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Achei muito deprimente...

Estava em casa, sem muito que fazer esta semana, e ao praticar um de meus esportes favoritos atualmente, que é o de mudança de canal de TV através do controle remoto, resolvi procurar saber o que estava se passando no “mundo do futebol”, que é uma espécie de universo paralelo em que as outras coisas que acontecem no restante do mundo tem pouca importância. Coisas como saúde, educação, combate a corrupção, a falta de alimentos, de moradia, entre outras coisas que não figuram no universo de boa parte dos habitantes do planeta bola. Mas, voltando ao programa na TV, acabei parando no Sportv, no programa Redação. O apresentador era o jornalista André Rizek que tinha a companhia de um jornalista inglês da rede BBC de Londres, Tim Vickery. A discussão girava em torno das mesmas coisas de sempre; vai subir, vai cair, a Nova camisa do Bahia homenageando a Espanha (?), a educação de Felipão, entre outros assuntos de extrema importância para aquele planeta. As coisas iam como vocês sabem muito chatas, na total redundância que apenas os boleiros conseguem suportar. Mas, antes de mudar de canal vi uma voz de lucidez, e algo que por algum momento me deixou “feliz”. O jornalista inglês ao ser perguntado a respeito da forma como os jogadores são tratados, como são idolatrados pela massa, disse que a impressão que tinha era a de certa tristeza. O mesmo disse que ficara sem entender o motivo de em uma copa das confederações, a maior parte dos jogadores ter sido obrigada a raspar a cabeça, e de repente isto virar moda entre a maioria do planeta bola. Na minha cabeça logo veio aquele penteado do Ronaldo na final da copa de 98, estilo cascão da turma da Mônica. A coisa mais horrorosa do mundo! Deste mundo, não do planeta bola! Lá isto é normal. O jornalista inglês e outro brasileiro que não sei o nome começaram a questionar a cobrança que é feita aos jogadores de futebol para que dêem bons exemplos, e o jornalista inglês se perguntou por que não cobrar isto dos políticos?(?) será que é por que em seu país é assim que as coisas funcionam? Será que é por que este jornalista esportivo, que cobre futebol no Brasil acredita que futebol não é tão importante assim? Não sei... talvez seja cultural. Deve ser difícil para um sujeito de um país desenvolvido entender nós, brasileiros, nascidos em dois mundos ao mesmo tempo, em que o planeta bola exerce uma influência enorme na vida do outro mundo. No meu caso, já acredito ha muito tempo, que se em vez de torcermos por clubes de futebol, torcêssemos por partidos políticos nosso país seria insuperável. Já pensaram? Em vez de ir para a sede do clube toda vez que ele estivesse mal, perigando ser rebaixado, ameaçando quebrar tudo, fossemos para frente da sede do partido político toda vez que fossem votar algo que só beneficiasse os políticos e prejudicasse o povo, ou quando surgissem provas de corrupção protestássemos com o mesmo vigor que é feito no caso de um rebaixamento de um clube de futebol? Será que não seria mais proveitoso? Talvez. Mas, isso é coisa de outro mundo, de outro planeta, e nós, do planeta bola, vivemos muito felizes com nossos ídolos e nossos protestos futebolísticos, nossas conversas de boteco, com assuntos que variam entre a vida alheia e a rodada do fim semana, ou quem será o eliminado do BBB ou da fazenda. É, acho que é melhor deixar isto quieto. Como viveríamos sem estas coisas?

Terry Eagleton, escritor renomado mundialmente, disse em um artigo recente que “o futebol não é bom para quem busca mudanças sociais”. Quando esteve no Brasil, na última feira literária  Paraty, ao ser perguntado a respeito disto disse: perdoem-me! Estou no Brasil né? E deu uma gargalhada. “Ele disse que o futebol é uma conspiração da elite, que sentada à mesa pensou:” o que fazer para deixá-los felizes e criando poucos problemas? Já sei! Criemos o futebol! Isso irá distraí-los!