quinta-feira, 19 de junho de 2014

A História local como instrumento de valorização da cultura, da cidadania e da construção de identidades


A necessidade de se ampliar o conhecimento da História local se dá devido à questão da perda de identidade proporcionada pelas rápidas mudanças do mundo moderno que faz com que importantes aspectos da cultura popular da região se percam em um caldeirão de homogeneização cultural. Para se entender múltiplos aspectos de nossa História do Brasil em seu sentido amplo, há que se entender como isto se deu na História de sua região.
 É possível encontrar “vestígios” de nosso passado colonial, imperial e das primeiras décadas da República em muitas cidades grandes e pequenas deste país. Para isto, faz se necessário uma ampliação dos olhares por parte dos professores e pesquisadores locais, fazendo com que os estudantes enxerguem, onde antes viam apenas coisas antigas, momentos passados que interferem em suas vidas até o momento presente.
            Hoje, com os grandes deslocamentos humanos em busca de trabalho e melhores condições de vida, o que acaba ocorrendo é uma “miscigenação” cultural, e em muitas ocasiões, um choque entre estas culturas e mesmo a absorção das culturas de minorias de uma forma negativa, e que no fim acabam sendo “engolidas” pela cultura dominante das mídias modernas. Este tema das interelações culturais é conhecido por interculturalismo. Banks (1993) nos diz que “multiculturalismo é uma noção que reflete uma variedade de significados e interesses. Uma categoria na qual se acobertam temas como a etnia, as minorias culturais, os estudos de tradição, folclore e a defesa de uma sociedade multicultural”.[1]
Por este motivo acredito ser de suma importância os estudos de História local interligados com suas práticas culturais e com o que ocorre e ocorreu na História de nosso país. É o ensino de História voltado para a valorização da cultura local de uma forma crítica e prática. Visa fazer com que o aluno se sinta parte dos acontecimentos. A ideia é fazer com que os mesmos sintam a História não como algo “existente” apenas nos livros escolares, mas como algo real de um passado que nos influencia, nos molda e de certa forma, nos mantém na condição de oprimidos.

Objetivo geral:
A intenção deste trabalho é o de despertar nos jovens estudantes o interesse pela História de sua localidade de nascimento ou mesmo do lugar onde hoje vivem. Através disto fazer com que os mesmos tomem consciência dos acontecimentos ali ocorridos ao longo dos séculos, de como a História se faz com permanências e rupturas e de como, principalmente as permanências podem de inúmeras formas lhes ser prejudiciais.
Ao realizar este trabalho, visamos promover mudanças não apenas nos alunos, mas na comunidade escolar como um todo. Estes jovens munidos de novos conhecimentos ocorridos ali bem onde vivem, entendendo práticas políticas que se repetem a décadas, terão instrumentos em suas mãos para possivelmente modificar sua comunidade. Um dos objetivos é fazer com que eles entendam como o ensino de História não é estático, como pensa o senso comum. Entender como estudar a História dos acontecimentos do século 19, por exemplo, pode nos fazer ter um melhor posicionamento em pleno século XXI.

Objetivos específicos:

            As ações necessárias para a realização do projeto devem se dar inicialmente na mudança do formato das aulas. Deverão ser organizadas aulas em lugares distintos da sala de aula. Este trabalho deverá ser preferencialmente realizado com alunos dos oitavo e nono ano do ensino fundamental e a das séries do ensino médio. Faz se necessário um maior grau de maturidade para o entendimento mais profundo dos conteúdos, assim como dos deslocamentos até os locais das aulas.
            Existem espaços nas cidades em que o professor pode previamente agendar um horário e promover aulas, que funcionarão como trabalho de campo, em que os jovens alunos poderão se sentir mais “próximos” do passado estudado. Posso citar como exemplo em minha cidade o prédio da Câmara de vereadores, prédio que data do século XIX; o Quartel do Exército local, datado do fim do século XIX, e que abriga as ruínas de uma antiga fortificação militar portuguesa do século XVI, que servia para combater navios piratas franceses traficantes de pau Brasil. Há também um sítio arqueológico datado do século XVIII que abrigava antigo aldeamento indígena organizado por padres seculares, e que ficava exatamente na fronteira entre a capitania do Paraíba do sul e a capitania de Cabo Frio. Há a antiga igreja de Santana, localizada onde os padres jesuítas se instalaram a partir de 1630.
            Todos estes lugares servirão de instrumento de análise para se discutir a História do Brasil e a História e cultura local de uma forma muito mais marcante e ampla que a forma tradicional de ensinar recluso em sala de aula.  A ideia é sensibilizar os alunos para acontecimentos marcantes, e fazer com que os mesmos se sintam parte integrante de todo o processo Histórico, e desta forma se sintam como agentes promotores de futuras mudanças em suas realidades. O professor ao contextualizar lugares e acontecimentos, rupturas com permanências, poderá provocar nos alunos o desenvolvimento do senso crítico a respeito de muitas posturas que permanecem com o passar dos séculos em sua cidade e região.

Resultados esperados:

            Com a implantação deste projeto, esperamos alcançar uma maior clareza na visão dos estudantes do ensino fundamental e médio. O objetivo é fazer com que os mesmos entendam seu lugar no mundo, e a partir daí passem a ter uma postura mais crítica diante dos fatos e acontecimentos ao seu redor. Que também possam valorizar mais sua cultura e História de seus antepassados e de sua região, evitando assim cometer velhos e repetidos erros e saindo da esfera de dominação das classes privilegiadas.
            Espera-se também que a escola saia da condição precária em que se encontra em que não se formam nem profissionais nem cidadãos, apenas finge cumprir seu papel. Que posturas críticas de alunos possam ser motivadores de novas posturas da comunidade escolar, promovendo assim discussões saudáveis e comprometidas com as mudanças sociais tão necessárias a nossa convivência.




Abrangência e contexto:

            O objetivo do projeto é alcançar toda a comunidade escolar. Não será algo em curto prazo. Na medida em que os alunos estiverem modificando suas posturas, transformando-se em seres críticos e conscientes (tudo isto dentro de suas realidades), a intenção será que isso contagie as pessoas próximas, que de imediato serão seus colegas e membros de família.
            A ideia é a de promover mudanças comportamentais nos jovens através do ensino de História em seu contexto local, fazendo com que os mesmos valorizem-se e busquem soluções e posturas construtivas para sua comunidade.

Plano de ação:

            Para o bom desenvolvimento do projeto devem-se analisar primeiramente os conhecimentos prévios dos alunos a respeito dos temas a serem discutidos. Discussões em sala de aula e redações podem ser bons instrumentos. A direção da escola deve estar totalmente ciente do projeto. Deverá estar também de total acordo e dando todo o apoio necessário.
As visitas aos campos de estudo deverão ser sempre bem acertadas. Tudo deve ser muito prévio. Entrevistas com pessoas mais velhas serão um bom instrumento para que os alunos busquem maiores informações sobre aspectos da História e cultura local. Deverão ser confrontados os dados obtidos com as entrevistas e as informações que serão repassadas pelo professor. Trata-se de um ótimo meio de se conseguir corrigir erros.
Este projeto não abrange períodos delimitados. Se tiver de ser assim, seu período será o do ano letivo. A questão da conscientização e valorização cultural é algo permanente. Não se desenvolve como projetos que abrangem datas e acontecimentos específicos. É algo constante.
Anteriormente as visitas deverão ser feitas discussões em sala de aula sobre os locais e fatos históricos a serem apresentados. A programação das visitas aos sítios deverá provocar certa excitação nos jovens, e o professor deverá saber aproveitar bem isto. Poderão ser pedidos trabalhos nas semanas anteriores. Acredito que de duas a três semanas antes das visitas poderão ser organizados e discutidos os trabalhos.
O ideal é que estes trabalhos sejam voltados para a cultura e História local com base em pesquisas e entrevistas, e não apenas pesquisas em livros ou internet. Desta forma os alunos conseguirão interagir de forma mais ampla com possíveis aspectos do cotidiano local que desconhecem.

Cronograma:

Para os bimestres:
 As duas primeiras semanas de aulas deverão ser sobre os temas. Deve se escolher um dos períodos históricos brasileiros, neste caso os períodos colonial, imperial e republicano. Como o ano é dividido em quatro bimestres, um dos períodos brasileiros deverá ser dividido em dois. Como foi citado anteriormente quatro sítios ou locais de acontecimentos históricos já está resolvido o problema. Um para cada bimestre. E o desenvolvimento deverá ser basicamente o mesmo nos bimestres seguintes.
A terceira e quarta semanas darão ênfase a busca das informações de variadas formas como as pesquisas em bibliotecas e entrevistas.
A quinta e sexta semanas deverão estar voltadas para a análise e apresentação do que foi levantado pelas pesquisas.
A sétima semana deverá ser a semana de visitação de um dos lugares históricos estudados.
A oitava e nona semana ficará voltada para a discussão em sala de aula do que foi aprendido.
As conclusões deverão ser expostas ao restante da escola, não apenas através de cartazes, mas possivelmente através de um vídeo, ou de vários vídeos que deverão ser postados em uma página da internet em que todo o corpo escolar possa ter acesso. Isto deverá não apenas empolgar os alunos, mas desenvolver um espírito de consciência de preservação de sua cultura e da cultura de sua localidade.
A última semana ficará a cargo da avaliação que não deverá ser de forma alguma em formatos tradicionais, já que cada aluno aprende de uma maneira, e é isto que deve ser avaliado.

Desdobramentos:

            Os desdobramentos esperados são o do entusiasmo com um passado tão rico e tão próximo que a maioria daqueles jovens não esperava. A ideia é buscar um encantamento com as descobertas históricas e culturais da região. Fazer com que os alunos repassem isso para os que estiverem próximos dos mesmos. A expectativa é a de um desenvolvimento de um sentimento de pertencimento e de “proprietário” daquele passado e daquela cultura.











           
           





[1] BANKS, J.A. Multicultural education: historical development dimensions, and practice. Review of research in education, n 19, p3-49, 1993b.

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