quarta-feira, 29 de junho de 2011

Viva a marcha dos queimadores!!!

Vivemos um momento de revolta em alguns países, onde a população e bem mais inquieta do que nossa pacífica nação, porém está na moda atualmente marchar. Seja rumo a algum objetivo ou para impedir que algo aconteça.
      Ato que vem dando resultado, haja vista a marcha dos queimadores. Se você não entendeu vou tentar explicar: Se tem alguma negociação que não está andando, é só organizar uma marcha que tudo se resolve.
      Começamos com a marcha dos queimadores de dinheiro público. Políticos de nossa região que ao ver seu estopim proveniente do petróleo ser distribuído para todo país, logo trataram de fazer varias passeatas para defender o seu mingau. Deu resultado, e o assunto está adormecido por enquanto.
       Outro movimento que também deu frutos, foi a marcha dos queimadores da erva cannabis sativa, ou seja: a popular maconha que depois de ser bastante questionada se era liberdade ou apologia as drogas, a justiça bateu o martelo. É legal e é questão de tempo para ser legalizada. Agora todos pamonheiros podem fazer suas caminhas tranqüilas, inclusive com a escolta policial. Isso que é organização.
      Tivemos também a marcha dos queimadores de...de...de... deixa pra lá, cada um queima o que lhe é conveniente. O que não se pode negar é que deu certo e o casamento gay já é uma realidade em nossa pátria. Se é casal, família, liberdade sexual ou normal, sinceramente, ainda não sei, só sei que é uma existência e uma vitória dos GLBTs.
      Não podemos nos esquecer da marcha dos apagadores de fogo que através de suas caminhadas conseguiram se não o seu objetivo principal, mas avançaram nas suas reivindicações.
      Agora vamos falar da mais recente marcha que aconteceu em nossa cidade que por sinal é de uma sensibilidade extrema. A dos queimadores da cana de açúcar.
      Esta semana tivemos uma grande concentração de gente no centro de Campos dos Goitacazes em prol das queimadas da cana, já que a lei (PL569/11) estabelece que até 2024 seja erradicada totalmente esta prática agressora do meio ambiente, e há uma proibição do MP das usinas adquirirem cana com palha queimada, causando assim um grande desespero nos empresários do setor, já que vão ter que investir pesado em máquinas para o cultivo desta planta. E falou em investimentos, logo vem à cabeça do patrão diminuição nos lucros, e quem vai bancar seus carrões, mansões e muitas outras mordomias se tiverem de abrir mão dos seus trabalhadores quase sempre analfabetos e sem poder de negociação.
      Para se ter uma idéia da situação, segundo reportagem do jornal O Extra, um cortador de cana trabalhando em média 10h p/ dia, ganha entre R$20,00 e R$30,00, o que dá um salário mensal em torno de R$600,00 se o cidadão for bom no facão.
      Agora vamos pegar este salário e irmos ao supermercado e fazer uma boa compra para o mês inteiro. Será que dá? Estou falando de uma compra de uma pessoa normal e não só arroz e feijão, pois as diferenças sociais são grandes, mas as necessidades humanas e fisiológicas são exatamente as mesmas para todo mundo. Pois bem, porque estão tão preocupados com seus coitados serviçais? Nunca vi nenhum movimento da classe privilegiada em defesa desses trabalhados quando se trata de educação, profissionalização, saúde e inúmeras carências deste povo que pratica um trabalho semi-escavo em dias de abundância da nossa economia.
      Nosso país está com o risco de investimentos menor do que os americanos e a nossa região em pleno crescimento econômico. Não dá para se ter gente nesse trabalho desumano que só quem fez sabe o que é.
      Tudo bem que vão ficar gente sem trabalho, mas isto já era esperado e porque não houve uma preocupação antecipando o ocorrido, já que a questão ambiental vem sendo discutida há bastante tempo e não se faz uma omelete sem quebrar os ovos.              
      Mas a principal intranqüilidade dos empresários é que uma máquina custa em torno de R$500,000 e vão ter que contratar gente capacitada e essa gente custa mais caro, além de questionar certas ordens e discutir salários. Para um setor que não conseguiu se desgrudar da era escravocrata e ainda hoje acha que trabalhador braçal tem que ser analfabeto e submisso. Vai ser difícil se adaptar a essa nova realidade. O que não dá, é para acreditar que estão fazendo movimento em defesa dos pobres coitados, bancando o defensor dos trabalhadores inocentes. Que hipocrisia.
      Isso tudo nos faz refletir e tirar uma conclusão. Marchar dá resultado, e que tal esse pessoal que vão ficar sem seus sub-empregos, fazer uma movimentação em favor da educação e qualificação dos seus filhos. Tenho certeza que vão ter êxito, tendo em vista os acontecimentos recentes.
      Já é hora de abrirmos os olhos e cobrarmos das autoridades o que é nosso de verdade, mas fazer isto com nossas próprias pernas e não empurrado por alguém ou algum setor com interesses próprios. É isso.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Os ideais do Iluminismo

Acreditavam-se todos eles pertencer a uma só família, cujos membros espalhavam-se por Edimburgo, Nápoles, Filadélfia, Berlim, Milão ou Königsberg e, é claro, Paris. Eram os philosophes iluministas, escritores e livres-pensantes que organizavam-se ao redor de alguns dos mestres-pensadores da época, tais como Adam Smith, David Hume, Edward Gibbon, Diderot, o barão d'Holbach, Helvetius, o excêntrico filósofo Emanuel Kant e, evidentemente, em torno do "mestre" Jean-Jacques Rousseau e do seu rival , o "rei" Voltaire. Consideravam seus mentores espirituais os grandes pensadores do século anterior, tais como René Descartes, Isaac Newton e John Locke. Como em qualquer família, ocorriam desavenças entre eles. mas qualquer insinuação de prisão ou censura que pairasse sobre um dos seus integrantes, era o sinal para que os demais se mobilizassem na defesa do perseguido. Tornou-se célebre a afirmação de Voltaire que disse a um contendor seu: "Senhor, sou contra tudo o que vossa senhoria disse, mas defenderei até a morte o seu direito de dize-la".

A secularização da sociedade

Empenhava-se, essa estranha família de escritores das mais diversas nacionalidades, na propagação de um vasta e ambicioso programa comum: a secularização total da sociedade! Secularismo, humanismo, cosmopolitismo e liberdade em todo os sentidos, eram as bandeiras deles. O direito à liberdade de palavra, de expressão, de imprensa, também se estendia para eles à liberdade de comércio, à liberdade do empreendimento econômico, fora das intromissões da censura da Igreja e do Estado absolutista-mercantilista. Livres enfim, para que cada um, de acordos com os talentos nascidos ou adquiridos, encontrasse o seu próprio caminho de realização. Desprovidos em sua maioria de cátedras acadêmicas, tendo o púlpito e os padres como inimigos, quais foram os instrumentos que aquela confraria de homens de letras se serviu para difundir seus ideais e princípios? Porque, de certa forma, os Iluministas tiveram que buscar e ao mesmo tempo formar o seu próprio público. 

Para chegar até ele, para atingir o novo público cultivado (tanto de gente da nobreza como das classes burguesas) que gradativamente estava se formando na sociedade européia do século XVIII, recorreram intensamente à publicação e difusão de livros. Quando, devido à censura ou a uma queima judicial, recorriam à impressões clandestinas (feitas na Holanda ), depois as introduziam por contrabando em qualquer canto da Europa. Revelaram-se verdadeiros mestres em escrever panfletos, publicações que fizeram largo uso devido ao lado prático que eles tinham como veículo instantâneo de difusão de idéias. Daí boa parte da literatura deles, fosse em verso ou em prosa, estar carregada pelo estilo polêmico e apaixonado.
O homem culto do século XVIII é acima de tudo um grande escritor de cartas. Havia uma verdadeira arte da epistolografia, atribuindo-se somente a Voltaire mais de 50 mil cartas! Como sabiam que mais tarde haveria interesse em publicá-las, cuidavam do estilo e da apresentação delas, como se fossem páginas ou capítulos de livros futuros.

Por gostarem de trocar informações e colocar os outros integrantes da irmandade - la petit troupe - a par do que estavam fazendo ou pensando, elas, as cartas, converteram-se num veículo confiável, rápido, e, fundamentalmente, ao abrigo da censura. Tanto é que os americanos fizeram largo uso delas quando espalharam pelas Treze Colônias os Comitês de Correspondência, formados por ativistas da independência e simpatizantes da causa iluminista, entre eles, destacando-se acima de todos, Benjamim Franklin. Logo, pode-se afirmar que as cartas distribuídas pelos Comitês de Correspondência foram as sementes da Revolução Americana de 1776

Aliás, foi por meio de uma das suas cartas, escrita a Hélvetius em 1763, que Voltaire canta a vitória do partido das luzes sobre os partidários da superstição e do obscurantismo. Dizia ela: "Essa razão que tanto perseguimos avança todos os dias [..] Os jovens se formam, e aqueles que são destinados aos lugares mais elevados desfazem-se dos infames preconceitos que aviltam uma nação. Sempre haverá um grande número de tolos, e uma boa multidão de patifes. Mas os pensadores, mesmo em número pequeno, serão respeitados [..] Esteja certo que tão logo as pessoas de bem se unam, nada mais poderá detê-las. É do interesse do rei, e do Estado, que os filósofos governem a sociedade... Chegou o tempo em que homens como você devem triunfar [...] Afinal, nosso partido já vence o deles em matéria de boa educação."




A separação de dois mundos | A imprensa e o panfleto | Bibliografia


O Iluminismo


Leitura no salão de M.me Geoffrin, 1755 (tela de A.Lemonnier)

A imprensa e o panfleto

Apoiaram-se também os iluministas na imprensa. Editou-se muito no século XVIII. A tal ponto que o filósofo Hegel disse que a leitura diária do jornal "era a oração do homem moderno". Somente na América do Norte daquele século, estima-se me mais de dois mil títulos de jornais tenham vindo à luz. Mas o panfleto foi o veículo soberano da comunicação no Século das Luzes. Infelizmente perdeu-se a maior parte deles, mas Voltaire esgrimia com eles utilizando-os em suas célebres campanhas (pela introdução do teatro em Genebra ou em defesa da família Calais e no affair Sirven). Eram de baixo custo, fáceis de serem transportados e escondidos, e geralmente eram escritos em linguagem sintética e objetiva, que depois veio a ser a escrita comum de quase toda a imprensa moderna. Era também uma publicação democrática, pois atingia tanto o salão do aristocrata, como a taverna operária e o café do literato.
Salões & clubes

Ainda entre a elite pensante - formada difusamente por nobres liberais, padres dissidentes e livres-pensadores da mais variada procedência - foi importantíssimo os encontros realizados nos salões. Geralmente organizados ao redor de uma grande dama ,eles foram o centro da vida social e intelectual da sociedade no Ancien Régime. Os mais afamados salões foram os da M.me Deshoulières, da M.me. Sablière, da condessa la Suze e o da lendária Ninon de Lanclos, verdadeiros oásis de tolerância, espirito irreverente, acolhendo em seu meio ateus, deístas e libertinos. O constante intercâmbio entre seus freqüentadores, as leituras proibidas que realizavam em público, a troca de livros e idéias, o espirito livre e solto, fez dos salões um celebrado agente do Iluminismo. O salão de M.me. d'Epinay foi um dos que se tornou cenário para o lançamento de originais literários (e inclusive musicais) que eram submetidos previamente aos "árbitros das artes", que atuavam como um espécie de "porta-vozes do público", perante quem os autores ou compositores tinham por primeiro que legitimar-se.

Os clubes masculinos e as associações profissionais igualmente tornaram-se pontos de apoio importantes para propiciar o debate sobre as tendências do momento, formando, junto com a imprensa, o que se chamou de "esfera pública literária."
As lojas maçônicas

Acima de tudo, em importância para a história da difusão das idéias, pairaram as lojas maçônicas (a importância delas era tamanha que, já no século XVII, o filósofo Leibniz considerava a sociedade civil como um simples prolongamento delas) tornaram-se focos de ativismo político, de troca de panfletos e de elaboração de estratégias de combate na luta contra a superstição e o obscurantismo. Mirabeau, quando militava como um "irmão", redigiu um programa para a sua loja cuja finalidade "era a introdução da razão, da sensatez, da sã filosofia na educação de todas as ordens de homens."(Memoire, 1776). Schiller escreveu um belo poema (Freude) para ser cantado numa loja maçônica freqüentada por um amigo seu, e Mozart compôs a Zauberflöte,1791, a Flauta Mágica para atender uma encomenda de uma loja austríaca.

Tal como numa mascarada, a luz da razão era obrigada a esconder-se para proteger-se, desvelando-se aos poucos. Por primeiro apenas aos confiáveis, daí a importância dos salões, dos clubes e das lojas.
O tabernáculo de Frederico e
o despotismo ilustrado

Algumas cortes européias serviram por igual de abrigo aos iluministas. Especialmente conhecido foi o Tabernáculo que Frederico o Grande, da Prússia, montou na sua propriedade, em Saint-Soucy, convidando para lá uma elite de livres-pensadores. Lá estiveram o naturalista Maupertuis, La Mettrie, o perseguido autor do "Homem máquina" e o mais famosos de todos, Voltaire. Catarina II da Rússia tentou o mesmo com Diderot e José II da Áustria celebrizou-se em proteger os pensadores do furor da Igreja Católica. Os reis apoiaram os livres-pensadores na medida em que podiam servir-se deles para reformar os estados antes que uma possível revolução explodisse. E também faziam questão de protegê-los para fins publicitários, para terem uma boa imagem junto às classes culturas e refinadas da Europa de então. Por isso se entende que em matéria de política a maioria dos iluministas seguiu a Doutrina do Dr. Johnson, favorável ao despotismo ilustrado. Porém, historicamente, a agitação e a insubordinação aos costumes e a crítica à religião que abertamente a maioria deles praticou, fez com que, ironicamente, os iluministas fossem tidos como os arautos da democracia moderna.

Frederico, o Grande, encontra-se com Voltaire (gravura de N.Monsiaux)


Os cafés

Mais democráticos do que os salões (que reuniam a nobreza e a elite pensante), os clubes (que congregavam os profissionais) e as lojas (dos maçons), foram também importantíssimos os cafés. Espalhados pelas cidades e pelas principais capitais da Europa e mesmo da Nova Inglaterra, esses estabelecimentos eram o salões das classes médias, dos jornalistas e dos escritores iniciantes, abrigando a efervescência e a inquietação provocada pelas novas idéias. Em Paris, um dos mais famosos foi o La Coupolle, o favorito de Voltaire, e em Milão, atraiam as presença de nobres como Cesare Beccaria e dos irmãos Pietro e Alessandro Verri, que inclusive lançaram um periódico com o título de "Il Caffè", para defender a tese da abolição da tortura. No jogo dos símbolos importa observar que a Era da Taberna, associada ao álcool e à embriaguez, que dominou inteiramente o século anterior, o XVII, deu lugar no século XVIII à Era dos Cafés, estimuladora do espirito e da palavra ágil, contestadora.

O café encerrava o que podemos chamar de o circuito da opinião pública do Século das Luzes composto, como viu-se, pelo salão, pelo clube e pela loja maçônica. O conservadorismo das universidades e o reacionarismo das igrejas, graças à intensa censura e à repressão constante, procuraram impedir que as novas idéias atingissem os estudantes e os paroquianos, mas com isso permitiram, sem assim o desejar, que um outro publico se formasse a revelia dos acadêmicos e dos sacerdotes.
A opinião pública

Numa conhecida tese (Mudança estrutural da esfera pública) defendida em 1961, o filósofo Jürgen Habermas mostrou que o conceito de "opinião pública", tal como hoje se conhece, nasceu no século XVIII. Comprova-se isso, segundo ele, pelo fato de que a palavra publicité (öffentlich em alemão) começou a ser empregada, contraposta à autoridade, a partir daquela época (resultante da dilatação da sociedade civil que, com a proliferação dos salões, dos clubes, dos cafés, das livrarias e das lojas maçônicas, criou um espaço de emancipação para os burgueses), abria seu caminho devido à expansão comercial e industrial, e à crescente amplitude da mercantilização das coisas. O surgimento dela, da "opinião pública", deveu-se substancialmente ao crescimento da vida urbana, ao aumento do número dos leitores, e ao impacto causado pela revolução da sociedade civil inglesa do século XVII. Locke, o grande filósofo patriarca do Iluminismo, quando galgou para a direção do College Christ em Oxford, colocou a Law of Opinion, a Lei da Opinião, como que equivalente à lei divina. Dessa forma, além da opinião da corte e da opinião do clero, predominantes e absolutas nos tempos feudais, forjou-se a opinião pública como representante ainda que difusa dos interesses gerais do Terceiro Estado e, por vezes, da sociedade como um todo. Inegavelmente a "opinião pública" mostrou-se cada vez mais permeável às idéias Iluministas, por todas as razões expostas acima. Quanto ao povo em geral, grande parte ainda analfabeto, era atingido, e por vezes mobilizado, pela propaganda das luzes graças aos affriches (panfletos) que eram distribuídos ou lidos em voz alta nos lugares públicos. 
Fonte: educaterra.com

domingo, 12 de junho de 2011

          O problema da fome
Sentir fome é algo que no caso de muitos de nós que temos acesso a tecnologias como esta aqui, é algo que produz até uma certa “alegria”.  Sentimos fome e logo pensamos no que comer, não porque não teremos o que comer, mas por conta de uma razoável variedade de oferta de alimentos em nossas mesas. Basta abrir a geladeira, ir a um fast food e pronto; fome saciada e até certo enjôo por conta, em muitos casos, termos comido demais. Assim se dá com muitos de nós.
Ma a realidade de alguns milhões de pessoas é bem diferente. Muitos não possuem o privilégio de passar por isso; de ter a mesa farta na maior parte do tempo.  Muitos são os que morrem de fome, ou nascem com deficiências por conta desta.
De acordo com dados do UNICEF, cerca de 20 milhões de crianças nascem por ano com deficiência mental, apenas por conta da falta de iodo. Entre as mulheres são cera de 50 mil por ano mortas por deficiência de ferro. No caso do Brasil, são cerca de 280 mil deficientes mentais nascidos a cada ano por falta de boa nutrição. A morte prematura leva cedo 20 mil crianças a cada ano por falta de vitamina A.
Como resolver este problema? É falta de alimentos? Desperdício? De acordo com o pesquisador Ricardo Veloso os dados do desperdício são os seguintes:
20% é de perda no plantio; 8% perda no transporte e no armazenamento;15% na indústria;1% no varejo; e 17% é jogado fora pelo consumidor.(super interessante,nº 174).
Para alcançarmos o desenvolvimento pelas sociedades ditas modernas, este deveria ser um dos primeiros problemas a serem resolvidos. Não tem cabimento no mundo de hoje tantos problemas derivados da desnutrição e do desperdício. As tecnologias modernas podem produzir alimentos para todos. Mas se mantivermos os níveis de desperdício, teremos de produzir sempre 70% a mais para ser jogado fora. Isso não é mais possível.
Se temos terra e tecnologia, além de mão de obra abundante, o que falta então? Distribuição da terra improdutiva e incentivo a pequena produção agrícola, diminuição da taxa de lucros que é alta e interesse pelo fim da miséria, que de certa forma enriquece a muitos já seria um bom começo. De que adianta o homem ir à lua ou capturar Osama Bin Ladem com o mundo passando fome? A quantidade de pessoas mortas pela fome anualmente é infinitamente maior que o número de vítimas de todos os atentados terroristas da história. Os recursos destinados ao combate ao terrorismo junto ao que sai no bolso dos ratos de terno e gravata que trabalham como “representantes” do povo resolveriam com sobras o problema da fome. Lembro de uma frase de um pai que foi certa vez a secretaria de uma escola em que eu trabalhava e pediu a diretora que parasse de servir carne a seu filho durante a merenda, por que no fim de semana a criança lhe pedia carne e ele não tinha como comprar.
Casos como esse não poderiam acontecer. Crianças não deveriam nascer deficientes por conta da fome. Me pergunto: até quando?

Pensando um pouco...


sou daqueles que questiona, que discorda de respostas prontas. Aquele que precisa mais que acreditar. Sou dos que pensam que a vida requer respostas mais complexas, pois acredito que assim é a vida:complexa. Ao mesmo tempo que deve ser vivida sem complexidades, sendo encarada de forma simples,sabendo que a totalidade de nossas preocupações irão se esvair com o tempo. Acredito que temos de duvidar, afinal, Sheakespeare já dizia que " a dúvida moderada é o farol dos sábios". Então duvide, não acredite em nada apenas pelo simples fato de "acreditar", por que partindo deste pressuposto, a mula sem cabeça e o papai noel que em nossa inocente infância "existiram", podem existir de fato, apenas por que alguém não pode provar sua inexistência para um "crente" nestes dois seres. Pode-se acreditar em qualquer coisa, até em unicórnio cor de rosa invisível, que existe tanto quanto qualquer deus, de qualquer povo, de qualquer época e mitologia. Shakespeare disse também que "tudo que vive é fadado a morrer e passar da natureza a eternidade. Discordo dele por que acredito que nunca deixaremos a natureza; retornaremos a ela, se é que um dia a deixamos. Acredito na rotatividade do pensamento, na mudança, na evolução; não pense hoje aquilo que você pensava ontem, por que como já dizia Bacon, triste não é mudar de idéia, triste não é ter idéias para se mudar. não fique preso; permita-se. provavelmente não terás outra vida, outra chance.A menos que acredite; ms, como lhe disse, acreditar pode ser no papai noel também. "A consciência é a estrutura das virtudes, então use-a;pense, racionalize, raciocine. Lembre-se que a verdade jamais será pura, e talvez, pelo menos no início não será simples, mas em algum momento, as cortinas e todo o nevoeiro terão se esvaido, e você voltará ou enxergará pela primeira vez, e talvez tenha a oportunidade de ver a raridade da vida, de ver como poucos de fato vivem, de saber que a maioria apenas existe, e que está mergulhada num mar de trevas ou no fundo da caverna de Platão onde sombras são demônios filhos de toda a ignorância possível. Lembre-se que se houver um caminho para a verdade, ou algo próximo a isso, este será a adversidade, o conflito das "verdades" existentes. Busque isso. Busque ser aquilo que você era quando nasceu;livre! e não o que é agora; um prisioneiro! se questione. Pense por sí próprio, e não a partir daquilo que lhe contaram. Cresça! Lembre-se" aprender é a única coisa que a mente não se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende", e saiba que quanto mais conhecemos, mais amamos, menos lutamos e provocamos a guerra, e saiba também que sua mente nunca mais será a mesma depois de uma nova idéia; ela nunca mais será do mesmo tamanho. Posso  lhe garantir que isso não é uma má idéia.

sábado, 11 de junho de 2011

Heróis analfabetos cultuados, e heróis de fato enjaulados

            
Hoje(ontem) é o dia da despedida do “herói” Ronaldo, apelidado de fenômeno pelos jornalistas italianos, e que está recebendo uma série de homenagens por conta de sua brilhante carreira como futebolista. Até ai tudo bem, mas chamá-lo de herói? Não, definitivamente ele não tem nada de herói. Entre suas várias homenagens deste dia, uma me chamou muito a atenção. Trata-se de um texto escrito por um jornalista italiano que não prestei muito atenção no seu nome, que entre outras coisas disse, ao finalizar seu texto, que, Ronaldo era um herói, e segundo os repórteres de um noticiário de uma TV por assinatura, se tratava de um texto “emocionante”. No fim do referido texto, o italiano disse que muitos pais deveriam falar de Ronaldo para seus filhos, mostrar sua carreira de superações para eles, e disse também que na noite de hoje muitos ao fim da partida entre Brasil e Romênia, ficariam verdadeiramente tristes, pois chegara ao fim à carreira de Ronaldo. Nossa. Quanta falta de noção. Quanta alienação! Como acreditar que com tantos problemas em nosso dia-dia, possamos de fato ficar tristes por que uma pessoa que está milionária, que não estudou para isso, que pouco ou nada contribui para o desenvolvimento da saúde ou da educação de jovens deste país pode trazer tristeza para alguém? Um médico que enfrenta o dia a dia em hospitais da rede pública de saúde, com total carência de estrutura, baixos salários, tudo isso depois de ter percorrido anos de estudo para salvar vidas seria o que, se comparado com um Ronaldo da vida? Quem Ronaldo já salvou? Que palavra ele proferiu em favor do fim da corrupção ou de incentivo a educação? Praticamente nenhuma. Enquanto isso, outros trabalhadores que fazem de fato algo para a sociedade se encontram presos pelo desgovernador Mobral. Absurdo!Pessoas que trabalham salvando vidas presas por reivindicar melhores condições de vida, melhores salários para uma vida mais digna. Sabemos que o problema de nosso país não é a falta de dinheiro, mas sim a falta de vergonha na cara. A quantidade de pessoas que não trabalha e recebe de vários governos em várias instâncias é assustadora. Conheço várias pessoas ditas “assessoras” que nem sabem onde fica a Alerj, e recebem mensalmente seus proventos por serviços não “prestados”. Alguns chegam a se gabar, dizendo “viva esse governador! Enquanto ele estiver lá é só vir passar o cartão e gastar...”absurdo! se esse dinheiro fosse bem utilizado teríamos melhores condições de fornecer um salário digno a vários profissionais que de fato trabalham, e de fato merecem um salário digno. Veja-se pó exemplo o caso dos professores deste estado. Menos 800 reais mensais! O que dizer? Como justificar isto?
Acredito que os bombeiros não poderiam ter escolhido melhor hora. Estamos as vésperas das olim piadas do rio de janeiro, e os olhos do mundo estão voltados para cá. Já para o desgoverno...aguardemos que alguma melhora ocorra, mas não esperemos muito...

sábado, 4 de junho de 2011

Contradições da bíblia.parte 4. Por Dan Baker.

Qual a Idade de Acazias?
  • II Reis 8:26 "Acazias tinha vinte e dois anos quando começou a reinar."
vs.
  • II Crônicas 22:2 "Tinha quarenta e dois anos quando começou a reinar [Acazias]."
Devemos Fazer Juramento?
  • Números 30:2 "Quando um homem fizer voto ao SENHOR, ou juramento... não violará a sua palavra; segundo tudo que prometeu fará."
  • Gênesis 21:22-24,31 "Agora, pois, jura-me aqui por Deus que não me mentiras...Respondeu Abraão: Juro...Por isso se chamou aquele lugar Berseba, porque ali juraram eles ambos."
  • Hebreus 6:13-17 "Pois quando Deus fez a promessa a Abraão, visto que não tinha ninguém superior por quem jurar, jurou por si mesmo...Pois os homens juram pelo que lhes é superior, e o juramento, servindo de garantia, para eles, é o fim toda contenda. Por isso quando Deus quis mostrar mais firmemente aos herdeiros da promessa a imutabilidade do seu propósito, se interpôs com juramento."
Veja também Gênesis 22:15-19, Gênesis 31:53, e Juizes 11:30-39.
vs.
  • Mateus 5:34-37 "Eu porém vos digo: De modo algum jureis: Nem pelo céu, por ser o trono de Deus...nem pela terra...nem jures pela tua cabeça...Seja porém a tua palavra: Sim, sim; não, não. O que disto passar vem do maligno."
  • Tiago 5:12 "...não jureis nem pelo céu, nem pela terra, nem por qualquer outro voto; antes seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não, para não cairdes em juízo."
Quando Jesus Foi Crucificado?
  • Marcos 15:25 "Era a hora terceira quando o crucificaram."
vs.
  • João 19:14-15 "E era a parasceve[sexta feira] pascal, cerca da sexta hora; e disse aos judeus: Eis aqui vosso rei. Eles porém clamaram...crucificai-o."
Uma defesa ad hoc para esta contradição é que havia dois métodos de contar o tempo. Nunca se mostrou que este seria o caso aqui.7
Devemos Obedecer a Lei?
  • I Pedro 2:13 "Sujeitai-vos a toda autoridade humana . . . quer ao rei, como soberano, quer aos governadores."
  • Mateus 22:21 "Dai, pois, a César o que é de César."
Veja também Romanos 13:1,7 e Tito 3:1.
vs.
  • Atos 5:29 "Importa antes obedecer a Deus que aos homens."
Quantos Animais Haviam na Arca?
  • Gênesis 6:19 "De tudo o que vive, de toda carne, dois e cada espécie, macho e fêmea, farás entrar na arca."
  • Gênesis 7:8-9 "Dos animais limpos, e dos animais imundos, e das aves, e de todo réptil sobre a terra, entraram para Noé, na arca, de dois em dois, macho e fêmea, como Deus lhe ordenara."
  • Gênesis 7:15 "De toda a carne, em que havia fôlego de vida, entraram de dois em dois para Noé na arca."
vs.
  • Gênesis 7:2 "De todo animal limpo levarás contigo sete pares: o macho e sua fêmea; mas dos animais imundos, um par: o macho e sua fêmea."8
O Homem e a Mulher Foram Criados Iguais?
  • Gênesis 1:27 "Criou Deus pois, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou."
vs.
  • Gênesis 2:18,23 "Disse mais o SENHOR Deus: Não é bom que o homem esteja só: farlhe-ei uma auxiliadora que lhe seja idônea...E disse o homem: Esta, afinal é osso dos meus ossos e carne da minha carne; chamar-se-á varoa, porquanto do varão foi tomada."
As Árvores Foram Criadas Antes dos Humanos?
  • Gênesis 1:12-31 "A terra, pois, produziu relva, ervas que davam semente segundo a sua espécie, e árvores que davam fruto cuja semente estava nele, conforme a sua espécie...Houve tarde e manhã, o terceiro dia...Também disse Deus: Façamos o homem à nossa imagem...Houve tarde e manhã, o sexto dia."
Vs
  • Gênesis 2:5-9 "Não havia nenhuma planta do campo na terra, pois nenhuma planta do campo havia brotado; porque o SENHOR Deus não fizera chover sobre a terra, e também não havia homem para lavrar o solo. Então formou o SENHOR Deus ao homem do pó da terra...E plantou o SENHOR Deus um jardim no Éden, da banda do Oriente, e pôs nele o homem que havia formado. Do solo fez o SENHOR Deus brotar toda sorte de árvores agradável à vista e boa para alimento."9
Mical Teve Filhos?
  • II Samuel 6:23 "E Mical, filha de Saul não teve filhos, até o dia de sua morte."
vs.
  • II Samuel 21:8 "Mas o rei tomou os dois filhos de Rizpa . . . e os cinco filhos de Mical filha de Saul."10
Quantos Cavalos Tinha Salomão?
  • I Reis 4:26 "Tinha Salomão quarenta mil cavalos em estrebarias para os seus carros."
vs.
  • II Crônicas 9:25 "Tinha Salomão quatro mil cavalos em estrebarias para os seus carros."
Os Homens de Saulo Ouviram Uma Voz?
  • Atos 9:7 "Os seus companheiros de viagem pararam emudecidos, ouvindo a voz, não vendo contudo, ninguém."
vs.
  • Atos 22:9 "Os que estavam comigo viram a luz, sem contudo perceber o sentido da voz de quem falava comigo."11
(Para mais detalhes sobre esta contradição, com uma análise de lingüística das palavras gregas, veja "Did Paul's Men Hear A Voice?"? por Dan Barker, publicado no The Skeptical Review 1994#1, o texto é em inglês.)
O escravo e a posse da terra
A concessão de pequenos lotes de terras a escravos foi algo muito difundido tanto na América espanhola quanto no Brasil enquanto por aqui vigorou a escravidão. Jacob Gorender em “O escravismo colonial “revela que os portugueses já praticavam a concessão de terras a escravos, bem antes de iniciarem a colonização da América portuguesa.[1] De acordo com Faria os estudos referentes a este assunto foram iniciados no Brasil a partir da década de 1970, em concordância com as pesquisas de Ciro Cardoso.[2] A designação do termo “brecha camponesa” é de autoria de Tadeusz Lepkowski que inicia as pesquisas sobre o tema na América central, mais especificamente sobre o caso do Haiti. [3]
 No Brasil, Antes de Cardoso foram feitas apenas algumas referências ao assunto, e mais recentemente pesquisadores como João Fragoso e Manolo Florentino, abordaram o problema e o definiram como uma forma de melhor adequação ao cativeiro. Na década de 1980 assistiu-se a grandes discussões a respeito da questão, em que Cardoso e Gorender travaram um acirrado debate. A polêmica concentrou-se em torno da inclusão ou não da produção particular do escravo como parte das estruturas da economia colonial. Para Gorender, este sistema de economia cativa não adquiriu caráter estrutural, por se tratar de uma atividade secundária, em que quando os senhores precisassem, retirariam os escravos para a grande plantation. Não é pretensão neste trabalho aprofundar a discussão a respeito das estruturas, ou da estrutura econômica da colônia portuguesa. O proposto aqui é questionar como tal ocorrência se torna algo razoavelmente comum; o escravo “possuidor’ de terras e com economia própria.
 Faria ao analisar o período colonial brasileiro nos relata que a idéia que tínhamos até bem pouco tempo atrás da escravidão tem sido alvo de discussões acirradas.  Segundo a autora, inúmeros outros aspectos teriam de ser analisados para se entender a tão longa duração do período de escravidão nas Américas. A partir das novas abordagens sobre a época, o escravo, segundo suas pesquisas, “deixa de ser um agente passivo, e se transforma num agente ativo”.[4]
Autores como Manolo Florentino, Robert Slenes e Stuart Schwartz têm analisado a relação entre senhores e escravos “enquanto agentes ativos e construtores, ambos, de relações sociais, mesmo que tensas, onde concessões e adequações eram não só necessárias, como aceitas”.[5]

  Magda Ricci nos diz que:

Desde a época ao redor do centenário da abolição, em 1988, nossos livros sobre os tempos do cativeiro têm trazido a público alguns inusitados escravos. Eles vêm saindo do universo quase auto-suficiente do trabalho nas fazendas de cana e café. Vêm entrando em outros espaços, criando complexas e fascinantes situações a seus senhores e a nós historiadores e leitores do século XX.[6]


Todas estas novas avaliações têm produzido uma quantidade considerável de trabalhos e olhares a respeito de nosso passado, e a diversidade de fatos surgidos tem sido muito interessante, principalmente por resgatar um novo retrato do período colonial e imperial brasileiro e das relações entre os grupos existentes. O fato de cativos terem obtido acesso a terra, fato que conseqüentemente lhes proporcionou uma economia própria, mesmo que não tenha sido algo que tenha ocorrido de forma estrutural, como assinala Gorender, nos possibilita indagar a respeito não apenas da forma como tal fato se tornou concreto, mas também das possibilidades que passam a surgir desde então. Gomes revela que além de “tirarem dessas lavouras gêneros para a sua alimentação, também produziam excedentes, os quais procuravam comerciar.” Temos aqui um fato que para muitos pode parecer inusitado; a idéia do escravo comerciante. De fato isto ocorreu, e de várias formas.
Os negros negociaram não só a partir do que obtinham em suas roças concedidas, mas também nos quilombos por meio daquilo que lá produziam.  Este comércio era feito com taberneiros e donos de vendas das proximidades, negociados com outros cativos ou em outros mercados.[7] Fora fato comum a negociação entre pequenos comerciantes e escravos cativos ou libertos de vários gêneros produzidos em suas roças, fato que não ficou limitado apenas ao Brasil, mas também a maior parte da América.

   Em várias regiões tanto no Brasil como no restante da América, com suas roças, escravos e quilombolas, com variadas práticas econômicas, acabaram por permitir a formação de um campesinato negro ainda durante a escravidão... Os escravos e as comunidades quilombolas existentes desenvolveram, ao que se sabe, práticas econômicas com as quais produziam excedentes e procuravam negociar. Em muitas regiões os escravos certamente freqüentavam feiras e mercados locais aos sábados e domingos, ou seja, nos seus dias livres, onde montavam quitandas e vendiam os excedentes de sua economia própria, que tanto podiam ser gêneros agrícolas, quanto caça e pesca.[8]


Estas feiras eram locais de intensa socialização entre diversos grupos de escravizados, e que tinham em suas vidas importantes funções, que não se restringiam ao ato de comercializar. Surgiam a partir destes encontros possibilidades de se conhecerem, se organizarem e obterem informações a respeito de fatos e acontecimentos que estivessem ligados ao seu dia-dia, aos seus objetivos comuns.
                                                    
Era freqüente a troca de informações entre cativos e quilombolas, que também freqüentavam as mesmas feiras a fim de venderem sua produção. Estas teias de solidariedade, conflitos e entrecruzamentos acabaram porforjar uma configuração política complexa nas relações entre escravos, senhores, quilombolas e autoridades”.[9]

2.2. A brecha camponesa na América

A análise destas atividades foi alvo de vários estudos em toda a América, principalmente nos Estados Unidos e América central. Pesquisadores que se debruçaram sobre o tema, chegaram a variadas conclusões.  Em “Escravo ou camponês, o protocampesinato negro nas Américas”, Cardoso nos apresenta diversas destas opiniões.  Entre elas, uma interessante é a do pesquisador norte americano Sidney Mintz, que de acordo com Cardoso, trata-se do maior especialista no assunto, e que a respeito da brecha camponesa, a sua enorme quantidade de casos e proporção, leva o autor a questionar a própria idéia da escravidão e de um modo de produção escravista.[10] Cardoso, mesmo afirmando que a produção dos cativos tornou-se parte da estrutura do modo de produção escravista, discorda desta opinião, assim como Gorender, que com visões distintas, neste ponto concordam.
A respeito das análises dos casos, um que apesar de ter sido menos comum, mas que vale a pena ser citado é o de famílias escravas que conseguiram certa independência através de suas roças. Um caso exemplar se dá com três famílias da região de Maryland, nos Estados Unidos, em que as mesmas administravam três seções periféricas da fazenda, utilizando-se de ferramentas e animais próprios, com independência para as transações econômicas, decidindo sobre a organização do trabalho, de suas necessidades em geral, e sem a presença constante do senhor.[11] Casos como este são com certeza de infinita menor proporção, mas vale a indagação a respeito de como os grupos envolvidos acabaram por chegar a esta configuração, em que escravos com uma economia própria, comercializando seus excedentes, conseguindo auferir lucros, acabando por possibilitar a aquisição de animais e ferramentas, e do grau de “independência” elevada dos cativos, que apesar de tudo, vale frisar, não deixava de ser escravos.
A partir destes fatos, a probabilidade de conseguirem adquirir recursos que viabilizassem a compra das terras, e de sua alforria se tornava algo muito mais plausível. Sobre como estes casos podem ter ocorrido, e das relações entre os vários grupos sociais, das possíveis concessões, para Orlando Patterson

 “o escravismo, como em qualquer regime econômico-social, se estabelece entre a classe dominante e a classe explorada um acordo legal ou consuetudinário que garante para a classe dominada, pelo menos de fato e às vezes de direito, certos direitos, cuja infração traz consigo o perigo de alguma rebelião”.[12]

A partir de tais análises, podemos entender este fato de variadas formas ao levarmos em conta as pesquisas e pontos de vista apresentados. Uma destas visões é a de que tal configuração pode ter sido fruto de uma nova forma de pressão desenvolvida por escravos e quilombolas, que a partir da luta para conseguir melhores condições de vida, acabavam por reorganizar o mundo em que viviam e ajudar a sua maneira, mesmo que lentamente, a minar as estruturas do regime escravocrata. Com base neste pressuposto, tentarei analisar alguns destes pontos de vista, em que divergências enormes acabaram por surgir. Como já me referi neste trabalho, a discussão entre Cardoso e Gorender centrava-se no caráter da estrutura econômica colonial, e a inserção ou não da economia escrava nesta estrutura. Este não é o nosso caso.
Em “A escravidão reabilitada”, Gorender discute a escravidão, fazendo uma análise daquilo que já fora produzido a respeito do tema, principalmente na década que antecedeu o centenário da publicação da lei áurea. Ele procura deixar claro que não questiona a existência da brecha camponesa, mas sim “o grau de generalidade e estabilidade da economia própria do escravo”. Para o autor, do ponto de vista do senhor de engenho, seria intolerável desperdício, dispensar os escravos durante um dia inteiro. Em sua avaliação, apresenta diversos casos em que a concessão do dia ou dias de folga, era negada. Cita a ordem régia de 1703, que somente fora criada por conta de outra lei da coroa portuguesa, editada três anos antes e que ficara apenas no papel.[13] Estas leis apenas teriam sido editadas por conta da resistência dos senhores de engenho em promover alguns benefícios para seus escravos, como a própria produção de gêneros alimentícios para consumo dos mesmos. Gorender alega que no referido período, a produção açucareira encontrava-se em alta e isto não permitiria a liberação dos cativos para folgarem e cultivarem em benefício próprio. [14]
 A publicação da lei de 1703, seria para Gorender, a prova de que os escravos não tinham certos benefícios, e dificilmente a economia própria teria tido alguma importância. O autor cita um caso ocorrido na Bahia em 1707, em que o arcebispado condenou os senhores de engenho que obrigavam seus escravos a trabalhar no domingo, que era dia santo e deveria ser destinado ao descanso e evangelização dos cativos.[15] Cardoso nos revela que o que de fato estava ocorrendo era que a cessão destes dias para que os cativos trabalhassem em cultivos próprios, acabava por afastá-los das missas no domingo, e isto estava contrariando os interesses da igreja.[16] Prosseguindo com sua análise, Gorender nos relata que mesmo questionando a importância da “brecha”, ele nos diz que diferentemente das regiões em que o açúcar era o principal produto produzido, as áreas produtoras de café e algodão propiciavam maiores possibilidades do escravo desenvolver sua economia própria. O mesmo salienta ainda que apesar de possuir maiores possibilidades do que outras áreas houve muitos casos em que esta concessão fora desrespeitada. Sobre isto ele destaca que no ano de 1876, o fazendeiro Francisco Salles fora assassinado por escravos de sua propriedade em Campinas, os quais alegaram na justiça, os castigos impiedosos por obrigá-los ao excesso de trabalho no domingo. O fazendeiro decerto violou o limite de tolerância, o que lhe resultou fatal.[17] Gorender deixa claro que a respeito dos aspectos comerciais da economia do escravo, Cardoso tinha razão. E completa:

  Tem razão Ciro Cardoso em sua crítica á minha subestimação dos aspectos comerciais da economia do escravo. Escrevi que ela admitia, quando muito, um escambo elementar, a exceção daquelas situações em que o escravo cultivava produtos de exportação, como café e o algodão. As fontes evidenciam que os escravos, com certa freqüência, também vendiam gêneros alimentícios no mercado interno e daí obtinha dinheiro para comprar artigos que o senhor não lhes fornecia.[18]


[1] GORENDER, Jacob. O escravismo colonial. São Paulo, Ática, 1978, p 258-265.
[2] FARIA, Sheila de Castro. Op.cit.p.290.
[3] LEPKOVSK, Tadeusz. Haití. Tomo I, Havana, casa de lãs Américas, 1968. Apud CARDOSO. Op.cit, p.54.
[4] FARIA, Sheila de Castro. Op.cit.p.291.
[5] Idem, p.290-292.
[6] RICCI, Magda. Liberdade: rotinas e rupturas do escravismo (1822-1850). CARVALHO, J.M.de. (resenha) Revista Brasileira de História. São Paulo, volume 20, n°39, p. 291-296, 2000.
[7] GOMES, Flávio. Op.cit.p.68-75.
[8] Idem, p.70.
[9] Ibdem.p.69.
[10] MINTZ, Sidney W. “The questions of Caribbean peasantries: a comment”, Caribbean Studies, 1961. Apud CARDOSO. Op.cit.p.57-58.
[11] MENARD, Russell R.,”The Maryland slave population, 1658 to 1730: a demographic profile of blacks in four counties”, William and Mary Quarterly, 3ª série, 32, jan.1975. Apud CARDOSO. Op.cit.p.61.
[12] PATTERSON, Orlando, The sociology of slavery, Londres, MacGibbon & Kee, 1967. Apud CARDOSO. Op.cit.p.59.
[13] As ordens régias eram ordenações emitidas pelos reis Portugueses e eram enviadas aos governadores das capitanias nas colônias portuguesas. A ordem régia de 1703 fora criada por conta da não execução da lei de 1701, criada por Don Pedro II, em que o mesmo colocou para os senhores de engenho a alternativa de fornecerem alimento aos escravos ou conceder-lhes um dia de folga. Para um maior entendimento ver Jacob Gorender, A escravidão reabilitada e Ciro Cardoso, Escravo ou camponês?
[14] GORENDER, Jacob. Op.cit. p.72-73.
[15] Idem. p.75.
[16] CARDOSO, Ciro Flamarion S. Op.cit.p.93.
[17] GORENDER, Jacob. Op.cit.p.74.
[18] Idem. p.74-75.