domingo, 17 de abril de 2011

A bíblia e a escravidão...

Está na Biblia...
Confesso que quanto mais tento entender o que leva uma pessoa a acreditar em mitos religiosos, mais tenho a clareza de minhas convicções de que somente são levadas por puro e irrestrito desconhecimento. Por viverem, como os mesmos dizem, como cordeiros que necessitam de um pastor para dizer-lhes o que é certo, e o que é errado, o que devem e o que não devem pensar. É a mais pura política do medo, que aliás, se perpetua entre nós a séculos e séculos.
Tentarei aqui explicitar algumas de minhas dúvidas e perplexidades a respeito da moralidade religiosa, e dos preceitos morais bíblicos, tentando utilizar na maior parte do tempo minha faculdade mental e o texto bíblico. Existem milhares de citações interessantíssimas que poderia utilizar como tema para uma primeira discussão. Não sei se importará qual será o primeiro ou o último tema. Tentarei seguir a ordem estabelecida dos livros dentro da bíblia.
Começarei minhas indagações pelo livro do Êxodo, capítulo 21, versículo 2. Este trecho fala sobre servidão, que deixa bem claro pelas leis de deus ser algo moralmente aceito. Assim está escrito: “se comprares um servo hebreu, seis anos servirá; mas no sétimo sairá forro, de graça”. Quer dizer, realmente posso possuir uma pessoa. De acordo com os dicionários, servidão seria um sinônimo de escravo, mesmo tendo uma conotação diferenciada. Vejamos o que diz o Aurélio: cativo, escravo, serviçal.  Então, não haveria nada de errado com a escravidão de negros africanos em nossa história. Bem, acho que neste ponto é possível encontrar uma defesa para esta questão. A passagem diz que deverá ser servo por apenas sete anos, e não até a morte, como ocorreu em milhões de casos apenas para citar o Brasil. O erro foi ultrapassar o período estabelecido por deus em suas escrituras... Mas, continuemos com o livro do êxodo.
O trecho seguinte diz como deverá sair o servo após os sete anos de trabalho. ”se seu senhor lhe houver dado uma mulher e ela lhe houver dado filhos ou filhas, a mulher e os filhos dela serão de seu senhor e ele sairá sozinho.” (êxodo, 21,4.) neste caso, tendo em vista a possibilidade de perder mulher e filhos, o homem poderá dizer que não quer sair. Isto é o que vem em seguida no texto. Neste caso o que ocorre é o seguinte: ”então seu senhor o levará diante de juízes e o fará chegar à porta, e o seu senhor furará a sua orelha com uma sovela (instrumento usado por sapateiros para furar o couro); e ele o servirá para sempre”. Apesar de viver em um país católico, de conviver com religiosos cristãos de todos os tipos e denominações possíveis (bem, eu acho), não conheço um que tenha conhecimento de tal passagem, ou pelo menos tenha lido ou questionado tal assunto.  Afinal, deus era a favor da escravidão? Estão enganados aqueles que lutaram em favor da abolição da escravatura? A luta deveria ter sido pelo estabelecimento legal do tempo no cativeiro de apenas sete anos? Confesso estar confuso a respeito disto. Confesso estar confuso até a respeito de meus padrões de moralidade, já que considero abominável a idéia de alguém me pertencer. De ser dono de alguém e dizer o que deve fazer, onde dormir, a que horas comer, ou que se cale ou abaixe os olhos toda vez que me ver. Minha moralidade não concorda com isto. Serei eu então um imoral? Bem, deixemos esta questão e continuemos nosso passeio bíblico ainda pelo livro do Êxodo.
É sabido que a bíblia ou deus tem certo, digamos, preconceito. Seria esta a palavra para dizer como os textos se referem às mulheres? Digamos que seja isto. A passagem seguinte do livro do êxodo trata de como proceder na venda de sua filha, ou minha. Não tenho filha, apesar de querer, mas mesmo não possuindo não sei se faria com ela o que tal texto me autoriza. O que não posso, o texto deixa claro, é vendê-la para povos estrangeiros. Isso não é permitido.  
Dizem que a bíblia é um guia moral a ser seguido. Não sei se minha filha entenderia desta forma, ou gostaria que eu entendesse assim. Alguns podem dizer que isto não é para esta época. É apenas para aquele contexto. Outros dirão que não se pode julgar as ações daquele período com os pensamentos e princípios éticos atuais. Concordo plenamente. E é por isso que a bíblia não pode ser usada nos dias atuais. Nem um versículo, nem um livro, afinal, onde estão as novas leis revogando estas antigas? Por que deus enxergava as mulheres desta forma inferior naquela época? E a servidão? Por que ele concordava? Para ele isto era moralmente aceito? E hoje não o é? Por causa dos princípios morais de nossa época, ou mudança de pensamento de um deus que não erra? Acho que se eu fosse deus, com toda a minha sabedoria, não iria infligir sofrimento proveniente de qualquer que seja a origem, e, a escravidão que fora e é algo que degrada o ser humano retirando sua dignidade, não seria algo que eu concordaria. Mas, eu não sou tão sábio assim para ser deus...

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