quinta-feira, 15 de maio de 2014

A aula de História e as novas tecnologias.



A utilização de tecnologias da informação, as chamadas TIC, e de todos os seus recursos em sala de aula nem sempre é feito da melhor maneira. Por uma série de questões, um bom número de Professores não consegue desenvolver de forma adequada suas aulas com certa “compatibilidade” á essas inovações do mundo moderno.  Na maior parte dos casos o problema não é a falta de conhecimento por parte do professor, mesmo sabendo que muitos não estão ainda bem familiarizados com esses recursos. Há além das dificuldades de lidar com o “novo,” certa rejeição por parte de muitos educadores.
Inúmeras são as escolas brasileiras que não possuem laboratórios de informática ou a estrutura mínima necessária para que se possa desenvolver um bom trabalho de acordo com as novas mídias e tecnologias existentes. Há que se criarem atrativos para os alunos, que ao conviverem diariamente com tecnologias em suas vidas, seja no aparelho de telefonia celular, nos computadores portáteis, nos cybercafés ou em suas casas, acabam se entediando com o formato das aulas (antigo, ultrapassado e sem inovações) que mais lhes parecem uma tortura do que algo engrandecedor.
O mundo avançou muito nos últimos cem anos, mas a escola pouco mudou em sua forma de ensinar, principalmente no que diz respeito a escola pública. De acordo com Moran, “muitas formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais, aprendemos muito pouco, desmotivamos-nos continuamente”.[1] Como conseguir promover esta mudança construindo uma relação de interconexão entre tecnologias e conhecimento? Como transformar todas as informações que bombardeiam nossos jovens diariamente em algo que lhes possam de fato ser útil em seu cotidiano, e que possa ser minimamente interessante e estimulante para esta geração que se distancia muito velozmente de todas as outras que lhe antecederam? Esta é uma pergunta que deve ser pensada e muito bem respondida.
Segundo Quartiero, ”a prática de ensino com a utilização de TIC, como suporte é tarefa difícil que necessita de muitos estudos por parte dos órgãos envolvidos na implantação desses avanços tecnológicos na escola”.[2] Sabemos que a transferência dos conhecimentos e estudos acadêmicos até a chegada a escola leva muito tempo. É muito comum também uma difícil assimilação por parte dos professores dos níveis fundamental e médio da linguagem tanto fornecida por acadêmicos quanto da linguagem tecnológica. A que se simplificar para que se possa evoluir com mais clareza e rapidez.
 O Historiador britânico Eric Hobsbawn ao escrever seu livro a “A era das revoluções” disse ser “desnecessário sobrecarregar o texto com o pesado aparato acadêmico que exigiria um público mais erudito”.[3] Creio que esta observação possa ser levada para a questão das TIC, ou seja, devemos usar linguagens simples e de fácil compreensão tanto para alunos quanto para professores.
Tentarei apresentar de forma simples três projetos de como se utilizar as tecnologias da informação em sala de aula no que se refere à matéria de História. São trabalhos que irão mesclar informações de senso comum, entrevistas, vídeos, passeios históricos e pesquisa acadêmica, que neste último caso, servirão para esclarecer algumas lacunas que o senso comum irá deixar. Desenvolvi as ideias baseadas em minha cidade, mas que podem ser adaptadas para a maioria dos municípios brasileiros.

Projeto 1 : Trabalhando com a História local; o caso da “santa fujona” de Macaé.
Contexto de ensino:

            Este trabalho de História local será realizado na cidade de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, cidade na qual resido e trabalho. O ideal é que seja aplicado com turmas de 8º e 9º ano do ensino fundamental e turmas de ensino médio com idade a partir dos 13 anos, e nas aulas de História do Brasil no período colonial. A turma deverá ser dividida em grupos que deverão contar com até seis alunos cada. 

Disciplina: História, História do Brasil.

Tipo de atividade: após uma explicação do professor em sala, os alunos deverão fazer uma pesquisa prévia na internet a respeito da lenda de Santana no município de Macaé. Em seguida, munidos destas informações deverão organizar uma entrevista com pessoas mais antigas da cidade que tem conhecimento da lenda, produzindo um vídeo em que mostrarão a entrevista e uma apresentação do grupo explicando os “fatos” e as conclusões. O vídeo deverá ser postado em uma página de uma determinada rede social da referida turma, onde os mesmos deverão assistir comparar e comentar com seus colegas, podendo posteriormente ser divulgado na rede para outras pessoas o conhecimento produzido.

Objetivos das atividades: O objetivo será fazer com que os alunos conheçam através da “lenda de Santana” a História do Brasil em seu período colonial, a partir de sua localidade, das proximidades de onde residem, mostrando desta forma, que os conteúdos das aulas não se referem a coisas que aconteceram “apenas” nos livros, totalmente fora de contexto e sem pessoas como elas próprias como agentes construtores da História. Sobre a lenda, conta-se a sabedoria popular que a mesma teria sido encontrada em uma ilha próxima a ao litoral da cidade, e que posteriormente levada ao continente teria fugido da capela onde se encontrava e reaparecido na ilha por mais de uma vez. Sempre que reencontrada e levada de volta, fugia novamente. Para evitar que isto continuasse a ocorrer, os padres jesuítas teriam construído a igreja de costas para a ilha para que a santa não sentisse saudades e fugisse novamente. O que os fatos contam é menos fantasioso e deverá ser desconstruído posteriormente pelo professor.

Conteúdos que os alunos deverão dominar: os alunos deverão dominar os conteúdos das aulas de história a partir do 8º ano e o entendimento mínimo de acesso a rede de internet e filmadoras, celulares, etc.

Tempo das atividades: primeiramente o tempo de duas a três aulas para se discutir com os mesmos os passos para as atividades assim como para contar a lenda. Irão precisar de um tempo extra de aula, uma lição de casa, para produzirem a entrevista, algo entre duas a três horas, mais período aproximado para escreverem o texto e postarem o vídeo da entrevista na internet. Serão necessárias aulas posteriores para que a turma possa assistir aos vídeos produzidos, analisando as conclusões. Como fechamento, o professor deverá apresentar o que de fato diz a História sobre a lenda, superando muitas das informações de senso comum com as quais seus alunos irão se deparar.

Avaliação: os alunos serão avaliados mediante sua participação nos trabalhos e postagem de um texto na página da turma contando sua experiência e como entendeu a diferença entre as informações da História oral com as pesquisas históricas.  Caberá ao professor analisar se as postagens dos textos dos alunos na rede social serão necessárias ou se será melhor textos escritos e entregues em mãos.


Projeto 2:  análise de fotografias de ontem e hoje e a utilização de imagens de satélite em uma aula de Brasil Império.

Contexto de ensino: Este trabalho de História local também será realizado na cidade de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, cidade na qual resido e trabalho. O ideal é que seja aplicado com turmas de 8º e 9º ano do ensino fundamental e turmas de ensino médio com idade a partir dos 13 anos, e nas aulas de História do Brasil no período colonial. A turma deverá ser dividida em grupos que deverão contar com até seis alunos cada. 

Disciplina: História, História do Brasil Imperial.

Tipo de atividade: após uma explicação oral do professor em sala, os alunos deverão fazer uma pesquisa prévia na internet buscando fotos antigas da cidade de Macaé, interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Através das fotos irão ter contato com uma cidade que já não mais “existe”. De posse das fotos, deverão utilizar um programa de buscas da internet, que apresenta imagens de satélites sempre atualizadas de lugares que estamos à procura. O Google hearth seria um exemplo de programa. Pode-se organizar posteriormente uma visita a alguns dos locais pesquisados contextualizando o período em que a foto se refere no passado mais distante, como por exemplo, a questão da abolição da escravatura e a proclamação da República tanto no contexto macro como no da micro História.

Objetivos das atividades: Fazer com que os alunos através das imagens de ontem e de hoje possam perceber as profundas modificações ocorridas na cidade ao longo do tempo. Será possível ter contato com algumas construções de meados do século XIX que ainda se encontram bem conservadas, e que muitos deles passam em frente no cotidiano e não percebem. Deverá ser contextualizado neste caso, o período imperial da História do Brasil analisando-se os contextos de âmbito nacional e internacional.

Conteúdos que os alunos deverão dominar: Além dos conhecimentos referentes a História, deverão ter conhecimentos básicos de acesso a  internet.

Tempo das atividades: primeiramente o tempo de duas aulas para se discutir com os mesmos os passos para as atividades assim como contextualizar os locais com os fatos históricos. Irão precisar de um tempo de aula para produzirem um texto em forma de redação descrevendo suas impressões a respeito dos locais, das mudanças ocorridas e de sua proximidade com fatos narrados nos textos dos livros didáticos e da proximidade que existe e que em muitos casos os mesmos não sabem que existe.

 Avaliação: o aluno ou a aluna será avaliado mediante sua participação nos trabalhos e postagem de um texto na página da turma contando sua experiência e como percebeu as mudanças na paisagem e o comportamento social.


Projeto 3: Uma “visita” a capitania de São Tomé através de uma busca na internet.

Contexto de ensino: na cidade de Macaé, interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil. Trabalho a ser realizado com alunos de 8º e 9º ano do ensino fundamental e alunos do ensino médio, com idades entre 13 e 17 anos. Grupos formados por 5 ou 6 alunos cada.

Disciplina: História e Geografia.

Tipo de atividade: uma pesquisa a respeito das capitanias hereditárias brasileiras, seu contexto histórico e a questão geográfica de suas fronteiras a época das grandes navegações, do descobrimento do Brasil, e de sua colonização. Leitura de textos e visualização de mapas, e busca através da internet da antiga divisa entre as capitanias de São Tomé e São Vicente, que se encontra dentro dos limites do município de Macaé.

Objetivos: O objetivo será fazer com que os alunos percebam as mudanças geográficas e históricas tanto na História do Brasil, como na História de sua cidade. O que ontem era algo ou lugar hoje pode ser outro. O que um dia foi Brasil, hoje pode ser o Uruguai. O que hoje é Brasil, ontem foi Bolívia (caso do Estado do Acre que até o início do século XX pertencia a Bolívia e  tornou-se o Estado do Acre através de acordos diplomáticos e de mudanças de linhas divisórias).

Conteúdos que os alunos deverão dominar: os conhecimentos referentes ao período estudado e de utilização básica de computadores e máquinas fotográficas.

Tempo das atividades: o tempo de duas aulas para se discutir com os mesmos os passos para as atividades assim como contextualizar os locais com os fatos históricos. Irão precisar de um tempo de aula para produzir um texto em forma de redação descrevendo suas impressões a respeito dos locais, das mudanças ocorridas e de sua proximidade com fatos narrados nos textos dos livros didáticos e da proximidade que existe e que em muitos casos os mesmos desconhecem.

Avaliação: Os alunos serão avaliados de acordo com sua participação nas tarefas, que se constituirão em leitura de textos, pesquisa na internet de mapas, e produção de um Banner ou cartaz contando a História das capitanias junto de fotografias dos mesmos no local relatado pela História como sendo a fronteira entre duas capitanias brasileiras e que hoje se encontram no município de Macaé. O professor deverá programar uma visita aos locais referidos nestes trabalhos para dar maior ênfase nos trabalhos e organização na aquisição dos conhecimentos.


Bibliografia:

HOBSBAWM, Eric J., 1917. A ERA DAS REVOLUÇÕES, 1789-1848. São Paulo; Paz e Terra, 2009.
MORAN, José Manuel. Novas tecnologías e mediação pedagógica. Marcos T. Masseto, Marilda Aparecida Behrens. Campinas, Papirus, 2000.

QUARTIERO, M.E. As tecnologías de informação e de comunicação no espaço escolar. Florianópolis, 2002. Tese (doutorado em engenharia de produção). Universidade Federal de Santa Catarina. IN: EDUCAÇÃO/ organizadores; Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, Reginah Pahim Pinto. São Paulo; Contexto, 2007. Realização Fundação Carlos Chagas. Programa internacional de bolsas da Fundação Ford.





[1] MORAN, José Manuel. Novas tecnologías e mediação pedagógica. Marcos T. Masseto, Marilda Aparecida Behrens. Campinas, Papirus, 2000, p.11.
[2] QUARTIERO, M.E. As tecnologías de informação e de comunicação no espaço escolar. Florianópolis, 2002. Tese (doutorado em engenharia de produção). Universidade Federal de Santa Catarina. IN: EDUCAÇÃO/ organizadores; Luiz Alberto Oliveira Gonçalves, Reginah Pahim Pinto. São Paulo; Contexto, 2007. Realização Fundação Carlos Chagas. Programa internacional de bolsas da Fundação Ford.
[3] HOBSBAWM, Eric J., 1917. A ERA DAS REVOLUÇÕES, 1789-1848. São Paulo; Paz e Terra, 2009.

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