A utilização de tecnologias da informação, as chamadas
TIC, e de todos os seus recursos em sala de aula nem sempre é feito da melhor
maneira. Por uma série de questões, um bom número de Professores não consegue
desenvolver de forma adequada suas aulas com certa “compatibilidade” á essas
inovações do mundo moderno. Na maior
parte dos casos o problema não é a falta de conhecimento por parte do
professor, mesmo sabendo que muitos não estão ainda bem familiarizados com
esses recursos. Há além das dificuldades de lidar com o “novo,” certa rejeição
por parte de muitos educadores.
Inúmeras são as escolas brasileiras que não possuem
laboratórios de informática ou a estrutura mínima necessária para que se possa
desenvolver um bom trabalho de acordo com as novas mídias e tecnologias
existentes. Há que se criarem atrativos para os alunos, que ao conviverem
diariamente com tecnologias em suas vidas, seja no aparelho de telefonia
celular, nos computadores portáteis, nos cybercafés ou em suas casas, acabam se
entediando com o formato das aulas (antigo, ultrapassado e sem inovações) que
mais lhes parecem uma tortura do que algo engrandecedor.
O mundo avançou muito nos últimos cem anos, mas a
escola pouco mudou em sua forma de ensinar, principalmente no que diz respeito
a escola pública. De acordo com Moran, “muitas
formas de ensinar hoje não se justificam mais. Perdemos tempo demais,
aprendemos muito pouco, desmotivamos-nos continuamente”.[1]
Como conseguir promover esta mudança construindo uma relação de interconexão
entre tecnologias e conhecimento? Como transformar todas as informações que
bombardeiam nossos jovens diariamente em algo que lhes possam de fato ser útil
em seu cotidiano, e que possa ser minimamente interessante e estimulante para
esta geração que se distancia muito velozmente de todas as outras que lhe
antecederam? Esta é uma pergunta que deve ser pensada e muito bem respondida.
Segundo Quartiero, ”a prática de ensino com a utilização de TIC, como suporte é tarefa
difícil que necessita de muitos estudos por parte dos órgãos envolvidos na
implantação desses avanços tecnológicos na escola”.[2] Sabemos
que a transferência dos conhecimentos e estudos acadêmicos até a chegada a
escola leva muito tempo. É muito comum também uma difícil assimilação por parte
dos professores dos níveis fundamental e médio da linguagem tanto fornecida por
acadêmicos quanto da linguagem tecnológica. A que se simplificar para que se
possa evoluir com mais clareza e rapidez.
O Historiador
britânico Eric Hobsbawn ao escrever seu livro a “A era das revoluções” disse
ser “desnecessário sobrecarregar o texto
com o pesado aparato acadêmico que exigiria um público mais erudito”.[3] Creio
que esta observação possa ser levada para a questão das TIC, ou seja, devemos
usar linguagens simples e de fácil compreensão tanto para alunos quanto para
professores.
Tentarei apresentar de forma simples três projetos de
como se utilizar as tecnologias da informação em sala de aula no que se refere
à matéria de História. São trabalhos que irão mesclar informações de senso
comum, entrevistas, vídeos, passeios históricos e pesquisa acadêmica, que neste
último caso, servirão para esclarecer algumas lacunas que o senso comum irá
deixar. Desenvolvi as ideias baseadas em minha cidade, mas que podem ser
adaptadas para a maioria dos municípios brasileiros.
Projeto 1 : Trabalhando com a História local; o caso da “santa fujona”
de Macaé.
Contexto de ensino:
Este
trabalho de História local será realizado na cidade de Macaé, Estado do Rio de
Janeiro, Brasil, cidade na qual resido e trabalho. O ideal é que seja aplicado
com turmas de 8º e 9º ano do ensino fundamental e turmas de ensino médio com
idade a partir dos 13 anos, e nas aulas de História do Brasil no período
colonial. A turma deverá ser dividida em grupos que deverão contar com até seis
alunos cada.
Disciplina: História, História do Brasil.
Tipo de atividade: após uma explicação do professor em
sala, os alunos deverão fazer uma pesquisa prévia na internet a respeito da
lenda de Santana no município de Macaé. Em seguida, munidos destas informações
deverão organizar uma entrevista com pessoas mais antigas da cidade que tem
conhecimento da lenda, produzindo um vídeo em que mostrarão a entrevista e uma
apresentação do grupo explicando os “fatos” e as conclusões. O vídeo deverá ser
postado em uma página de uma determinada rede social da referida turma, onde os
mesmos deverão assistir comparar e comentar com seus colegas, podendo
posteriormente ser divulgado na rede para outras pessoas o conhecimento
produzido.
Objetivos das atividades: O objetivo será fazer com que os alunos
conheçam através da “lenda de Santana” a História do Brasil em seu período
colonial, a partir de sua localidade, das proximidades de onde residem,
mostrando desta forma, que os conteúdos das aulas não se referem a coisas que
aconteceram “apenas” nos livros, totalmente fora de contexto e sem pessoas como
elas próprias como agentes construtores da História. Sobre a lenda, conta-se a
sabedoria popular que a mesma teria sido encontrada em uma ilha próxima a ao
litoral da cidade, e que posteriormente levada ao continente teria fugido da
capela onde se encontrava e reaparecido na ilha por mais de uma vez. Sempre que
reencontrada e levada de volta, fugia novamente. Para evitar que isto
continuasse a ocorrer, os padres jesuítas teriam construído a igreja de costas
para a ilha para que a santa não sentisse saudades e fugisse novamente. O que
os fatos contam é menos fantasioso e deverá ser desconstruído posteriormente
pelo professor.
Conteúdos que os alunos deverão dominar:
os alunos deverão dominar os conteúdos das aulas de história a partir do 8º ano
e o entendimento mínimo de acesso a rede de internet e filmadoras, celulares,
etc.
Tempo das atividades: primeiramente o tempo de duas a três aulas
para se discutir com os mesmos os passos para as atividades assim como para
contar a lenda. Irão precisar de um tempo extra de aula, uma lição de casa,
para produzirem a entrevista, algo entre duas a três horas, mais período
aproximado para escreverem o texto e postarem o vídeo da entrevista na
internet. Serão necessárias aulas posteriores para que a turma possa assistir
aos vídeos produzidos, analisando as conclusões. Como fechamento, o professor
deverá apresentar o que de fato diz a História sobre a lenda, superando muitas
das informações de senso comum com as quais seus alunos irão se deparar.
Avaliação: os alunos serão avaliados mediante sua
participação nos trabalhos e postagem de um texto na página da turma contando
sua experiência e como entendeu a diferença entre as informações da História
oral com as pesquisas históricas. Caberá
ao professor analisar se as postagens dos textos dos alunos na rede social
serão necessárias ou se será melhor textos escritos e entregues em mãos.
Projeto 2: análise de fotografias
de ontem e hoje e a utilização de imagens de satélite em uma aula de Brasil
Império.
Contexto de ensino: Este trabalho de História local também
será realizado na cidade de Macaé, Estado do Rio de Janeiro, Brasil, cidade na
qual resido e trabalho. O ideal é que seja aplicado com turmas de 8º e 9º ano
do ensino fundamental e turmas de ensino médio com idade a partir dos 13 anos,
e nas aulas de História do Brasil no período colonial. A turma deverá ser
dividida em grupos que deverão contar com até seis alunos cada.
Disciplina: História, História do Brasil Imperial.
Tipo de atividade: após uma explicação oral do professor em
sala, os alunos deverão fazer uma pesquisa prévia na internet buscando fotos
antigas da cidade de Macaé, interior do Estado do Rio de Janeiro, Brasil.
Através das fotos irão ter contato com uma cidade que já não mais “existe”. De
posse das fotos, deverão utilizar um programa de buscas da internet, que
apresenta imagens de satélites sempre atualizadas de lugares que estamos à
procura. O Google hearth seria um exemplo de programa. Pode-se organizar
posteriormente uma visita a alguns dos locais pesquisados contextualizando o
período em que a foto se refere no passado mais distante, como por exemplo, a
questão da abolição da escravatura e a proclamação da República tanto no
contexto macro como no da micro História.
Objetivos das atividades: Fazer com que os alunos através das
imagens de ontem e de hoje possam perceber as profundas modificações ocorridas
na cidade ao longo do tempo. Será possível ter contato com algumas construções
de meados do século XIX que ainda se encontram bem conservadas, e que muitos
deles passam em frente no cotidiano e não percebem. Deverá ser contextualizado
neste caso, o período imperial da História do Brasil analisando-se os contextos
de âmbito nacional e internacional.
Conteúdos que os alunos deverão dominar: Além
dos conhecimentos referentes a História, deverão ter conhecimentos básicos de
acesso a internet.
Tempo das atividades: primeiramente o tempo de duas aulas para
se discutir com os mesmos os passos para as atividades assim como contextualizar
os locais com os fatos históricos. Irão precisar de um tempo de aula para
produzirem um texto em forma de redação descrevendo suas impressões a respeito
dos locais, das mudanças ocorridas e de sua proximidade com fatos narrados nos
textos dos livros didáticos e da proximidade que existe e que em muitos casos
os mesmos não sabem que existe.
Avaliação: o
aluno ou a aluna será avaliado mediante sua participação nos trabalhos e
postagem de um texto na página da turma contando sua experiência e como
percebeu as mudanças na paisagem e o comportamento social.
Projeto 3: Uma “visita” a capitania de São Tomé através de uma busca na
internet.
Contexto de ensino: na cidade de Macaé, interior do Estado do
Rio de Janeiro, Brasil. Trabalho a ser realizado com alunos de 8º e 9º ano do
ensino fundamental e alunos do ensino médio, com idades entre 13 e 17 anos.
Grupos formados por 5 ou 6 alunos cada.
Disciplina: História e Geografia.
Tipo de atividade: uma pesquisa a respeito das capitanias
hereditárias brasileiras, seu contexto histórico e a questão geográfica de suas
fronteiras a época das grandes navegações, do descobrimento do Brasil, e de sua
colonização. Leitura de textos e visualização de mapas, e busca através da
internet da antiga divisa entre as capitanias de São Tomé e São Vicente, que se
encontra dentro dos limites do município de Macaé.
Objetivos: O objetivo será fazer com que os alunos
percebam as mudanças geográficas e históricas tanto na História do Brasil, como
na História de sua cidade. O que ontem era algo ou lugar hoje pode ser outro. O
que um dia foi Brasil, hoje pode ser o Uruguai. O que hoje é Brasil, ontem foi
Bolívia (caso do Estado do Acre que até o início do século XX pertencia a
Bolívia e tornou-se o Estado do Acre
através de acordos diplomáticos e de mudanças de linhas divisórias).
Conteúdos que os alunos deverão dominar: os
conhecimentos referentes ao período estudado e de utilização básica de
computadores e máquinas fotográficas.
Tempo das atividades: o tempo de duas aulas para se discutir
com os mesmos os passos para as atividades assim como contextualizar os locais
com os fatos históricos. Irão precisar de um tempo de aula para produzir um
texto em forma de redação descrevendo suas impressões a respeito dos locais,
das mudanças ocorridas e de sua proximidade com fatos narrados nos textos dos
livros didáticos e da proximidade que existe e que em muitos casos os mesmos
desconhecem.
Avaliação: Os alunos serão avaliados de acordo com
sua participação nas tarefas, que se constituirão em leitura de textos,
pesquisa na internet de mapas, e produção de um Banner ou cartaz contando a
História das capitanias junto de fotografias dos mesmos no local relatado pela
História como sendo a fronteira entre duas capitanias brasileiras e que hoje se
encontram no município de Macaé. O professor deverá programar uma visita aos
locais referidos nestes trabalhos para dar maior ênfase nos trabalhos e
organização na aquisição dos conhecimentos.
Bibliografia:
HOBSBAWM,
Eric J., 1917. A ERA DAS REVOLUÇÕES, 1789-1848. São
Paulo; Paz e Terra, 2009.
MORAN,
José Manuel. Novas tecnologías e
mediação pedagógica. Marcos T. Masseto, Marilda Aparecida Behrens.
Campinas, Papirus, 2000.
QUARTIERO,
M.E. As tecnologías de informação e de
comunicação no espaço escolar. Florianópolis, 2002. Tese (doutorado em
engenharia de produção). Universidade Federal de Santa Catarina. IN: EDUCAÇÃO/ organizadores; Luiz Alberto
Oliveira Gonçalves, Reginah Pahim Pinto. São Paulo; Contexto, 2007. Realização
Fundação Carlos Chagas. Programa internacional de bolsas da Fundação Ford.
[1] MORAN, José Manuel. Novas
tecnologías e mediação pedagógica. Marcos T. Masseto, Marilda Aparecida
Behrens. Campinas, Papirus, 2000, p.11.
[2] QUARTIERO, M.E. As tecnologías de informação e de comunicação no espaço escolar.
Florianópolis, 2002. Tese (doutorado em engenharia de produção). Universidade
Federal de Santa Catarina. IN: EDUCAÇÃO/ organizadores; Luiz Alberto Oliveira
Gonçalves, Reginah Pahim Pinto. São Paulo; Contexto, 2007. Realização Fundação
Carlos Chagas. Programa internacional de bolsas da Fundação Ford.
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