A necessidade de se
ampliar o conhecimento da História local se dá devido à questão da perda de
identidade proporcionada pelas rápidas mudanças do mundo moderno que faz com
que importantes aspectos da cultura popular da região se percam em um caldeirão
de homogeneização cultural. Para se entender múltiplos aspectos de nossa História
do Brasil em seu sentido amplo, há que se entender como isto se deu na História
de sua região.
É possível encontrar “vestígios” de nosso
passado colonial, imperial e das primeiras décadas da República em muitas
cidades grandes e pequenas deste país. Para isto, faz se necessário uma
ampliação dos olhares por parte dos professores e pesquisadores locais, fazendo
com que os estudantes enxerguem, onde antes viam apenas coisas antigas,
momentos passados que interferem em suas vidas até o momento presente.
Hoje,
com os grandes deslocamentos humanos em busca de trabalho e melhores condições
de vida, o que acaba ocorrendo é uma “miscigenação” cultural, e em muitas
ocasiões, um choque entre estas culturas e mesmo a absorção das culturas de
minorias de uma forma negativa, e que no fim acabam sendo “engolidas” pela
cultura dominante das mídias modernas. Este tema das interelações culturais é
conhecido por interculturalismo. Banks (1993) nos diz que “multiculturalismo é uma noção que
reflete uma variedade de significados e interesses. Uma categoria na qual se
acobertam temas como a etnia, as minorias culturais, os estudos de tradição,
folclore e a defesa de uma sociedade multicultural”.[1]
Por este motivo acredito
ser de suma importância os estudos de História local interligados com suas
práticas culturais e com o que ocorre e ocorreu na História de nosso país. É o
ensino de História voltado para a valorização da cultura local de uma forma
crítica e prática. Visa fazer com que o aluno se sinta parte dos
acontecimentos. A ideia é fazer com que os mesmos sintam a História não como
algo “existente” apenas nos livros escolares, mas como algo real de um passado
que nos influencia, nos molda e de certa forma, nos mantém na condição de
oprimidos.
Objetivo
geral:
A intenção deste trabalho
é o de despertar nos jovens estudantes o interesse pela História de sua
localidade de nascimento ou mesmo do lugar onde hoje vivem. Através disto fazer
com que os mesmos tomem consciência dos acontecimentos ali ocorridos ao longo dos
séculos, de como a História se faz com permanências e rupturas e de como,
principalmente as permanências podem de inúmeras formas lhes ser prejudiciais.
Ao realizar este trabalho,
visamos promover mudanças não apenas nos alunos, mas na comunidade escolar como
um todo. Estes jovens munidos de novos conhecimentos ocorridos ali bem onde
vivem, entendendo práticas políticas que se repetem a décadas, terão
instrumentos em suas mãos para possivelmente modificar sua comunidade. Um dos
objetivos é fazer com que eles entendam como o ensino de História não é
estático, como pensa o senso comum. Entender como estudar a História dos
acontecimentos do século 19, por exemplo, pode nos fazer ter um melhor
posicionamento em pleno século XXI.
Objetivos
específicos:
As
ações necessárias para a realização do projeto devem se dar inicialmente na
mudança do formato das aulas. Deverão ser organizadas aulas em lugares
distintos da sala de aula. Este trabalho deverá ser preferencialmente realizado
com alunos dos oitavo e nono ano do ensino fundamental e a das séries do ensino
médio. Faz se necessário um maior grau de maturidade para o entendimento mais
profundo dos conteúdos, assim como dos deslocamentos até os locais das aulas.
Existem
espaços nas cidades em que o professor pode previamente agendar um horário e
promover aulas, que funcionarão como trabalho de campo, em que os jovens alunos
poderão se sentir mais “próximos” do passado estudado. Posso citar como exemplo
em minha cidade o prédio da Câmara de vereadores, prédio que data do século
XIX; o Quartel do Exército local, datado do fim do século XIX, e que abriga as
ruínas de uma antiga fortificação militar portuguesa do século XVI, que servia
para combater navios piratas franceses traficantes de pau Brasil. Há também um
sítio arqueológico datado do século XVIII que abrigava antigo aldeamento
indígena organizado por padres seculares, e que ficava exatamente na fronteira
entre a capitania do Paraíba do sul e a capitania de Cabo Frio. Há a antiga
igreja de Santana, localizada onde os padres jesuítas se instalaram a partir de
1630.
Todos
estes lugares servirão de instrumento de análise para se discutir a História do
Brasil e a História e cultura local de uma forma muito mais marcante e ampla
que a forma tradicional de ensinar recluso em sala de aula. A ideia é sensibilizar os alunos para
acontecimentos marcantes, e fazer com que os mesmos se sintam parte integrante
de todo o processo Histórico, e desta forma se sintam como agentes promotores
de futuras mudanças em suas realidades. O professor ao contextualizar lugares e
acontecimentos, rupturas com permanências, poderá provocar nos alunos o
desenvolvimento do senso crítico a respeito de muitas posturas que permanecem
com o passar dos séculos em sua cidade e região.
Resultados
esperados:
Com a implantação deste projeto, esperamos alcançar uma
maior clareza na visão dos estudantes do ensino fundamental e médio. O objetivo
é fazer com que os mesmos entendam seu lugar no mundo, e a partir daí passem a
ter uma postura mais crítica diante dos fatos e acontecimentos ao seu redor.
Que também possam valorizar mais sua cultura e História de seus antepassados e
de sua região, evitando assim cometer velhos e repetidos erros e saindo da
esfera de dominação das classes privilegiadas.
Espera-se
também que a escola saia da condição precária em que se encontra em que não se
formam nem profissionais nem cidadãos, apenas finge cumprir seu papel. Que
posturas críticas de alunos possam ser motivadores de novas posturas da
comunidade escolar, promovendo assim discussões saudáveis e comprometidas com
as mudanças sociais tão necessárias a nossa convivência.
Abrangência
e contexto:
O
objetivo do projeto é alcançar toda a comunidade escolar. Não será algo em
curto prazo. Na medida em que os alunos estiverem modificando suas posturas, transformando-se
em seres críticos e conscientes (tudo isto dentro de suas realidades), a
intenção será que isso contagie as pessoas próximas, que de imediato serão seus
colegas e membros de família.
A
ideia é a de promover mudanças comportamentais nos jovens através do ensino de
História em seu contexto local, fazendo com que os mesmos valorizem-se e
busquem soluções e posturas construtivas para sua comunidade.
Plano
de ação:
Para o bom desenvolvimento do projeto devem-se analisar
primeiramente os conhecimentos prévios dos alunos a respeito dos temas a serem
discutidos. Discussões em sala de aula e redações podem ser bons instrumentos.
A direção da escola deve estar totalmente ciente do projeto. Deverá estar
também de total acordo e dando todo o apoio necessário.
As visitas aos campos de
estudo deverão ser sempre bem acertadas. Tudo deve ser muito prévio. Entrevistas
com pessoas mais velhas serão um bom instrumento para que os alunos busquem
maiores informações sobre aspectos da História e cultura local. Deverão ser
confrontados os dados obtidos com as entrevistas e as informações que serão
repassadas pelo professor. Trata-se de um ótimo meio de se conseguir corrigir erros.
Este projeto não abrange
períodos delimitados. Se tiver de ser assim, seu período será o do ano letivo.
A questão da conscientização e valorização cultural é algo permanente. Não se
desenvolve como projetos que abrangem datas e acontecimentos específicos. É
algo constante.
Anteriormente as visitas
deverão ser feitas discussões em sala de aula sobre os locais e fatos
históricos a serem apresentados. A programação das visitas aos sítios deverá
provocar certa excitação nos jovens, e o professor deverá saber aproveitar bem
isto. Poderão ser pedidos trabalhos nas semanas anteriores. Acredito que de
duas a três semanas antes das visitas poderão ser organizados e discutidos os
trabalhos.
O ideal é que estes
trabalhos sejam voltados para a cultura e História local com base em pesquisas
e entrevistas, e não apenas pesquisas em livros ou internet. Desta forma os
alunos conseguirão interagir de forma mais ampla com possíveis aspectos do
cotidiano local que desconhecem.
Cronograma:
Para os bimestres:
As duas primeiras semanas de aulas deverão ser
sobre os temas. Deve se escolher um dos períodos históricos brasileiros, neste
caso os períodos colonial, imperial e republicano. Como o ano é dividido em
quatro bimestres, um dos períodos brasileiros deverá ser dividido em dois. Como
foi citado anteriormente quatro sítios ou locais de acontecimentos históricos
já está resolvido o problema. Um para cada bimestre. E o desenvolvimento deverá
ser basicamente o mesmo nos bimestres seguintes.
A terceira e quarta
semanas darão ênfase a busca das informações de variadas formas como as
pesquisas em bibliotecas e entrevistas.
A quinta e sexta semanas
deverão estar voltadas para a análise e apresentação do que foi levantado pelas
pesquisas.
A sétima semana deverá ser
a semana de visitação de um dos lugares históricos estudados.
A oitava e nona semana
ficará voltada para a discussão em sala de aula do que foi aprendido.
As conclusões deverão ser
expostas ao restante da escola, não apenas através de cartazes, mas
possivelmente através de um vídeo, ou de vários vídeos que deverão ser postados
em uma página da internet em que todo o corpo escolar possa ter acesso. Isto
deverá não apenas empolgar os alunos, mas desenvolver um espírito de
consciência de preservação de sua cultura e da cultura de sua localidade.
A última semana ficará a
cargo da avaliação que não deverá ser de forma alguma em formatos tradicionais,
já que cada aluno aprende de uma maneira, e é isto que deve ser avaliado.
Desdobramentos:
Os
desdobramentos esperados são o do entusiasmo com um passado tão rico e tão
próximo que a maioria daqueles jovens não esperava. A ideia é buscar um
encantamento com as descobertas históricas e culturais da região. Fazer com que
os alunos repassem isso para os que estiverem próximos dos mesmos. A
expectativa é a de um desenvolvimento de um sentimento de pertencimento e de
“proprietário” daquele passado e daquela cultura.
[1] BANKS, J.A. Multicultural education: historical development dimensions, and
practice. Review of research in education, n 19, p3-49, 1993b.
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