanidade diante de todo o caos. Gordon Childe nos diz que esse caos bíblico que acabou separando o céu e a terra, nada mais era do que uma repetição, uma cópia do ocorrido na Mesopotâmia.[6]
 O mito Assírio que seria do ano 800 antes de cristo apresenta a criação do tudo a partir de um diálogo entre cinco deuses enquanto estavam sentados a conversar no céu.[7] Estes deuses representavam cada um determinado elemento da natureza: ar, terra, fogo, água e o outro que era o destino. Ao se combinarem deram origem a vida.
 A tradição dos índios Hopi que viviam na América do norte falava do surgimento do “tudo” a partir do infinito, do não ser. Gleiser no descreve este mito dizendo que “
O primeiro mundo foi Tokpeda. Mas antes, ele diz, existia apenas o criador, Taiowa. Todo o resto era espaço infinito. Não existia um começo ou um fim, o tempo não existia tampouco formas materiais de vida. Então ele, o infinito, concebeu o finito dizendo-lhe: eu o criei o primeiro poder e instrumento em forma humana. Eu sou seu tio. Vá adiante e perfile os vários universos em ordem para que eles possam trabalhar juntos, de acordo com meu plano.[8]
Como podemos ver neste mito criacionista norte americano, nossos antepassados em todas as épocas tentaram encontrar formas para explicar o surgimento da vida e do “tudo”. A pergunta, o olhar para o céu buscando uma resposta, trata-se de algo comum independente de lugar, época ou cultura.
Na bíblia judaico-cristã a criação é descrita de duas formas. Vejamos: Genesis 1,25, 1, 27 e 2, 18.
 Na próxima semana farei minha análise a respeito dos dois textos criacionistas do livro de Genesis. Até lá.


[1] Fo, Jacopo, TOMAT, Sérgio, MALUCELLI, Laura. O livro negro do cristianismo. Introdução.
[2] Idem, op.cit. p.13-14.
[3] GEISLER, Norman. TUREK, Frank. Não tenho fé suficiente para ser ateu.
[4] A bíblia e seu tempo. Documentário.
[5] MILLES, Jack. 1995.
[6] PINSK, Jaime. 1995.
[7] GLEISER, Marcelo. A dança do universo: dos mitos da criação ao Big Bang. São Paulo, Companhia das Letras, 2006, p.21.
[8] Idem, p.23.

sexta-feira, 20 de maio de 2011


Em entrevista, físico Stephen Hawking diz que ‘não existe paraíso’

Cientista de 69 anos sofre de esclerose lateral amiotrófica desde os 21.
Sem medo de morrer, ele diz que paraíso após a morte é 'conto de fadas'.

Do G1, em São Paulo
Um dos mais renomados físicos do mundo, Stephen Hawking causou polêmica em umaentrevista publicada no jornal britânico “Guardian” ao dizer que não existe paraíso após a morte. Hawking, que tem a maior parte de seu corpo paralisado pela esclerose lateral amiotrófica, já havia afirmado no passado que não acredita na existência de Deus.
Hawking foi condecorado com a Ordem do Império Britânico em 1982 e foi honrado com 12 doutorados honoris causa (Foto: divulgação)Hawking foi condecorado com a Ordem do Império Britânico em 1982 e foi honrado com 12 doutorados honoris causa (Foto: divulgação)
“Acredito que o cérebro é um computador que para de funcionar quando todos os seus componentes falham. Não existe nenhum paraíso ou vida após a morte para computadores quebrados; isso é um conto de fadas para pesssoas com medo do escuro”, disse o cientista.
Quando foi diagnosticado com a síndrome, aos 21 anos, Hawking foi informado que teria poucos anos de vida. Seus amigos tentaram o convencer a largar o doutorado que fazia na época. Hoje, aos 69 anos, ele diz não ter medo de morrer.
“Tenho vivido com o prospecto da morte precoce pelos últimos 49 anos. Não tenho medo da morte, mas não estou com pressa de morrer. Tenho muito que quero fazer antes”, disse ele.
Em 2010, o físico recebeu críticas de líderes religiosos ao afirmar que não existia a necessidade de um criador para explicar a existência do Universo. Na entrevista desta semana ao Guardian, ele disse que o “universo é governado pela ciência”. Como “conselho”, disse que a humanidade deve “procurar o maior valor para nossas ações”.
                                                                   Fonte:g1 globonews

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Qual a verdadeira idade de campos dos goitacazes?


Tendo sido elevada à categoria de cidade em 28 de março de 1835, a então vila de são salvador dos campos dos goitacazes foi a primeira a deixar de usar o nome de vila para ganhar o status de cidade no norte noroeste fluminense, região que antes pertencia a então capitania de são tome, ou seja, ela não foi desmembrada de nenhuma outra cidade e sim nascida dela própria, então como pode ter completado 176 anos? Já que outras cidades contam a sua data de nascimento a partir da criação de vila. Macaé, por exemplo, data o seu nascimento em 1813. Sendo assim campos que era a vila mais importante de toda a capitania, está mais nova de que suas filhas. Campos teria que está completando não 176 e sim 334 anos no dia 29 de maio deste ano, data de criação da sua vila, apesar de alguns historiadores discordar desta data. Julio Feydit nos fala em sua obra Subsídios para a história dos campos dos goitacazes que quando a vila foi criada, na verdade já existia desde 1653, veja este fragmento do texto do importante autor. ``Como se depreende da transcrição que fizemos da ata de 1º de janeiro de 1653, a vila de S. Salvador já tinha igreja matriz e a câmara funcionava regularmente. O general Salvador, tomando posse a 29 de maio de 1677 da vila de S. Salvador de Campos, e a 18 de junho do mesmo ano, da vila de S. João da praia, prometendo fazer duas vilas com igrejas e casa de câmara e 30 casas para moradores, fazia uma promessa falsa e dolosa, pois sabia que não havia necessidade de fazer o que já estava feito``. Conforme podemos observar, não da para dizer que nossa cidade tem só esses 176 anos.
Se levarmos em conta os fatos históricos aqui acontecidos, apesar de mais recente, já nos leva a questionar a idade de nossa cidade. Campos foi por exemplo, a pioneira na America Latina quando em 1883 foi inaugurada a iluminação elétrica, inclusive com a presença de D. Pedro ll, dois dias apenas depois de nova York. Podemos citar também o jornal o monitor campista que mesmo tendo encerrado suas atividades recentemente, era o terceiro jornal mais antigo do Brasil e temos também a livraria mais antiga do país. Querer negar a verdadeira idade desta que é uma das mais importantes cidades do norte fluminense é não dar valor a nossa história.
O começo de tudo! Por volta de 1530 veio para o Brasil uma embarcação com gente de confiança da coroa portuguesa para fazer a divisão das capitanias já que o país estava meio abandonado e sujeito a invasões, o responsável por esta divisão era Martim Afonso e com ele veio Pedro Góes da Silveira o nosso Pero de Góes, que era responsável pelas anotações durante a viagem. Na hora da divisão Pero que era homem de grande prestigio na realeza ficou com uma dessas capitanias tendo adquirido a carta de doação em 1536 e tomado posse em 1539.
A gigantesca faixa de terras doada a este fidalgo era pelo litoral do rio Macaé até o rio itabapoana em São João da Barra e pela região serrana entre algumas cidades podemos citar: São Fidelis, Itaperuna e natividade.
A primeira vila foi fundada na região do retiro (São João da barra) onde o donatário ergueu seu primeiro engenho e deu a esta o nome de vila Rainha, dando uma puxada de saco na Rainha Catarina, mulher de D. João lll. Durante quatro anos o português viveu em paz com os índios e teve até auxílio nas suas edificações, mas ao viajar para Lisboa em 1543 buscando mais recursos para que continuasse suas plantações, ao voltar encontrou tudo destruído pelos índios, tendo se ausentado até o capitão. Mesmo assim Pero deu continuidade ao seu objetivo, reconstruindo casas, aumentando as plantações e fazendo mais dois engenhos. Em 1546 os índios se levantaram novamente e dessa vez com conseqüências mais grave fazendo com que o donatário fugisse com seus colonos e abandonando tudo. Lembrando que os índios não eram hostis conforme se falam, eles apenas não aceitavam serem escravizados, e essa guerra se deu por causa do seqüestro de um chefe índio por parte de Henrique Luiz que apesar de receber o resgate, mesmo assim entregou o nativo a tribos rivais, provocando a ira de toda sua tribo.
Com a retirada de pero de Góes, essas terras ficaram abandonadas até 1570, posteriormente Gil de Góes então herdeiro de Pero tomou posse da capitania, mas não suportando aos ataques dos indígenas também bateu em retirada e com sua morte esta foi incorporada à coroa em 1619, até que em 1627 foi feita uma carta de doação em sesmarias aos sete capitães pelo então governador do Rio de Janeiro Martin de Sá. Tendo os sete capitães recebidos as terras por serviços prestados à coroa ajudando-a a conquistar capitanias. Em 1629 tomaram posse de suas plagas, mas só vieram fazer o reconhecimento pessoalmente em 1632 fazendo currais e se dedicando a criação de gado.
Até 1674 os sete capitães e seus herdeiros se aproveitaram desses campos, a partir deste ano numa negociação um pouco confusa na visão de Miguel Aires Maldonado um dos sete capitães, aparece uma das principais figuras de nossa região, o general Salvador Correa de Sá que consegue uma doação da capitania para seus filhos Martin Correa de Sá e João Correa de Sá. O primeiro ficou com a vila de São Salvador e o segundo com a vila de São João da praia, hoje São João da Barra. Começa o domínio dos assecas por quase cem anos. Este general foi quem deu nome a nossa vila, não é por acaso que temos a igreja de São Salvador. Tendo trazidos muitos escravos da África, Salvador e sua família não se hesitaram em traçar essa negociata envolvendo inclusive os religiosos que aqui se encontravam para se apossar das sesmarias dos ``heréus`` e começar a extinção dos nativos já que estes eram vistos como preguiçosos por não aceitarem serem seus serviçais. Contra esses coitados foram usados bebidas envenenadas, roupas com vírus e até arma de fogo até serem completamente dizimados, haja vista o desconhecimento de algum descente direto de nativos em nossa região.
Em 1753, finalmente a Capitania volta à mão da coroa, através do levante de uma mulher e ela se chamava Benta Pereira, considerada por muitos, como heroína, mas se analisarmos direitinho ela apenas estava defendendo seus interesses, já que era grande fazendeira e os assecas estavam usurpando todos os proprietários de terras com altos forais
Neste breve histórico temos uma pequena noção da importância de nossa terra goitacá, por isso deveríamos rever de uma vez por todas essa questão da idade de campos e passar a valorizar cada vez mais o nosso passado e com isso nosso patrimônio histórico que também é riquíssimo e ainda pouco explorado. É isso.
Lairte Almeida
             Poste de inauguração da iluninação elétrica em frente ao ministério da fazenda, milhares de pessoas passam aqui todos dias e nem imaginam o que significa esse poste cercado.
Qual a verdadeira idade de campos dos goitacazes?