quinta-feira, 6 de outubro de 2011

A indústria de controle da criminalidade...
Para se ganhar dinheiro com um negócio é necessário que haja uma demanda por tal produto ou serviço. É preciso que as pessoas acreditem que realmente precisam consumir tal mercadoria. Que trata-se de algo relativamente importante para seu bem estar.
No caso da tranqüilidade, do viver em sossego, com paz e segurança, qualquer esforço será válido, afinal estes são um dos pontos primordiais para uma sociedade se desenvolver. Não queremos ver nossos filhos sendo criados em meio à violência cotidiana que tanto nos aflige.
Os índices de criminalidade dos tempos atuais são relativamente altos. Alguns se perguntam : são realmente altos de fato ou o número de definições para um comportamento criminoso é que tivera aumento? Talvez um pouco de cada. Mas, o que estaria provocando este aumento? O que poderia estar “degenerando” nossa sociedade? Isto seria interessante para alguém? Seria lucrativo? Qual a indústria que mais ganha dinheiro no mundo? Quais são os crimes que mais prejuízos trazem as sociedades? Por quem são cometidos? Como são suas punições e seus tratamentos?
Estas perguntas não são tão difíceis de responder, afinal, ocorrem todos os dias e há muito, muito tempo.
 Neste texto estarei tentando tratar de assuntos ligados a criminalidade, a delitos, mesmo não sendo um especialista em criminalidade. Trata-se apenas de um cidadão que tenta encontrar respostas que fujam ao senso mais do que comum.
Fazendo uma análise de algumas décadas atrás, mais especificamente ao início dos anos 1980, e mais especificamente ainda no continente europeu, que seria o continente mais “desenvolvido,” econômica e socialmente deste mundo. Veremos algumas mudanças em certos aspectos comportamentais de seus cidadãos e algo de muito familiar para nós brasileiros: a corrupção dos mais ricos e a falta de punições para os mesmos.
Os anos 1980 seriam descritos como o período final da política de bem estar social, do pleno emprego, das garantias sociais para a maioria e do surgimento do desemprego em massa desde o pós guerra.
O aumento do nível de desemprego na referida década provocou algo que ainda não fora visto (pelo menos nos índices estatísticos): o aumento da criminalidade. As populações carcerárias aumentaram em toda a Europa de forma significativa (Para os marxistas (e eu concordo com eles) a prisão é o meio utilizado pelo capital para disciplinar o trabalho e manter a ordem pública). É sabido que quem mais sofreu com o aumento do desemprego e da criminalidade foram os mais pobres. Não é preciso nenhum dado estatístico para saber disto. Estes passaram a super lotar as carceragens de vários países europeus (nas eleições suecas de 1991 o slogan do partido de centro direita era: ”que fiquem eles nas prisões para que nós possamos sair”).
Com relação aos crimes de colarinho branco cometidos pelos mais ilustres representantes daquela sociedade, estes também aumentaram em número; de acontecimentos e não de prisões.
Outro aliado da miséria advinda do desemprego que prosperava, fora a falta de moradia: foram mais de três milhões no fim da década aqui estudada.
Ao subir ao poder na Inglaterra, a primeira ministra Margareth Thatcher começou a promover uma política que ia direto contra o bem estar social. Nos anos anteriores ao governo Thatcher, os sindicatos dos trabalhadores haviam ganho muita força, e isto fazia com que os mesmos enfrentassem seus patrões e conseguissem se impor e obter conquistas significativas, tanto em seus salários como em vários outros benefícios. Os sindicatos eram muito mais ativos, e não se dedicavam apenas as questões trabalhistas, mas também a questões sociais em geral.  Thatcher adotara uma política anti sindicatos, para que através disto pudesse enfraquecê-los. A decisão de não aceitar ser chantageada por sindicatos, que mantinham um pulso muito forte diante dos governos anteriores, logo se transforma em uma política de extermínio ou redução ao máximo de sua força. Alguns analistas dizem que o governo não tinha interesse de criar um desemprego maciço, mas no fim das contas foi mais ou menos isso que ocorreu. Salários diminuíram, a inflação aumentou. A média inflacionária subiu de 3,7% entre 1961/1969 para 6,4% em 1973, e para 10% entre 73/79. O governo Thatcher com relação ao seu antecessor conseguiu triplicar o desemprego. Entre os anos de 1960 e 1985 a mão de obra industrial caiu de 47% para 41% na Alemanha, de 40% para 26,5% na Holanda, e de 36% para 31% na Espanha. Isto acabava por provocar a aceitação por parte dos sindicatos de ganhos menores, visto que as coisas iam muito mal, e vale aquele velho ditado: é melhor pingar do que secar.
Em países como França, Espanha e Holanda os sindicalizados a cada dia diminuíam. Muitos trabalhadores passaram a não acreditar em seus sindicatos. Outros estavam desempregados, logo, não podiam se sindicalizar e contribuir. Esta onda de desemprego em massa acabou por diminuir o número de greves acentuadamente. As mulheres passaram a ocupar muitas vagas antes destinadas aos homens, com a vantagem para o empregador de se pagar valores mais baixos. Muitos analistas descreveram que se tratava do momento da “morte do proletariado”, que durante um século promovera lutas e conquistas para os trabalhadores, e que agora tinha de se curvar a tática do capital para aumentar a mão de obra disponível e diminuir os salários. A lógica era simples. Em vez de ter a maioria empregada, com poucos concorrentes por vaga, é melhor possuir muitos desempregados loucos por uma vaga (já ocupada), fazendo com que o ocupante da vaga se sujeite a baixos salários, tendo em vista que:” se você não quer o emprego, tenho dez na fila querendo o seu lugar...
Desta forma colocou-se o trabalhador e seus respectivos sindicatos contra a parede, provocando uma guinada tremenda em uma queda de braço que até então não era tão desigual. Temos neste referido período vários fatores que levaram ao surgimento da indústria de proteção de pessoas em larga escala (algo que já vinha ocorrendo na América do norte). Seu principal aliado fora a disseminação da miséria, alavancada e arquitetada por vários políticos e intelectuais de renome no continente europeu. A partir deste momento, começamos a ver o surgimento de sistemas de vigilância, monitoramento por câmeras e empresas de segurança particular. Muitos trabalhadores começam a ser empurrados para o sub mundo do crime.
Esta relação entre desemprego e criminalidade é comprovada por várias pesquisas mundo afora. O pesquisador Túlio Khan, especialista em criminologia nos diz que mesmo assim estes efeitos não podem ser sentidos de imediato. Segundo ele, estas pessoas diante da falta de emprego buscam várias alternativas antes de se colocarem na marginalidade. “ninguém normal perde o emprego num dia e se torna assaltante de banco no outro”, diz. O novo desempregado inicialmente busca se inserir novamente no mercado de trabalho formal. Não conseguindo busca o trabalho informal, a ajuda de familiares, bicos e todas as alternativas possíveis. A maior parte das pessoas busca sempre formas dignas de sobrevivência. O crime é uma atitude extrema para a grande maioria.  Khan nos diz que entre os anos de 1981 e 1983, o Brasil enfrentava sérios problemas econômicos, com baixa taxa de crescimento e queda no nível de emprego. Paralelamente a isso tivemos um acentuado aumento no número de furtos no mesmo período. A partir de 1984 quando a economia melhora alavancando o aumento do número de empregos, o número de furtos registrados cai significativamente. O mesmo nos diz que “quando em 1986, no auge do plano cruzado, a taxa de desemprego total na grande São Paulo caiu de 12,2 para 9,6, os índices de furtos caíram 14%.” E continua dizendo que “com o fracasso do plano cruzado em 1987 os índices de furto voltaram a crescer.
Há que se entender também a questão da reincidência a que são acometidos boa parte dos ex detentos. Conseguir um emprego com a ficha suja é muito mais difícil. As taxas de reincidência criminal chegam a quase 50% entre ex detentos, explica Khan.
Na questão da taxa de homicídios, a taxa brasileira é três vezes maior que a de mais de cem países do mundo. Segundo Khan enquanto em outros 108 países pesquisados a taxa para cada cem mil habitantes fica em 8,5%, no Brasil atingimos o número de 24,1 homicídios por cem mil habitantes. De acordo com dados das nações unidas nos países em desenvolvimento a violência é superior a dos países desenvolvidos e dos menos desenvolvidos.  
Países cheios de conflitos sociais apresentam melhores índices que o de nosso país. Veja-se o caso da África Subsaariana, englobando 17 países, possui um índice de homicídios que chega a pouco mais da metade do brasileiro (24,1), ou seja, 13%. Nas Américas ficamos atrás apenas de Colômbia, Honduras e Jamaica entre os mais violentos.
A ligação entre subdesenvolvimento, desemprego e criminalidade pode ser atestada de forma clara a partir de tais pesquisas. O aumento das taxas de desemprego a partir da década de 1980, tendo como princípio o fim do estado de bem estar social, e o enfraquecimento dos sindicatos tomado como um projeto de Estado também pode ser verificado. Entre os grandes beneficiários deste aumento da violência encontraremos sempre grandes empresas, poderosos empresários e parlamentares que ficam felizes ao ver contratos e licitações milionárias para a aquisição de armas e veículos para produzir uma falsa sensação de segurança e um verdadeiro cheiro de sangue nas favelas brasileiras. É fato que as guerras, o terrorismo, ou a pregação do terrorismo não deverão desaparecer tão cedo, afinal, quantos políticos perderiam patrocínios de campanha proveniente das empresas produtoras de armamentos e munições?
Caso emblemático foi o da aquisição de caças para a força aérea brasileira. Enquanto os técnicos chegaram a conclusão de que os caça suecos eram os melhores, e que deveriam ser estes os adquiridos pelo governo brasileiro, o presidente Lula  a época disse preferir os caça franceses. O motivo? A empresa que produzia os caça franceses estava em dificuldades financeiras, e esta mesma empresa patrocinara a campanha do primeiro ministro francês Nicola Sarkozy, que estava apoiando o Brazil na luta por conseguir uma cadeira no conselho de segurança da ONU. Infelizmente não são estes fatos que chegam até nosso povo, ou, que se chega passa desapercebido ao largo da conversa do fim do dia que de "relevante" há apenas o futebol e o próximo capítulo da novela.      Alex Grijó

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