quinta-feira, 15 de maio de 2014

Educação especial para todos.

A discussão a respeito da inclusão da criança especial em turmas comuns é algo que vem sendo discutido e buscado por legisladores e pesquisadores do assunto há algum tempo. Há o desejo de que as crianças especiais tenham a oportunidade de conviver junto dos demais alunos ditos “normais” de forma saudável e com aceitação plena, para que sua inclusão social possa ser feita do modo mais fácil possível.
Durante a maior parte do tempo, alunos com necessidades especiais receberam uma educação em espaços separados, longe do contato com a maioria das crianças, jovens e funcionários da escola. Seu contato se restringia a seus professores e um ou outro funcionário. Sempre foram vistos como um “corpo estranho” no ambiente escolar.

o modelo didático incorporado na integração reduzia-se a modificações parciais, em um contexto tradicional, variável, sobre o aluno, os professores e a escola. A diversidade era uma característica a mais no processo existente e mantinha a ideia de que a dificuldade era relacionada ao aluno e suas particularidades”[1].

No Brasil, a política nacional para a educação inclusiva busca superar este caráter segregacional que sempre se definiu por uma educação delimitadora, em que apenas grupos privilegiados da sociedade poderiam ter acesso a escola, deixando uma imensa maioria marginalizada, sendo não apenas as crianças especiais, mas sim a imensa maioria da população pobre do país. Estas pessoas se mantiveram longe da escola e distante do conhecimento e, consequentemente longe de alcançar melhores condições de vida.  Com o avanço do Estado democrático, faz-se necessário buscar políticas que promovam a inclusão. Nada mais justo, mas há que se discutir de que forma isto deve ser feito. No caso específico das crianças especiais, certamente que a convivência com os demais alunos de toda a escola  será um fator preponderante para a sociabilidade destas pessoas, mas creio que faltem determinadas estruturas a serem montadas na escola antes que esta inclusão ocorra de uma forma minimamente satisfatória. .
Nos EUA, por exemplo, houve uma série de melhorias e adequações no sistema para que a inclusão se desse de fato e com os menores problemas possíveis. De acordo com a Professora Leny Magalhães, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo, “boa parte dos Estados norte americanos estão aplicando a educação inclusiva”. Para isto, foi criada pelo governo americano uma supervia de telecomunicações visando facilitar o contato entre as escolas, bibliotecas, clínicas e hospitais. A professora Magalhães nos diz que lá há propostas de reformulação do currículo visando à implantação de programas mais adaptados às necessidades dos educandos especiais. Também é feito um acompanhamento dos alunos que passaram por determinados projetos inclusivos, visando analisar e discutir erros e acertos destes projetos[2].
Diferentemente do Brasil, há uma equipe técnica que tem recebido treinamento para auxiliar os professores em sala de aula e estes professores recebem treinamento especial. Esta política vai contra o que acredita a professora Maria Teresa Mantoam, Pesquisadora da UNICAMP e que participou da elaboração da cartilha da educação inclusiva, e que acredita que professores não necessitem de apoio e ou de formação para lidar com esses alunos especiais. Ela acredita que nossos professores já estão prontos para este desafio.
 Diferentemente deste ponto de vista, deve-se enfatizar que nossas realidades talvez não estejam bem preparadas para este tipo de trabalho. Nossos professores não possuem uma formação para lidar com determinados tipos de necessidades e sem dúvida alguma necessitam de apoio e preparo adequado para entender com o que e com quem estão lidando. O assunto é muito complexo e requer bem mais que apenas colocar todos na escola acreditando que propiciar o direito de matrícula seja um bom caminho e que possa ser a melhor maneira de se iniciar a busca pela solução do problema. Faz-se necessário primeiramente uma mudança da organização escolar que passe a ser vista como “uma construção social realizada pelos professores, alunos, pais, e demais integrantes da comunidade onde está inserida e que não vise e nem dependa do mercado, mas do interesse público”[3]. A inclusão está sendo feita, mas as vezes parece que de uma forma muito acelerada. Para David Rodrigues, organizador do livro “Inclusão e Educação” este processo de inclusão social nas escolas tem ocorrido por vários motivos. Entre estes motivos estariam o desejo por melhores condições de vida de grande parte da população, que tem confrontado o sistema dominante e buscado conseguir direitos civis e políticos[4]. A busca por esses direitos é justíssima. Vivemos um imenso atraso no que diz respeito a diretos e cidadania para todos. Mas acredito que estes atrasos não podem ser corrigidos de qualquer maneira e as pressas. Concordo plenamente que o interesse público tenha de ter mais espaço frente ao capital.
No Brasil ainda não é possível na prática ou até em perspectivas essas mudanças que deem prioridade ao interesse público em detrimento do mercado. Mesmo com todos os avanços na área educacionais ocorridos nos últimos anos, nosso país ainda se encontra longe daquilo que almejamos em matéria de educação e cidadania. Atualmente a concepção técnico científico que se baseia na organização e racionalização do trabalho e que está ai para atender as demandas da indústria e do capital ainda predomina em nossas diretrizes curriculares. Mas podemos dizer que temos, mesmo que muito lentamente, avançado em busca de melhores condições na busca por melhores possibilidades de acesso para um número maior de pessoas hoje do que ontem.
Para tentar entender melhor como tem ocorrido à inserção de jovens especiais em classes comuns, entrevistei a Professora Elga de Oliveira Mozer[5], Pedagoga, especialista em educação especial da secretaria municipal de Macaé, e que atende escolas em distritos da região serrana deste município, e que trabalhou também na rede privada local.  Para esta educadora um dos grandes problemas está na resistência por parte de alguns professores de se adequarem a esta nova realidade. Muitos reclamam das dificuldades de se lidar com esta nova realidade. “em alguns casos, professores dizem ser difícil preparar duas aulas para uma mesma turma: uma aula para os alunos comuns e outra para os especiais, quando em muitos casos há turmas com trinta e seis alunos, sendo que apenas um é especial”. Isto vai de encontro com o pensamento de Margolis e McGettingan que nos relatam que “em determinadas situações, os professores são resistentes as mudanças, devido á carência de apoio necessário para isso, bem como pela necessidade de formação especial para suprir as necessidades dos alunos”[6].
A professora Elga também relata que a dificuldade de inserção destes jovens especiais se dá principalmente a partir do sexto ano do ensino fundamental. “alguns professores ainda não entenderam que a intenção não é fazer com que essas crianças aprendam cálculos ou fatos históricos, mas sim fazer com que os mesmos se sintam parte integrante da sociedade, mesmo que de uma forma limitada”.  E completa: “a educação é para a vida”! Muitos destes jovens terão muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho. Alguns nunca irão entrar. Devemos é proporcionar para os mesmos a convivência, a aceitação e o respeito. Dar-lhes carinho e ensinar lhes valores que poderão carregar consigo até o fim de seus dias! Se este objetivo for alcançado, já se terá feito um grande trabalho.
A professora Elga Mozer cita um caso de uma das escolas em que trabalha em que há uma menina que necessita de um intérprete de libras, profissional raro na rede municipal. O ensino para esta criança acaba ocorrendo de forma muito precária. Em outro caso, há dois alunos, um de 15 e outro de 16 anos que se encontram nas turmas de sexto ano e que não conseguem juntar duas vogais ou somar um mais um. Estes alunos acabam sendo rejeitados e o Bulying ou a indiferença são comuns por parte dos outros alunos. A Professora Elga ressalta que “O trabalho de conscientização dos professores, dos alunos e de toda a comunidade escolar é essencial para que estas práticas sejam erradicadas”.
Citei anteriormente algumas mudanças praticadas nos EUA em relação à educação especial. Por questão de comparação, vejamos agora algumas mudanças ocorridas na política educacional europeia, em particular a política espanhola. O sistema educacional espanhol tem promovido à criação de “equipes técnicas coordenadas por profissionais com formação voltada ao encaminhamento profissional”. Esta equipe busca promover o desenvolvimento de programas de formação que auxiliem os jovens educandos no caminho de sua futura profissão. Atuam também desenvolvendo trabalhos diferenciados com jovens e crianças especiais. São utilizados critérios diferenciados de intervenção psicopedagógica para estes alunos especiais “dinamizando e impulsionando o desenvolvimento de programas para alunos que se encontrem em condições sociais desfavorecidas”[7].
Neste sistema espanhol há intervenções tanto em sala quanto fora dela para determinados alunos, auxiliando a família e orientando o professor. Nesta equipe há profissionais de diversas áreas como o fisioterapeuta, o cuidador, o psicólogo, o pedagogo, e o psicopedagogo e um médico.  Estes diferentes profissionais são solicitados no momento em que o professor veja a necessidade dos mesmos. Atuam em caráter de apoio a escola e ao professor. Há também o profissional de línguas, o interprete para os surdos mudos. Este profissional é o mesmo que a professora Elga necessita em sua escola, mas que infelizmente não há. E não é por falta de legislação.
A constituição de equipes polivalentes como a referida no caso da Espanha seria muito interessante para o Brasil. Deveriam ser em número razoável para não sobrecarregar os profissionais com escolas em excesso, e deveriam promover palestras de conscientização para professores, pais e alunos.
Como visto anteriormente, ainda estamos um pouco distantes daquilo que almejamos para uma educação inclusiva. Há projetos em andamento e outros já com bons resultados que podem ser adaptados para o caso de nosso país. É preciso primeiramente que faça um trabalho de preparo e conscientização de profissionais e professores. Além disto, é preciso que se dê total suporte tanto a escola quanto ao professor em sala de aula. A inclusão de pessoas especiais ou marginalizadas deve ser feita o mais rápido possível, mas de forma adequada e com amparo necessário para que possam funcionar devidamente e não serem feitas de qualquer forma ou deixadas de lado, sendo cumpridas apenas por conta da lei, e não por ser um dever primordial da escola: educar a todos sem distinção.












           







[1] Currículo e diversidades: a garantía de igualdade de oportunidades. Funiber, Florianópolis, Capítulo 2, página 33.
[2] MRECH, Leny Magalhães. O que é educação inclusiva. Acessado em 14 de maio de 2014 na página: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/10/1-o-que-e-educacao-inclusiva.pdf
[3] Estruturas organizacionais para atender a diversidades.  Funiber, Florianópolis, p.70.
[4]RODRIGUES, David (Org).  Inclusão e Educação: Doze olhares sobre a Educação inclusiva. Acessado em: http://books.google.com.br/books. no dia 14 de maio de 2014.

[5] Entrevista realizada com a Professora Elga de Oliveira no dia 06 de maio de 2014.
[6]Estruturas organizacionais para atender a diversidades.  Funiber, Florianópolis, p.85.
[7] Estruturas organizacionais para atender a diversidades.  Funiber, Florianópolis, p.79.

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