Com o advento dos
cursos de história agrária através de pesquisas empíricas, observou-se que o
modelo pradiano não se sustentava por si só, pois o pacto colonial como era
defendido pelo escritor não tinha base sólida para explicar o modelo econômico
da América Portuguesa.
Para Caio Prado a Colônia Portuguesa tinha a função de
produzir culturas de acordo com a necessidade externa e sempre em grandes
quantidades, predominando a monocultura, alicerçada no grande latifúndio e
sustentada pelo trabalho escravo e sem espaço para plantações em diversidades,
a não ser para subsistência. O autor defende a ideia de total dependência do
capital estrangeiro e por isso o mercado interno não tem relevância.
Posteriormente Celso Furtado reforça o pensamento
Pradiano e acrescenta que a economia do Brasil Colônia flutuava de acordo com
os preços internacionais e que este fator era preponderante para o sucesso ou
crise no mercado Colonial Brasileiro. Afirmação esta que vai ser contestada
pela nova historiografia, mesmo tendo ainda existindo muitos trabalhos
acadêmicos se valendo do pensamento anterior como nos diz João Fragoso: “De imediato devo dizer que alguns trabalhos
acadêmicos continuam a se valer das reflexões de Caio Prado Júnior e Celso
Furtado, como ideia de a colônia ser uma economia dominada pelo capital
mercantil europeu” . (FRAGOSO. 2013. Pag. 11)
O primeiro a questionar este modelo explicativo foi Ciro
Flamarion Cardoso em debate com Fernando Novais que apesar de ser historiador
de ofício não discordava de Caio Prado Junior, onde o que interessava era “produzir mercadorias de baixos custos de
modo a permitir na sua revenda lucros extraordinários para o capital mercantil
europeu;...”. (FRAGOSO. 2013. Pag. 12). Além da leitura teleológica
praticada até então, outras críticas são feitas pelos novos pesquisadores,
Jocob Gorender caminha com Ciro Cardoso dizendo que “o capital mercantil era incapaz de caracterizar ou gerar formas de
produção, até porque comércio e comerciantes são categorias anteriores ao
Dilúvio e a barca de Noé, ou seja, existente em diferentes sistemas econômicos”.
(FRAGOSO. 2013. Pag. 14). Estes autores também questionaram a questão de nosso
povo ser tratado como seres sem capacidade de pensamento, isto é, no modelo
antigo somente os europeus tinham inteligência capaz de desenvolver nossa economia.
A partir dos anos de 1970/80 o assunto começa a ser mais
desenvolvido, João Fragoso e Manollo
Florentino dão seguimento ao pensamento de Ciro Cardoso e através de pesquisas
acadêmicas vão perceber que a questão em pauta era bem mais complexa e exigia
dos estudiosos muita atenção a outros fatores não menos importante que o valor
para decifrar a economia luso-brasileira. Para debater o tema, João Fragoso
discorre sobre a nova historiografia, relatando a importância dos novos trabalhos
acadêmicos baseados em fontes e nos faz pensar que seria no mínimo inocência
imaginar que a sociedade aqui residente não tinha importância na economia
colonial brasileira. Quanto a isto, o pesquisador diz que senhores e escravos
não porem ser tratados como seres quase sem neurônios.
Podemos questionar o modelo pradiano da plantation quando
analisamos outros autores como Shwartz que apesar de falar em crise econômica
mostra o mercado açucareiro em expansão, mesmo que os engenhos se tornem mais
simples, o fato é que nos séculos XVII e XVIII houve um aumento na quantidade
das fabricas, principalmente com a chegada do moinho de três paus que era mais
barato, embora não fosse acessível a qualquer trabalhador. Sampaio também vai
tratar do comércio do Brasil colonial desta época mostrando que outras culturas
estão sendo cultivadas e neste momento o foco é o mercado interno, embora fale
que mercadorias eram exportadas, inclusive para outras colônias e sem passar
por Portugal. Outra questão para ser levada em consideração é o comércio
escravista, onde os grandes traficantes eram residentes aqui, sendo nomeados de
traficantes de “grosso trato” devido aos seus altos investimentos em tráficos,
bem como manufaturas em geral. Portanto a tese da dependência do capital
externo não se sustenta, como também a crise que o Schwartz comenta também não
faz muito sentido, já que, neste período estava crescendo o número de engenhos
em nossas terras.
O tráfico de escravos também foi analisado, como bem sabemos esta prática foi por séculos um negócio
lucrativo na América Portuguesa e Manollo Florentino nos dá números que
comprovam que nesta época a quantidade de escravos desembarcados no Brasil era
de grande proporção, sendo que a maioria de donos de escravos não eram os
grandes e sim pequenos senhores, pois aquela ideia de fazendas com mais de cem
cativos existiam, porém eram poucos em comparação com os que tinham escravos em
menor quantidade. E bem pouco mesmo, predominando os que tinham entre 1 e 9
serviçais. Assim sendo, o tripé monocultura, latifúndio e escravidão não é a
base da economia do Brasil colonial na visão da nova historiografia brasileira.
Por outro lado não se pode negar que existia este modelo na colônia, só que não
era predominância total e sim exceções.
Como podemos observar o modelo explicativo da economia contemporânea,
onde o autor busca sua explicação no Brasil colônia vem sendo negada, ou pelo
menos contextualizada nas últimas décadas pelos verdadeiros historiadores,
todavia não se pode negar a importância de Caio Prado Junior, pois quando
escreveu sua tese talvez não tivesse acesso a tantos dados que mostrasse a outra
face da economia colonial brasileira, além do mais ele foi o precursor no
rompimento da ideia da economia fechada, onde o que predominava era a cultura
em ciclo.
BIBLIOGRAFIA:
FRAGOSO, João; GUEDES,
Roberto; KRAUSE, Thiago. A América
portuguesa e os sistemas atlânticos na Época Moderna. Rio de Janeiro: FGV,
2013.
SCHWARTZ, Stuart;
SAMPAIO, Antônio Carlos Jucá; FLORENTINO, Manolo. In: FRAGOSO, João e GOUVEIA,
Maria de Fátima (org.) O Brasil Colonial.
Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2014.
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