Introdução.
Neste trabalho
procurarei discutir a formação de professores no Brasil, analisando a História
da educação, os problemas, desafios e os contrastes com alguns países da Europa
e da América, buscando encontrar possibilidades para a melhora da formação
profissional e de alternativas para a reestruturação de nossas escolas. Com
este intuito buscarei apresentar alguns conceitos ideológicos e políticos que
moldaram ao longo de quase cinco séculos a “formação” de professores em nosso
país, e como algumas concepções foram aqui recriadas ou simplesmente
implantadas sem analisar nossa cultura e modus operandi.
Primórdios da educação brasileira; os jesuítas.
A
História da educação brasileira tem inicio no ano de 1549 com a chegada dos
soldados de Cristo pertencentes à famosa ordem de santo Inácio de Loiola, os
Jesuítas. Estes religiosos vieram para cá com a missão de educar os indígenas
na fé cristã, dar apoio aos cristãos aqui residentes, e possuíam pouca ou
nenhuma intenção de entender as formas de se viver e se relacionar dos povos
americanos aqui encontrados.
“Os primeiros professores brasileiros receberiam uma
formação baseada nos clássicos antigos, voltada a padrões da sociedade europeia
cristã que privilegiavam a retórica com a eloquência ciceroniana como marca na
formação de representantes da Companhia de Jesus. Essa formação, recebida em
Portugal ou, mais tarde, no Brasil, constituía a primeira e marcante influência
externa na formação de professores da terra recém-conquistada” [1].
Essa educação trazida
pelos religiosos era destinada aos filhos dos colonos e aos indígenas que se
encontravam nas aldeias jesuítas. O objetivo era fazer com que parte dos
habitantes da colônia obtivesse noções de leitura, de religião cristã, que
orassem bastante para redimir seus pecados, que escrevessem e que soubessem contar.
Estes religiosos eram adeptos de uma dura disciplina, praticamente militar, por
isso chamados também de soldados de cristo.
Os Historiadores Arno
Wehling e Maria José Wehling contam que os colégios jesuítas no século XVIII
eram em número de vinte e um no Brasil, além de sete seminários para a formação
dos sacerdotes[2]. Além destes
inacianos, outros religiosos também se imbuíram da missão de iniciar os
primeiros habitantes destas terras no caminho das letras. Várias outras ordens
religiosas por aqui estiveram nos primeiros séculos e atuaram no trabalho de
catequização indígena e ensino de primeiras letras para os filhos dos colonos
além de introduzir alguns hábitos culturais.
Renato Venâncio nos relata que “foi graças a instalação de conventos
de jesuítas, franciscanos, carmelitas e beneditinos que brotou o primeiro
embrião da vida cultural no mundo colonial”[3].
Dentre todas as ordens
foi realmente a dos jesuítas a que teve maior relevância na educação da colônia.
Seu papel desde o início era o de “reforçar o catolicismo por meio do ensino”
nos diz o Professor Ronaldo Vainfas[4].
“Essa
congregação surgiu em uma época de lutas religiosas, particularmente contra os
luteranos, que se espalhavam pelas cidades francesas. Essas lutas, que tinham
como armas a fé inabalável, a disposição a todos os sacrifícios e a disciplina
exemplar, tornaram seus missionários uma força eficaz contra o protestantismo e
implantação do poder da Igreja entre os povos infiéis”
[5].
O ensino desenvolvido no
Brasil se encontrava totalmente em sentido contrário as novas ideias que vinham
se disseminando principalmente na Europa. Tratava-se de uma aprendizagem em
busca da defesa da fé cristã assumindo desta forma um conservadorismo
totalmente alheio às novas ideias renascentistas. Mantinham-se contrários a tudo que representasse o
novo. “Ignoraram e condenaram Descartes, que, aliás, foi um de seus ilustres
alunos. Deram pouca importância a História, a Geografia e a matemática” [6]. Era parco e
conservador. A educação desses missionários se centrava no nível
secundário, visando a uma formação humanística, dando prioridade ao aprendizado
do latim, e sem menção as ciências físicas ou naturais[7].
A educação proporcionada
interessava na verdade ás poucas pessoas que gerenciavam a colônia, e que
segundo Aranha, “apenas como ornamento e
erudição”. Fernando Azevedo relata que
“entre as três instituições sociais que mais
serviram de canais de ascensão, a família patriarcal, a igreja e a escola,
estas duas últimas, que constituíram um contrapeso á influência da casa grande,
estavam praticamente nas mãos da companhia; quase toda a mocidade, de brancos e
mestiços, tinha de passar pelo molde do ensino jesuítico, manipulado pelos
padres em seus colégios e seminários, segundo os princípios da famosa ordenação
escolar, e distribuída para as funções eclesiásticas, a magistratura e as
letras” [8].
A
era Pombalina.
A educação brasileira e a
formação de educadores irá sofrer um revés a partir das mudanças empreendidas
pelo poderoso Marques de Pombal em 1759. Como primeiro ministro do governo
português Pombal empreendeu uma série de medidas em todas as áreas visando
dinamizar e reestruturar a máquina governamental. No que diz respeito à
educação, ele pretendia expandi-la, já que até então o conhecimento e o
aprendizado das letras era algo muito restrito na metrópole. Pombal irá
empreender uma violenta campanha contra a ordem jesuíta, acusada de ser
responsável pelo atraso em que se encontrava tanto a metrópole quantos as
colônias no além mar. Segundo Lizete Maciel e Alexandre Neto,
“As principais medidas implantadas pelo marquês,
por intermédio do Alvará de 28 de junho de 1759, foram: total destruição da
organização da educação jesuítica e sua metodologia de ensino, tanto no Brasil
quanto em Portugal; instituição de aulas de gramática latina, de grego e de
retórica; criação do cargo de 'diretor de estudos' – pretendia-se que fosse um
órgão administrativo de orientação e fiscalização do ensino; introdução das
aulas régias – aulas isoladas que substituíram o curso secundário de
humanidades criado pelos jesuítas; realização de concurso para escolha de
professores para ministrarem as aulas régias; aprovação e instituição das aulas
de comércio” [9].
Se no período jesuítico a formação de professores
ocorria de forma pouco sistemática e muito limitada, não necessitando de amplos
conhecimentos para se ensinar, com Pombal passaremos a ver a intenção tanto de
modernizar e sistematizar o ensino quanto a educação de uma forma mais ampla. O
objetivo foi deixar para trás métodos considerados limitados e atrasados e
avançar para metodologias científicas que dessem origem a uma escola pública e
laica, conciliando o ensino da literatura com o das ciências modernas, buscando
formar seres humanos mais completos que pudessem atender as necessidades de
inserção do Portugal moderno na nova ordem mundial que florescia na Europa.
Com Pombal surge a ideia da dualidade do ensino,
conciliando as escolas leigas com as confessionais sendo ambas regidas pelos
mesmos princípios. Boto, nos diz que passa a haver
[...] “uma intensificação do pensamento pedagógico e da
preocupação com a atitude educativa. Para alguns filósofos e pensadores do
movimento francês, o homem seria integralmente tributário do processo educativo
a que se submetera. A educação adquire, sob tal enfoque, perspectiva
totalizadora e profética, na medida em que, por intermédio dela, poderiam
ocorrer as necessárias reformas sociais perante o signo do homem
pedagogicamente reformado” [10].
Visando
implantar todas as mudanças pretendidas nos vários campos do governo português,
Pombal toma diversas medidas, e uma em especial, é a que irá abrir espaço para
um possível florescimento das mudanças educacionais na colônia: a expulsão dos
jesuítas do Brasil no ano de 1759. Havia o claro entendimento da construção de
uma nova mentalidade. De um novo ser a ser criado.
“Para o ideal iluminista, a nova sociedade exige
um novo homem que só poderá ser formado por intermédio da Educação. Assim,
apesar de o ensino jesuítico ter sido útil às necessidades do período inicial
do processo de colonização do Brasil, já não conseguia mais atender aos
interesses dos Estados Modernos em formação. Surge, então, a ideia de Educação
pública sob o controle dos Estados Modernos. Portanto, a partir desse momento
histórico, o ensino jesuítico se torna ineficaz para atender às exigências de
uma sociedade em transformação” [11].
As escolas tinham de se adaptar e de se tornar um
instrumento ideológico do Estado. Se anteriormente a Pombal as escolas visavam
o fortalecimento da fé cristã, a partir dele busca-se transformá-las em
instrumento de reforço do aparato estatal colocando seus serviços agora em
favor da coroa portuguesa. Com o alvará de 5 de abril de 1771, é passado para as mãos da recém criada Real mesa Censória a administração da
educação portuguesa.
O problema é que o desmantelamento das escolas
jesuítas não foi seguido de uma rápida e imediata implantação de novas escolas
e novas formas de se ensinar nem em Portugal e nem nas colônias. Tanto a
formação de professores, quanto o ensino de crianças e jovens continuou carente
de uma formação mais técnica e bem definida. A formação dos professores era
limitada com os padres, e continuou sendo com as reformas de Pombal. Pode-se
dizer que pouco ou nada teria mudado. A mudança deveria ocorrer principalmente
nos conteúdos. Contrariando tudo o que se esperava o que na verdade ocorreu foi
certo esfriamento no desenvolvimento da instrução. Na verdade as Luzes davam
também um sinal de alerta. Havia o interesse em se adaptar aos novos rumos, mas
cautela quando se falava em educar colonizados. Criar uma massa ou mesmo uma
elite de pessoas educadas na colônia poderia vir a constituir um grupo com um
senso crítico nada interessante aos interesses da coroa.
A chegada
da família real.
A partir do século XIX com a vinda da família
real portuguesa, inúmeras mudanças irão de fato ocorrer na colônia, que
inclusive deixará de ser colônia para transformar-se em Reino unido. Serão
criadas universidades, escolas militares, a Biblioteca Nacional, a escola de
medicina da Bahia, a faculdade de medicina do Rio de Janeiro, o Jardim
Botânico, a Real Academia Naval e muitas outras instituições que irão alavancar
o desenvolvimento do Brasil rumo a sua independência em 1822. Mas ainda não
será de imediato que teremos uma melhoria na formação de professores.
Muitos estudiosos como, por exemplo, Saviani,
apontam que até 1827 não havia ainda a preocupação efetiva com a formação de
professores no Brasil[12]. É
neste ano que foi promulgada em nosso país a lei das escolas de primeiras
letras que determinava que os professores devessem ser treinados, mas, como nem
tudo é como deveria ser, as suas próprias custas. Já o ato adicional de 1834 dizia que os
professores deveriam ter uma formação baseada na formação dada aos professores
europeus assim como a constituição das escolas normais[13]. É a partir deste ato que se cria a primeira
escola normal do país, sendo esta situada no município de Niterói, Estado do
Rio de Janeiro. Mesmo assim,
[...]
“predominou nelas a preocupação com o domínio dos conhecimentos a serem
transmitidos nas escolas de primeiras letras. O currículo dessas escolas era
constituído pelas mesmas matérias ensinadas nas escolas de primeiras letras.
Portanto, o que se pressupunha era que os professores deveriam ter o domínio
daqueles conteúdos que lhes caberia transmitir às crianças, desconsiderando-se
o preparo didático-pedagógico” [14].
O
nascimento da República e o movimento Nova Escola.
Assim como ocorre em toda a nossa História até
aqui relatada, a formação de professores até o início do século XX permanecerá
com muitas carências. A constituição de 1891 passa a dividir com seus
respectivos Estados a promoção da educação. O alvorecer do novo século trará
muitos desafios para a República recém-instaurada, e uma delas será incorporar
o país definitivamente na ordem industrial e capitalista vigente. O Brasil
possuía uma imensa massa de trabalhadores necessitada de formação, tanto
provenientes da imigração europeia iniciada principalmente no final do século
XIX, quanto da massa de ex-escravizados recém-libertos do cativeiro. Havia a
necessidade de educar estas pessoas para que o país deixasse para trás seu
passado apenas agrícola agroexportador. Mas mesmo assim, com toda essa
necessidade o acesso à educação continuará sendo muito difícil, permanecendo
quase que exclusivo as elites dominantes. A Constituição Republicana surge de
forma extremamente excludente deixando mulheres, pobres, soldados rasos e os
religiosos sem poder votar. Mesmo assim a educação é vista como um instrumento
integralizador e promotor de uma identidade nacional a ser construída.
Poucas eram as medidas inovadoras no campo
educacional. Entre estas, visando desenvolver a educação do país, no ano de
1924 foi criada a associação brasileira de educação (ABE) no intuito de reunir
vários pensadores e bandeiras em torno da educação. Na década de 1930 serão criados
institutos educacionais, com destaque para o trabalho de Anísio Teixeira no Rio
de Janeiro, e de Fernando de Azevedo em São Paulo. Tratou-se do surgimento de
uma nova fase no que diz respeito à concepção do papel da Escola e da formação
de educadores.
“Pelo Decreto 3.810, de 19 de março de
1932, Anísio Teixeira procurou reorganizar as Escolas Normais, contemplando a
cultura geral e a cultura profissional. Assim, os Institutos de Educação
procuraram incorporar as exigências da pedagogia, que buscava se firmar como um
conhecimento de caráter científico, caminhando para a consolidação de um modelo
pedagógico-didático, de formação docente, corrigindo as ineficiências e
distorções das tradicionais Escolas Normais do passado” [15].
Este movimento de reforma da escola que veremos
no início do século XX se inicia no fim do século anterior tendo surgido na
Europa e tendo no Brasil Anísio Teixeira, Cecília Meireles, Lourenço Filho e
Fernando Azevedo entre seus grandes idealizadores. Estes estudiosos e
intelectuais da educação juntos de vários outros nomes fizeram parte dos
signatários que assinaram o “Manifesto dos pioneiros da educação”, tido por
muitos como uma espécie de marco da renovação social que se pretendia para o
país e para a educação pretendida. Havia o entendimento de que era necessário
investir em educação para se modernizar o país. O Brasil encontrava-se muito
atrasado no que diz respeito ao “mundo” capitalista, e esse desenvolvimento só
viria a ser alcançado com uma classe trabalhadora minimanete preparada para
entender as novas tecnologias existentes. Tratava-se de um momento de mudanças
nas estruturas do país, momento este de crise em vários setores produtivos,
momento de contestação em que as velhas oligarquias passariam a perder e a
dividir espaços com a classe burguesa em consolidação.
“Os
intelectuais reformistas, imbuídos das ideias da Escola Nova, sonhavam com uma educação
nos moldes republicanos com escola única, obrigatória e gratuita para todos.
Acreditavam na possibilidade de democratização e transformação da sociedade por
meio da escola e para isso buscavam uma grande reforma educacional. Nesse
contexto, a inquietação em relação à formação de professores para atuação no
ensino secundário justificava-se pela preocupação em formar professores capazes
de contribuir para as transformações pretendidas“[16].
O golpe
militar de 1964.
Nas duas décadas seguintes pouco se avançou na
melhora da educação e da formação de professores. Em 1946 foi editada a lei número 8.530 que ficou conhecida como a lei da
Educação. Efetivamente trouxe poucas novidades dividindo o curso normal em dois
ciclos, sendo que para o primeiro, um currículo parecido com o dos cursos de
formação anteriores, e já no segundo as inovações preconizadas pelo movimento
escolanovista.
A partir da década de 1960 com o advento do golpe
civil e militar de 1964 a educação brasileira continuará a sofrer com descasos
políticos. Trata-se de um período em que o Estado brasileiro irá se colocar
definitivamente a favor do capital e dos interesses estrangeiros, e para
atender a estes centrará a formação educacional na vertente tecnicista visando
preparar mão de obra técnica para atender a necessidade das empresas
multinacionais. A separação e o direcionamento para a formação tornaram-se mais
evidentes ainda; para os ricos a Universidade e para os pobres cursos de
formação no máximo técnica. Outro duro golpe dado na formação de professores
foi a lei 5.692 editada durante a ditadura no ano de 1971 que acaba com a já
carente e insuficiente escola normal, e institui que a formação de segundo grau
bastaria para ser formado professor no nível de ensino fundamental do primeiro
seguimento. Para os anos seguintes deveria haver a formação através do curso de
licenciatura[17].
Ao procurar se adequar para atender aos
interesses do mercado os militares seguiam as diretrizes alienantes do Capital
que por conta de suas contradições impede, ou busca sempre impedir, uma
educação que se desenvolva em busca de um caminho amplo e libertador. Saviani
confirma esta ideia ao relatar que
“Sendo o saber força produtiva, e sendo a
sociedade capitalista caracterizada pela propriedade privada dos meios
de produção, a classe que os detêm empenha-se na apropriação do
saber, desapropriando-o da classe trabalhadora. Sendo impossível a
apropriação exclusiva do saber, já que a contradição inerente à sociedade
capitalista é insolúvel no seu âmbito, a classe capitalista sistematiza o
saber de que se apropria e o devolve parcelado ao trabalhador. Assim,
fazendo, detêm a propriedade do saber relativo ao conjunto do processo
produtivo restando ao trabalhador apenas o saber correspondente à parcela
do trabalho que lhe cabe executar”[18].
No início dos anos 1980 é criado pelo governo
brasileiro centros de aperfeiçoamento do magistério, mas que não alcançaram
bons resultados tendo uma amplitude muito limitada. Ainda nesta década a
pedagogia tecnicista vigente durante o período ditatorial começa a ser mais
questionada, enfatizando a necessidade do surgimento de um educador completo,
intelectualizado, consciente e crítico que promova mudanças na escola, nas
mentalidades e consequentemente na vida e no mundo ao seu redor. Várias ideias
e concepções vão surgir e muita influência nos debates terão as ideias de Paulo
Freire, o maior educador da História brasileira[19].
A nova LDB.
No ano de 1996 é editada a Nova LDB. Tratou-se de
um momento de expectativas com relação a mudanças em um cenário até então muito
desanimador. O objetivo da lei seria o de diminuir as gritantes contradições no
campo da educação brasileira, sempre marcada por exclusão e desigualdades, não
permitindo o acesso aos estudos de qualidade a maior parte da população. Mas,
ao menos inicialmente, não resolveu ou pouco amenizou problemas. Podemos
entender este período como sendo o da transição, já que mudanças em sistemas ou
sociedades não se dão de forma imediata. Leva-se tempo para os objetivos
pretendidos serem implantados, não se esquecendo da necessidade de uma política
de Estado que dê continuidade aos processos iniciados procurando mexer apenas
naquilo que não esteja de fato indo bem.
Borges,
Aquino e Puentes dizem que a nova legislação não atendeu “às expectativas, uma vez que introduziu, como alternativa aos cursos
de Pedagogia e de Licenciatura, os Institutos de nível superior de segunda
categoria, provendo uma formação mais aligeirada e barata, por meio de cursos
de curta duração” [20].
A LDB assim expressa em seus artigos 62 e 63 como passa a ser a formação de
professores no Brasil:
Art. 62 – A formação de docentes para atuar na
educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de
graduação plena, em Universidades e institutos superiores de educação, admitida
como formação mínima para o exercício do magistério na educação infantil e nas
quatro primeiras séries do Ensino Fundamental, a oferecida em nível médio, na
modalidade Normal.
Art.
63 – Os Institutos Superiores de Educação manterão:
I -
Cursos formadores de profissionais para a educação básica, inclusive o curso
normal superior, destinado à formação de docentes para a educação infantil e
para as primeiras séries do Ensino Fundamental;
II -
Programas de formação pedagógica para portadores de diplomas de Educação
Superior que queiram se dedicar à educação básica;
III
- Programas de educação continuada para profissionais de educação dos diversos
níveis[21].
É
possível verificar um avanço no que diz respeito à legislação brasileira a
partir deste período. Há, ao menos teoricamente um desejo de se avançar em
melhorias da formação do educador, mesmo ainda faltando uma política maior de
valorização diante de outras carreiras, principalmente na questão salarial. Um
professor estuda muito mais durante sua carreira, fazendo curso de extensão,
especialização, Mestrado e Doutorado para ganhar valores que não chegam à
metade do que ganha, por exemplo, um técnico da área do petróleo com muito
menos tempo de estudo e dedicação.
Com
a nova legislação os docentes passam também a participar da elaboração dos
projetos pedagógicos dos cursos de formação. Pode-se concluir que a nova legislação
melhorou as “perspectivas sobre a
formação de professores, tanto na estrutura curricular, como na articulação
formativa dos currículos e ainda na preocupação com a qualificação dos
formadores de formadores da Educação Básica” [22].
Há que se deixar claro, que apesar
de decorridos quase 20 anos da implantação da LDB ainda não há muito que se
comemorar. A lei propiciou avanços, mas ainda há uma estrutura precária nas
escolas, nas Universidades e no currículo. Há direcionamento para as áreas de
pesquisa, mas não há uma clara visualização de que o professor colherá frutos
por parte deste trabalho. Há vários apontamentos indicando o que se quer do
professor, mas pouca coisa concreta referente a benefícios que o incentivem a
continuar na carreira, assim como incentivar que os melhores alunos das
Universidades se interesse pelo trabalho docente. Creio, para que se desenvolva
este maior interesse pela carreira do magistério, ser necessário que se efetive
de fato o que reza o artigo 67 da LDB sobre a promoção e valorização dos
profissionais da Educação, sobre o piso salarial que deve ter um valor
minimamente digno, sobre o período reservado aos estudos, sobre a progressão
baseada na titulação fazendo com que estes profissionais busquem crescer na
formação visando também alcançar ganhos mais elevados. Segundo Nóvoa, nossos professores;
“São olhados com desconfiança, por serem
acusados de serem profissionais medíocres e de terem uma formação deficiente;
por outro lado, são bombardeados com uma retórica cada vez mais abundante que
os considera elementos essenciais para a melhoria da qualidade de ensino e para
o progresso social e cultural. Pede-se quase tudo aos professores. Dá-lhes quase
nada” [23].
Ao comparar a realidade da
formação brasileira com a formação de outros países podemos ver que também se
busca uma formação mais ampla para os educadores. Na Espanha as antigas escolas
Normais se integraram e hoje constituem as Faculdades de Educação. Novas leis
editadas falam da necessidade de se prestigiar a imagem dos professores, que
assim como aqui no Brasil encontra-se muito desgastada[24].
A formação de professores para a educação infantil irá aumentar um ano a mais
na Espanha, e para lecionar nos anos seguintes passará a se exigir a formação a
titulo de Mestrado. O governo espanhol visa suprir uma geração de professores
prestes a se aposentar, já que aproximadamente 30% de seus professores já
possuem mais de 50 anos de idade e nos próximos 10 anos deverão estar se
aposentando. Outro ponto é elevar o interesse dos jovens a carreira do
magistério.
Com relação à Europa, há
uma tendência a se reformar suas Universidades de forma ambiciosa. A declaração
de Bolonha assinada em 1999 pretende colocar em prática “uma Universidade homologável, em que alunos e professores pudessem
mover-se sem entraves para trabalhar”, fazendo com que o titulado possa ver
reconhecida automaticamente sua formação sem toda a burocracia de validação dos
atuais dias[25].
Conclusão.
Pode-se ver que ao longo da História brasileira a
educação nunca foi motivo de grandes preocupações da classe dirigente do país.
Sempre foi privilégios de poucos, sendo que a formação de professores não
necessitava de muitos estudos em seu período inicial. Sua Pedagogia sempre foi
voltada para atender aos interesses da classe dominante e posteriormente as
diretrizes de mercado. O professor veio paulatinamente tendo sua posição
desprestigiada em função dos baixos salários e das mudanças constantes que
pouco alterava favoravelmente as estruturas do sistema educacional a seu favor.
Vimos que a Europa busca
implantar mudanças em seu sistema educacional que valorize e dinamize a
formação, o acesso e a inserção no mercado de trabalho, abolindo ou diminuindo
a burocracia.
Nos últimos 20 anos com o surgimento da LDB,
viu-se um horizonte mais bem definido e com boas perspectivas, apesar de
algumas falhas. Mas passados 20 anos, ainda carecemos de uma melhor formação,
de mais tempo para estudos e pesquisas, de salários que realmente valorizem e
incentive jovens a ingressar na carreira, e de um plano carreira que valorize a
titulação e aqueles que se dedicam ao nobre trabalho de compartilhar a ajudar a
construir o conhecimento.
[1] VIEIRA, Alboni Marisa Dudeque Pianovski. GOMIDE, Angela Galizzi Vieira. História da formação de professores no Brasil: O primado das influências
externas. Acessado em 12 de junho de 2014 na página: www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/93_159.pdf.
[2] WEHLING, Arno. WEHLING, Maria José C. de M.
Formação do Brasil colonial. Rio de
Janeiro: Nova Fronteira, 1994, p.287.
[3]Del
Priore, Mary. Venâncio, Renato. Uma
breve História do Brasil. São Paulo, Editora Planeta, 2010 P.97.
[4]
Vainfas,
Ronaldo. Soldados de Cristo. Revista
de História da Biblioteca Nacional. Ano 7, número 81, junho de 2012, p.15.
[5] DE Oliveira, Amanda
Melissa Bariano. Ação educacional jesuítica no Brasil colonial. ANAIS DO III ENCONTRO NACIONAL DO GT
HISTÓRIA DAS RELIGIÕES E DAS RELIGIOSIDADES – ANPUH -Questões
teórico-metodológicas no estudo das religiões e religiosidades. IN: Revista
Brasileira de História das Religiões. Maringá (PR) v. III n.9, jan/2011.
ISSN 1983-2859. Disponível em http://www.dhi.uem.br/gtreligiao/pub.html.
[6] Aranha,
Maria Lúcia Arruda. Filosofia da
Educação. São Paulo, Ed. Moderna, 2006, p.112.
[7] Aranha, Maria Lúcia Arruda. História da educação e da pedagogia. São
Paulo, Ed. Moderna, 2006, p.164.
[8] Azevedo,
Fernando. A cultura brasileira:
Introdução ao estudo da cultura no Brasil. Ed. UNB, 1963, p.523, apud: Aranha,
Maria Lúcia Arruda. História da educação
e da pedagogia. São Paulo, Ed. Moderna, 2006, p.164-165.
[9]Maciel, Lizete Shizue
Bomura. Neto, Alexandre Shigunov. A
educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas
pombalinas do ensino. Acessado em 20 de junho de 2014 na página: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1517-97022006000300003.
[10] BOTO C. A
escola do homem novo: entre o Iluminismo e a Revolução Francesa. São Paulo:
Editora da Universidade Estadual Paulista, 1996. APUD: Maciel, Lizete Shizue
Bomura. Neto, Alexandre Shigunov. A
educação brasileira no período pombalino: uma análise histórica das reformas
pombalinas do ensino. Acessado em 20 de junho de 2014 na página: http://www.scielo.br/scielo.
php?Script=sci_arttext&pid=S1517-97022006000300003.
[11]
Idem, Ibidem, p.471.
[12] Borges, Maria Célia. Aquino, Orlando
Fernández. Puentes, Roberto Valdés. Formação de professores no Brasil:
História, políticas e perspectivas. Acessado em 20 de junho de 2014 na página: http://www.fae.unicamp.br/revista/index.
php/histedbr/article/view/3301
[13]
Idem.
[14] SAVIANI, D. História das
Ideias Pedagógicas no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2007.
Apud: Borges, Maria Célia. Aquino, Orlando Fernández. Puentes, Roberto Valdés. Formação
de professores no Brasil: História, políticas e perspectivas. Acessado
em 20 de junho de 2014 na página: http://www.fae.unicamp.br/revista/index. php/histedbr/article/view/3301
[15]
Idem.
[16] Wolski, Denise
Terezinha Rodrigues Marques. Soares, Maria Tereza
Carneiro. Brandt, Célia Finck. A CRIAÇÃO DE UNIVERSIDADES E A FORMAÇÃO DE PROFESSORES
DE MATEMÁTICA NO BRASIL: O CASO DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ. IX Amped sul 2012. Seminário de pesquisa em educação na região
sul. Acessado no dia 22 de junho de 2014
na página: http://www.ucs.br/etc/conferencias/index.php/anpedsul/9anpedsul/paper/viewFile/2661/546.
[17] Borges, Maria Célia. Aquino, Orlando
Fernández. Puentes, Roberto Valdés. Formação de professores no Brasil:
História, políticas e perspectivas. Acessado em 20 de junho de 2014 na página: http://www.fae.unicamp.br/revista/index.
php/histedbr/article/view/3301
·
[18] Política e Educação no Brasil. O papel do Congresso Nacional na
Legislação do Ensino. São Paulo, Cortez, 1987. Apud: Uma reflexão sobre o sistema educacional
brasileiro.
acessado em 25 de junho de 2014 na
página: http://pedagogiaaopedaletra.com/uma-reflexao-sobre-o-sistema-educacional-brasileiro/
[20]
Idem.
[21] Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional. Acessado em 25 de junho de 2014 na página:
http://portal.mec.gov.br/arquivos/pdf/ldb.pdf.
[22] Borges, Maria Célia. Aquino, Orlando
Fernández. Puentes, Roberto Valdés. Op.cit.
[23] NÓVOA, Antonio. Formação de professores e profissão docente. In:
BICUDO e SILVA (org.). Formação do educador: dever do Estado, tarefa da
universidade. São Paulo: UNESP, 1996. Apud: Paini, Leonor Dias. Greco, Eliana
Alves. Amblard, Viviane Maria Lauer Bressan.
A Formação de professores no Brasil: Problemas e perspectivas. Acessado em: http://revistas.facecla.com.br/index.php/reped/article/view
[24]
Os docentes e os discentes na
organização dos centros educativos. Funiber, Florianópolis, 2002,capítulo
5, Mestrado em Educação. P.177.
[25]
Idem,p.178.
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