terça-feira, 29 de maio de 2012

O passado de Santana...

Outro dia, quando passava próximo a antiga igreja de Santana, no alto do morro que leva o mesmo nome, resolvi entrar e fazer uma visita  aos mortos e buscar encontrar, quem sabe, "habitantes" ilustres ou mesmo muito antigos daquele lugar. Ví algumas pessoas importantes da sociedade local que já passaram desta vida e agora descansam ali, em paz e silêncio. Na verdade procurava pelo tûmulo de algum padre jesuita, que quem sabe ainda se encontre por ali conservado. Afinal, a igreja, ou a primeira capela de Santana fora fundada pela ordem jesuitica no ano de 1630,e que por ali permaneceram até 1759 quando tiveram de deixar o país devido a expulsão de terras portuguesas impostas pelo poderoso Marquês de Pombal.
Os primeiros registros dos Jesuítas em Macaé datam de 1634.A ordem teria se instalado por aqui para povoar o l ocal, catequizar os indígenas e impedir a invasão de outros povos que estavão de olho nestas terras. No princípio foi fundada à margem do rio Macaé e próxima ao Morro de Sant'Ana uma fazenda agrícola, que no correr dos anos ficou sendo conhecida como Fazenda de Macaé ou Fazenda de Sant'Ana.
Na base do morro, entre este e o rio, levantaram um engenho de açúcar com todas as dependências e lavouras necessárias. Além do açúcar, produziam farinha de mandioca em quantidade e extraíam madeira para construções navais e edificações.
Em minha busca, encontrei alguns vestígios deste passado. Possivelmente encontrei algo que ouvira falar por alto e que me deixou muito curioso a respeito: um possível cemitério de escravos da ordem no local, e que estaria localizado onde hoje se encontra o estacionamento, de frente para a porta da igreja.

Sempre pensei neste cemitério e no quão dificil seria conseguir fazer ali uma escavação arqueológica por inúmeros motivos. Principalmente os que se referem a interesse Histórico e apoio logístico dos setores públicos. Sabemos que outros sítios arqueológicos na região não foram a frente em suas pesquisas por conta da falta desse tão desejado apoio. E os custos não seriam nada elevados. é questão apenas de interesse. O passado não interessa a nossos legisladores. A não ser que seja para engrandecê-los de alguma forma. No mais, é importante que não se atiçe a curiosidade das pessoas sobre questões pertinentes ao passado. Afinal, um interesse pode atrair outros, e podemos acabar querendo saber sobre passados obscuros de certas pessoas. E isso pode não dar voto, mas sim tirá-los.
Mas voltando a questão do cemitério, ao sair me deparei com um trecho em que um barranco aparecia descoberto, sem grama nem asfalto. Havia ali uma grande possibilidade, pensei. Resolvi olhar mais de perto e fiquei intrigado e contente com o que acabara de encontrar. Restos de telhas, tijolos e ossos! Sim. Em um dos locais históricos da cidade, um dos primeiros locais escolhidos pelo homem branco para habitar, e onde fundara  uma de suas primeiras igrejas e cemitério, onde havia a possibilidade de ter existido um cemitério de escravos, encontrei ossos.
Eram vários pedaços de ossos. Alguns maiores e outros menores. A parte do terreno que estava com o suBsolo a mostra era pequeno. Fiquei a imaginar o quanto não se poderia encontrar ali, em todo aquele estacionamento. Em toda aquela área. Quanta coisa não poderia ser descoberta. Quanta História para ser contada por aqueles que "ali" se encontram.
Infelizmente não será fácil desenvolver ali pesquisas arqueológicas. É sabido que recentemente fora encontrado um sítio arqueológico dentro de istalações da Petrobrás em Cabiunás,  sítio este estimado em pelo menos 1500 anos. Seriam os vestígios mais antigos de habitantes do local. Era um chamado Sanbaqui, um ajuntamento de conchas do mar que os nativos costumavam fazer.No Brasil, os sambaquis são distribuídos por toda a costa, chamando a atenção do europeu logo no início da colonização. A diferença de hábitos culturais e alimentares, levou à conclusão de que eram obra de uma sociedade distinta daquela dos Tupi-guaranis, que então povoavam toda a região costeira do país. Estudos recentes, sugerem que os sambaquis tenham sido produzidos por povos que viveram na costa brasileira entre 8 mil e 2 mil anos antes do presente.Ainda não se sabe ao certo o por que destes ajuntamentos de conchas, mas se especula que seria algo religioso. O referido sítio de Cabiunas foi examinado por arqeólogos da Usp, que extrairam o máximo possível, mas que infelizmente não puderam ter muito tempo para pesquisar no local devido as necessidades do futuro.
 
 
A fazenda de Santana, onde se construi a referida igreja tornou-se um ponto de referência em termos econômicos para a região. Os padres jesuitas chegaram a possuir em suas duas propriedades( a outra era a fazenda de Imboassica) cerca de 240 escravos, o que sempre significou um número elevado em termos de Brasil, já que a média de escravos era de 8 a 10 por propriedades. No ano de 1759 os jesuitas são expulsos do país por ordem do Marquês de Pombal e suas terras são entregues a Coroa que anos depois irá fazer um leilão em que um mestre caldeireiro da cidade do Rio de Janeiro irá arrematar.
 
 
 

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