A
discussão a respeito da inclusão da criança especial em turmas comuns é algo
que vem sendo discutido e buscado por legisladores e pesquisadores do assunto há
algum tempo. Há o desejo de que as crianças especiais tenham a oportunidade de
conviver junto dos demais alunos ditos “normais” de forma saudável e com
aceitação plena, para que sua inclusão social possa ser feita do modo mais fácil
possível.
Durante
a maior parte do tempo, alunos com necessidades especiais receberam uma
educação em espaços separados, longe do contato com a maioria das crianças,
jovens e funcionários da escola. Seu contato se restringia a seus professores e
um ou outro funcionário. Sempre foram vistos como um “corpo estranho” no
ambiente escolar.
“o modelo didático incorporado na integração
reduzia-se a modificações parciais, em um contexto tradicional, variável, sobre
o aluno, os professores e a escola. A diversidade era uma característica a mais
no processo existente e mantinha a ideia de que a dificuldade era relacionada
ao aluno e suas particularidades”[1].
No
Brasil, a política nacional para a educação inclusiva busca superar este
caráter segregacional que sempre se definiu por uma educação delimitadora, em
que apenas grupos privilegiados da sociedade poderiam ter acesso a escola,
deixando uma imensa maioria marginalizada, sendo não apenas as crianças
especiais, mas sim a imensa maioria da população pobre do país. Estas pessoas
se mantiveram longe da escola e distante do conhecimento e, consequentemente
longe de alcançar melhores condições de vida.
Com o avanço do Estado democrático, faz-se necessário buscar políticas
que promovam a inclusão. Nada mais justo, mas há que se discutir de que forma
isto deve ser feito. No caso específico das crianças especiais, certamente que
a convivência com os demais alunos de toda a escola será um fator preponderante para a
sociabilidade destas pessoas, mas creio que faltem determinadas estruturas a
serem montadas na escola antes que esta inclusão ocorra de uma forma
minimamente satisfatória. .
Nos
EUA, por exemplo, houve uma série de melhorias e adequações no sistema para que
a inclusão se desse de fato e com os menores problemas possíveis. De acordo com
a Professora Leny Magalhães, da Faculdade de Educação da Universidade de São
Paulo, “boa parte dos Estados norte
americanos estão aplicando a educação inclusiva”. Para isto, foi criada
pelo governo americano uma supervia de telecomunicações visando facilitar o
contato entre as escolas, bibliotecas, clínicas e hospitais. A professora
Magalhães nos diz que lá há propostas de reformulação do currículo visando à
implantação de programas mais adaptados às necessidades dos educandos
especiais. Também é feito um acompanhamento dos alunos que passaram por
determinados projetos inclusivos, visando analisar e discutir erros e acertos
destes projetos[2].
Diferentemente
do Brasil, há uma equipe técnica que tem recebido treinamento para auxiliar os
professores em sala de aula e estes professores recebem treinamento especial.
Esta política vai contra o que acredita a professora Maria Teresa Mantoam,
Pesquisadora da UNICAMP e que participou da elaboração da cartilha da educação
inclusiva, e que acredita que professores não necessitem de apoio e ou de
formação para lidar com esses alunos especiais. Ela acredita que nossos
professores já estão prontos para este desafio.
Diferentemente deste ponto de vista, deve-se
enfatizar que nossas realidades talvez não estejam bem preparadas para este
tipo de trabalho. Nossos professores não possuem uma formação para lidar com
determinados tipos de necessidades e sem dúvida alguma necessitam de apoio e
preparo adequado para entender com o que e com quem estão lidando. O assunto é
muito complexo e requer bem mais que apenas colocar todos na escola acreditando
que propiciar o direito de matrícula seja um bom caminho e que possa ser a
melhor maneira de se iniciar a busca pela solução do problema. Faz-se
necessário primeiramente uma mudança da organização escolar que passe a ser
vista como “uma construção social
realizada pelos professores, alunos, pais, e demais integrantes da comunidade
onde está inserida e que não vise e nem dependa do mercado, mas do interesse
público”[3].
A inclusão está sendo feita, mas as vezes parece que de uma forma muito
acelerada. Para David Rodrigues,
organizador do livro “Inclusão e Educação” este processo de inclusão social nas
escolas tem ocorrido por vários motivos. Entre estes motivos estariam o desejo
por melhores condições de vida de grande parte da população, que tem confrontado
o sistema dominante e buscado conseguir direitos civis e políticos[4].
A busca por esses direitos é justíssima. Vivemos um imenso atraso no que diz
respeito a diretos e cidadania para todos. Mas acredito que estes atrasos não
podem ser corrigidos de qualquer maneira e as pressas. Concordo plenamente que
o interesse público tenha de ter mais espaço frente ao capital.
No
Brasil ainda não é possível na prática ou até em perspectivas essas mudanças
que deem prioridade ao interesse público em detrimento do mercado. Mesmo com
todos os avanços na área educacionais ocorridos nos últimos anos, nosso país
ainda se encontra longe daquilo que almejamos em matéria de educação e
cidadania. Atualmente a concepção técnico científico que se baseia na
organização e racionalização do trabalho e que está ai para atender as demandas
da indústria e do capital ainda predomina em nossas diretrizes curriculares. Mas
podemos dizer que temos, mesmo que muito lentamente, avançado em busca de
melhores condições na busca por melhores possibilidades de acesso para um
número maior de pessoas hoje do que ontem.
Para
tentar entender melhor como tem ocorrido à inserção de jovens especiais em
classes comuns, entrevistei a Professora Elga de Oliveira Mozer[5],
Pedagoga, especialista em educação especial da secretaria municipal de Macaé, e
que atende escolas em distritos da região serrana deste município, e que
trabalhou também na rede privada local. Para esta educadora um dos grandes problemas
está na resistência por parte de alguns professores de se adequarem a esta nova
realidade. Muitos reclamam das dificuldades de se lidar com esta nova
realidade. “em alguns casos, professores
dizem ser difícil preparar duas aulas para uma mesma turma: uma aula para os
alunos comuns e outra para os especiais, quando em muitos casos há turmas com
trinta e seis alunos, sendo que apenas um é especial”. Isto vai de encontro
com o pensamento de Margolis e
McGettingan que nos relatam que “em
determinadas situações, os professores são resistentes as mudanças, devido á
carência de apoio necessário para isso, bem como pela necessidade de formação
especial para suprir as necessidades dos alunos”[6].
A
professora Elga também relata que a dificuldade de inserção destes jovens
especiais se dá principalmente a partir do sexto ano do ensino fundamental. “alguns professores ainda não entenderam que
a intenção não é fazer com que essas crianças aprendam cálculos ou fatos
históricos, mas sim fazer com que os mesmos se sintam parte integrante da
sociedade, mesmo que de uma forma limitada”. E completa: “a educação é para a vida”! Muitos
destes jovens terão muitas dificuldades para ingressar no mercado de trabalho.
Alguns nunca irão entrar. Devemos é proporcionar para os mesmos a convivência,
a aceitação e o respeito. Dar-lhes carinho e ensinar lhes valores que poderão
carregar consigo até o fim de seus dias! Se este objetivo for alcançado, já se
terá feito um grande trabalho.
A
professora Elga Mozer cita um caso de uma das escolas em que trabalha em que há
uma menina que necessita de um intérprete de libras, profissional raro na rede
municipal. O ensino para esta criança acaba ocorrendo de forma muito precária. Em
outro caso, há dois alunos, um de 15 e outro de 16 anos que se encontram nas
turmas de sexto ano e que não conseguem juntar duas vogais ou somar um mais um.
Estes alunos acabam sendo rejeitados e o Bulying ou a indiferença são comuns
por parte dos outros alunos. A Professora Elga ressalta que “O trabalho de conscientização dos professores,
dos alunos e de toda a comunidade escolar é essencial para que estas práticas
sejam erradicadas”.
Citei
anteriormente algumas mudanças praticadas nos EUA em relação à educação
especial. Por questão de comparação, vejamos agora algumas mudanças ocorridas
na política educacional europeia, em particular a política espanhola. O sistema
educacional espanhol tem promovido à criação de “equipes técnicas coordenadas por profissionais com formação voltada ao
encaminhamento profissional”. Esta equipe busca promover o desenvolvimento
de programas de formação que auxiliem os jovens educandos no caminho de sua
futura profissão. Atuam também desenvolvendo trabalhos diferenciados com jovens
e crianças especiais. São utilizados critérios diferenciados de intervenção
psicopedagógica para estes alunos especiais “dinamizando e impulsionando o desenvolvimento de programas para alunos
que se encontrem em condições sociais desfavorecidas”[7].
Neste
sistema espanhol há intervenções tanto em sala quanto fora dela para
determinados alunos, auxiliando a família e orientando o professor. Nesta
equipe há profissionais de diversas áreas como o fisioterapeuta, o cuidador, o
psicólogo, o pedagogo, e o psicopedagogo e um médico. Estes diferentes profissionais são
solicitados no momento em que o professor veja a necessidade dos mesmos. Atuam
em caráter de apoio a escola e ao professor. Há também o profissional de línguas,
o interprete para os surdos mudos. Este profissional é o mesmo que a professora
Elga necessita em sua escola, mas que infelizmente não há. E não é por falta de
legislação.
A
constituição de equipes polivalentes como a referida no caso da Espanha seria
muito interessante para o Brasil. Deveriam ser em número razoável para não
sobrecarregar os profissionais com escolas em excesso, e deveriam promover
palestras de conscientização para professores, pais e alunos.
Como
visto anteriormente, ainda estamos um pouco distantes daquilo que almejamos
para uma educação inclusiva. Há projetos em andamento e outros já com bons
resultados que podem ser adaptados para o caso de nosso país. É preciso
primeiramente que faça um trabalho de preparo e conscientização de
profissionais e professores. Além disto, é preciso que se dê total suporte
tanto a escola quanto ao professor em sala de aula. A inclusão de pessoas
especiais ou marginalizadas deve ser feita o mais rápido possível, mas de forma
adequada e com amparo necessário para que possam funcionar devidamente e não
serem feitas de qualquer forma ou deixadas de lado, sendo cumpridas apenas por
conta da lei, e não por ser um dever primordial da escola: educar a todos sem
distinção.
[1] Currículo e diversidades: a garantía de igualdade
de oportunidades. Funiber, Florianópolis, Capítulo 2, página 33.
[2] MRECH, Leny
Magalhães. O que é educação inclusiva.
Acessado em 14 de maio de 2014 na página: http://www.luzimarteixeira.com.br/wp-content/uploads/2010/10/1-o-que-e-educacao-inclusiva.pdf
[4]RODRIGUES, David (Org). Inclusão e Educação: Doze olhares sobre a Educação
inclusiva. Acessado em: http://books.google.com.br/books.
no dia 14 de maio de 2014.
[6]Estruturas organizacionais para atender a diversidades. Funiber, Florianópolis, p.85.
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